Publicado em 3 de março de 2022 às 16:31
- Atualizado há 4 anos
Rússia e Ucrânia concordaram em estabelecer os chamados corredores humanitários em regiões sob fogo de Moscou na invasão que completou uma semana nesta quinta (3).>
O acerto, ainda sem detalhes claros, foi anunciado pelas delegações russa e ucranianas que se reuniram perto na Belarus, perto da fronteira com a Ucrânia, ao longo da tarde e início da noite (manhã e tarde em Brasília).>
Pouco antes do anúncio, o presidente Vladimir Putin havia dito em um pronunciamento em rede de TV que tais corredores já estavam garantidos pelos militares russos. Na fala, ele manteve a intenção de ir até o fim em sua guerra, que disse estar indo "de acordo com o plano" apesar dos aparentes problemas logísticos e resistência ucraniana.>
Corredores humanitários ou zonas de segurança implicam cessar-fogo, algo que, como foi visto na guerra da Bósnia nos anos 1990, é um instrumento bastante precário. Além disso, eles podem ser utilizados para desocupar áreas de civis potencialmente hostis aos invasores, sem garantias imediatas de que um dia voltarão para suas casas.>
>
Uma variante da tática foi vista na guerra civil síria, quando Putin interveio para salvar a ditadura aliada de Bashar al-Assad. Ali, os russos montaram um destrutivo cerco a Aleppo, considerado criminoso por muitos, para desentocar radicais islâmicos. Num dado momento, ofertaram corredores humanitários para que os remanescentes fossem embora.>
Isso facilita a eventual ocupação militar de territórios. Tomando um dos eixos do ataque russo, o sul ucraniano: o cerco que se forma a Mariupol, último bastião impedindo a ligação terrestre entre o Donbass (área ao leste dominada desde 2014 por rebeldes pró-Rússia) e a Crimeia (anexada por Putin em 2014), sugere um ataque potencialmente devastador à cidade.>
A retirada eventual dos civis de lá pode favorecer o plano presumido de Putin de remover a área da soberania ucraniana, por exemplo. Seria custoso e traria desgaste, mas melhor do que matar muita gente na cidade com quase 500 mil habitantes.>
Imagens da guerra na Ucrânia
Não se antevê algo assim em Kiev, a capital de 3 milhões de habitantes, embora lá o cerco esteja estacionado a cerca de 25 km da cidade. Como em Mariupol, os bombardeios são mais à distância, com as incursões de soldados dos primeiros dias da campanha militar tendo ficado para trás.>
Já deixaram a Ucrânia cerca de 1 milhão de seus 44 milhões de habitantes, para a Polônia e outros países vizinhos. >
Até a quarta (2), o governo em Kiev contava cerca de 2.000 civis mortos, sem revelar baixas militares. Os russos só falam de 498 soldados caídos.>
Seja como for, são cenários incipientes. As duas delegações concordaram em uma terceira rodada de negociações, em data a definir, o que já é melhor do que um rompimento total -ainda que ambos os lados possam querer ganhar tempo, por motivos diversos.>
Na segunda (28), a conversa entre eles não deu em nada. Havia uma expectativa vazada pelo Ministério das Relações Exteriores russo de que um cessar-fogo pudesse ser negociado, mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que as demandas russas de rendição eram inaceitáveis.>
Um dos negociadores ucranianos, David Arajamia, postou no Facebook antes da reunião exatamente a questão dos corredores humanitários.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta