Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 18:44
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu diretamente ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o fim das sanções impostas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e à sua esposa, Viviane Barci de Moraes, durante a última conversa telefônica entre os dois, realizada no dia 2 de dezembro. A informação foi confirmada por duas fontes do Palácio do Planalto ouvidas pela reportagem.>
A retirada das sanções impostas pela Lei Global Magnitsky foi anunciada nesta sexta-feira (12/12). >
Segundo essas fontes, Lula afirmou a Trump que a retirada dessas sanções seria um gesto "fundamental" para destravar o processo de retomada das relações entre Brasil e Estados Unidos, que vinham sendo marcadas por tensões políticas e diplomáticas nos últimos meses.>
A avaliação no entorno do presidente brasileiro é de que o pedido foi feito de forma direta e explícita, como parte de uma estratégia mais ampla de reaproximação com Washington. A partir dessa conversa, ainda de acordo com interlocutores do Planalto, tanto Lula quanto Trump passaram a sinalizar publicamente que medidas concretas poderiam ser adotadas para reduzir o nível de atrito entre os dois países.>
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No caso de Lula, essas sinalizações ficaram evidentes em uma entrevista concedida a uma emissora de televisão durante uma viagem ao Nordeste no início da semana, na qual o presidente falou que "está perto de a gente ouvir uma notícia boa, além dessa notícia de tirar alguns produtos nossos da taxação que ele fez".>
Em novembro, Trump já havia assinado um decreto ampliando a lista de produtos isentos da tarifa extra de 40% adotada em julho sobre produtos agrícolas importados do Brasil, entre eles café, diversos cortes de carne bovina, açaí, tomate, manga, banana e cacau.>
Dentro do Palácio do Planalto, o clima é descrito como de otimismo. Assessores presidenciais afirmam que há a percepção de que, a cada nova conversa entre os dois presidentes, os Estados Unidos têm adotado gestos adicionais no sentido de uma reaproximação diplomática com o Brasil.>
Esse movimento é visto pelo governo brasileiro como um indicativo de que o diálogo direto entre os chefes de Estado tem produzido resultados práticos e pode abrir caminho para uma agenda mais ampla de cooperação entre os dois países, após um período de forte desgaste nas relações bilaterais.>
Na entrevista concedida em 9 de dezembro a TV Verdes Mares, do Ceará, Lula disse que tem se surpreendido com a boa comunicação com Trump. >
"Eu posso te dizer que toda vez que eu converso com o Trump, me surpreende. Porque muitas vezes você vê o Trump na televisão, muito nervoso, e de repente, na conversa pessoal, ele é outra pessoa. E eu fiz questão de dizer para ele.">
"Nós temos dois Trumps, nós temos o Trump da televisão e o Trump da conversa pessoal. E eu acho que vai ser uma relação boa. Pode estar certa, porque eu estou convencido que a química entre nós rolou de verdade".>
Na mesma entrevista, Lula também apontou o tema da segurança como uma agenda importante na relação bilateral.>
"Disse para ele que era importante que a gente discutisse a questão do crime organizado, porque é preciso combater o crime organizado. E nós temos gente importante que pratica crime aqui no Brasil, que mora em Miami. Eu mandei um documento para ele, dizendo o que nós queríamos que fosse feito.">
Nos últimos meses, os filhos do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), defenderam que o governo Trump declarem como terroristas organizações criminosas que atual no Brasil, como o Comando Vermelho e o PCC.>
Já o governo Lula tenta evitar tal medida, que poderia ocasionar retaliações a setores econômicos suspeitos de relação com o crime organizado no país.>
Eduardo Bolsonaro disse receber com "pesar" a decisão do governo Trump de retirar as sanções econômicas contra Moraes e sua esposa. O deputado se mudou para os EUA em fevereiro, para articular as retaliações da Casa Branca ao Brasil.>
"Nós recebemos com pesar as notícias da mais recente decisão anunciada pelo governo dos Estados Unidos", disse o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).>
"Nós somos gratos pelo apoio dado pelo presidente Trump demonstrado durante este processo e pela atenção que ele deu a esta séria crise de liberdade afetando o Brasil", disse ainda Eduardo em uma publicação em inglês assinada por ele e pelo empresário e comentarista político de direita Paulo Figueiredo.>
Os dois empreenderam uma campanha junto ao governo Trump para a aplicação das sanções contra Moraes e sua família desde o início deste ano e comemoram em entrevistas e redes sociais quando o governo americano anunciou as medidas em julho deste ano. Eles acusam o ministro de perseguir politicamente Jair Bolsonaro e outros políticos e militantes de direita.>
Sua atuação levou à denúncia de ambos pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao STF pelo crime de coação sob a acusação de que articulavam para impedir o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.>
A Primeira Turma do Supremo acatou a denúncia contra Eduardo no mês passado. Ele agora é réu em processo que corre no STF por uso de ameaça ou grave violência para o curso de processos criminais.>
O deputado e Figueiredo negam que o objetivo fosse impedir que Jair Bolsonaro fosse condenado e que denunciavam abusos de Moraes.>
Isso se refletiu na forma como, à época, o governo americano justificou as sanções contra o ministro do STF, acusando-o de ser "responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos judicialmente politizados — incluindo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro".>
Eduardo Bolsonaro vive nos Estados Unidos desde o início deste ano e diz que foi morar no país para fugir do que classifica como perseguição política.>
Em sua manifestação na rede social X sobre a retirada das sanções contra Moraes e sua mulher, o deputado critica a sociedade brasileira.>
"Lamentamos que a sociedade brasileira, apesar da janela de oportunidade que tinha em mãos, não tenha conseguido construir a unidade política necessária para enfrentar seus próprios problemas estruturais. A falta de coesão interna e o apoio insuficiente às iniciativas levadas adiante no exterior contribuíram para o agravamento da situação atual", afirmou.>
"Esperamos sinceramente que a decisão do presidente Donald Trump seja bem-sucedida na defesa dos interesses estratégicos do povo americano, como é seu dever. Quanto a nós, continuaremos a trabalhar com firmeza e determinação para encontrar um caminho que permita a libertação do nosso país, pelo tempo que for necessário e apesar das circunstâncias adversas.">
Publicada no site do Tesouro Americano, a decisão sobre a retirada das sanções representa mais uma desescalada nas tensões entre EUA e Brasil, após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).>
Em setembro, o ex-presidente foi condenado pelo STF a 27 anos e três meses de prisão por golpe de Estado e mais quatro crimes, pena que ele começou a cumprir em novembro. A Câmara dos Deputados, no entanto, aprovou um projeto de lei que pode beneficiar Bolsonaro e reduzir sua pena, caso passe também no Senado.>
Aprovada durante o governo de Barack Obama, em 2012, a Lei Magnitsky é uma das mais severas disponíveis para o governo norte-americano punir estrangeiros que considera autores de graves violações de direitos humanos e práticas de corrupção.>
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