Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 07:44
Em 2024, mais de 18 mil idosos com demência deixaram suas casas e desapareceram no Japão. Quase 500 foram encontrados mortos. Segundo a polícia, o número de casos dobrou desde 2012.>
Pessoas com 65 anos ou mais respondem hoje por quase 30% da população japonesa (do total de quase 124 milhões) — a segunda maior proporção do mundo, atrás de Mônaco, segundo o Banco Mundial. A crise se aprofunda com a queda da força de trabalho e as restrições à entrada de estrangeiros para atuar nos cuidados.>
O governo japonês trata a demência como uma de suas prioridades. O Ministério da Saúde estima que os gastos de saúde e assistência social ligados à condição chegarão a 14 trilhões de ienes (cerca de R$ 490 bilhões) até 2030, acima dos 9 trilhões de ienes (cerca de R$ 315 bilhões) previstos para 2025.>
A estratégia mais recente do governo aponta para maior aposta em tecnologia para aliviar a pressão sobre o sistema.>
>
Pelo país, multiplicam-se sistemas baseados em GPS para rastrear pessoas que se perdem.>
Algumas regiões distribuem dispositivos vestíveis que alertam as autoridades assim que alguém ultrapassa uma área delimitada.>
Em algumas cidades, os funcionários de lojas de conveniência recebem alertas em tempo real, criando uma rede comunitária de proteção que permite encontrar desaparecidos em poucas horas.>
Outras tecnologias buscam detectar a demência mais cedo.>
O aiGait, da empresa japonesa Fujitsu, usa inteligência artificial para analisar a postura e os padrões de marcha, identificando sinais precoces de demência, como arrastar os pés ao caminhar, giros mais lentos ou dificuldade em manter-se em pé. O sistema gera esboços esqueléticos que os médicos podem analisar durante exames de rotina.>
"A detecção precoce de doenças relacionadas à idade é fundamental", diz Hidenori Fujiwara, porta-voz da Fujitsu. "Se os médicos puderem usar dados de captura de movimento, poderão intervir mais cedo e ajudar as pessoas a se manterem ativas por mais tempo.">
Enquanto isso, pesquisadores da Universidade Waseda (Japão) desenvolvem o AIREC, um robô humanoide de 150 kg projetado para ser um cuidador "do futuro". Ele pode ajudar a calçar as meias, mexer os ovos e dobrar as roupas. Os cientistas esperam que, no futuro, o AIREC possa trocar fraldas geriátricas e prevenir escaras — lesão na pele causada por pressão contínua em pessoas acamadas ou com mobilidade reduzida.>
Robôs semelhantes já são usados em casas de repouso para tocar músicas para os residentes ou orientá-los em exercícios de alongamentos simples.>
Eles também monitoram os pacientes à noite — instalados sob os colchões para acompanhar o sono e as condições de saúde — e reduzir a necessidade de rondas humanas.>
Embora robôs humanoides estejam previstos para o futuro próximo, o professor assistente Tamon Miyake afirma que o nível de precisão e inteligência necessário para interagir com segurança com pessoas ainda exige ao menos cinco anos de desenvolvimento.>
"É preciso captação completa do corpo e compreensão adaptativa — e como saber se ajustar para cada pessoa e situação", diz.>
A inovação também avança no apoio emocional.>
O Poketomo, um robô de 12 cm, pode ser transportado em uma bolsa ou caber no bolso. Ele lembra os usuários a hora do medicamento, dá instruções sobre o clima em tempo real e conversa com pessoas que vivem sozinhas, o que, segundo seus criadores, ajuda a reduzir o isolamento social.>
"Estamos focados em questões sociais... e em usar novas tecnologias para ajudar a resolver esses problemas", afirma Miho Kagei, gerente de desenvolvimento da Sharp, à BBC.>
Apesar do avanço dos dispositivos, o vínculo humano continua insubstituível. "Os robôs devem complementar, e não substituir, os cuidadores humanos", diz Miyake. "Embora possam assumir algumas tarefas, seu papel principal é auxiliar tanto os cuidadores quanto os pacientes.">
No restaurante Restaurant of Mistaken Orders, em Sengawa, Tóquio, os clientes chegam para ser atendidos por pessoas com demência. O espaço foi fundado por Akiko Kanna.>
Inspirada pela experiência do seu pai com a doença, Kanna queria criar um lugar onde as pessoas pudessem se manter ativas e ter propósito.>
Toshio Morita, um dos atendentes do café, usa flores para lembrar quais mesas fizeram cada pedido.>
Apesar do declínio cognitivo, ele aprecia a interação. Para a esposa, o café oferece alívio e ajuda a manter Morita engajado.>
O café de Kanna mostra por que intervenções sociais e apoio comunitário continuam essenciais. A tecnologia pode fornecer ferramentas e aliviar a rotina, mas é o engajamento significativo e a conexão humana que sustentam, de fato, quem vive com demência.>
"Honestamente? Eu queria um dinheirinho extra. Gosto de conhecer pessoas diferentes", diz Morita. "Cada um é diferente e é isso que torna divertido.">
Reportagem adicional de Jaltson Akkanath Chummar>
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta