Publicado em 18 de outubro de 2025 às 09:32
Gabriela Cibils tem uma missão: ajudar a transformar o Paraguai no Vale do Silício da América do Sul. >
Quando ela cresceu no país de 7 milhões de habitantes, localizado entre o Brasil e a Argentina, "não havia muito foco em tecnologia".>
Mas foi diferente para Cibils, já que seus pais trabalhavam no setor.>
Isso a inspirou a estudar nos Estados Unidos, onde ela se formou em computação e neurociência na Universidade da Califórnia, em Berkeley. >
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Depois da graduação, passou oito anos trabalhando no Vale do Silício, perto de San Francisco, com cargos em diferentes startups americanas. >
Mas, em vez de permanecer definitivamente nos EUA, há poucos anos ela decidiu voltar para o Paraguai.>
Hoje, ela está à frente dos esforços para construir um grande e bem-sucedido setor de tecnologia que coloque o país no mapa do mundo — e atraia algumas das gigantes empresas globais da área. >
"Eu vi de perto o impacto que a tecnologia pode ter na vida das pessoas", diz. >
"Depois de ter sido exposta a um mundo tão diferente [no Vale do Silício], sinto que é minha responsabilidade trazer essa mentalidade de volta e juntá-la com os talentos que eu vejo no Paraguai.">
Atualmente, Gabriela Sibils é sócia da firma de investimentos e tecnologia global Cibersons, cuja sede fica em Assunção, capital do Paraguai. >
Embora a maioria dos países deseje construir um setor de tecnologia de nível mundial, o Paraguai tem uma vantagem a esse respeito: abundância de eletricidade barata e verde. >
Isso se deve ao fato de que 100% da geração de energia do país agora vem de fontes hidrelétricas e é centralizado na gigantesca Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Rio Paraná, que faz parte da fronteira entre o Paraguai e o Brasil.>
Essa enorme usina hidrelétrica, a maior do mundo fora da China, abastece 90% da demanda elétrica do Paraguai e 10% da demanda do Brasil. >
De fato, o excedente de eletricidade no Paraguai é tão grande que seus preços são os mais baixos da América do Sul.>
E o país é o maior exportador mundial de energia limpa. >
O governo do Paraguai espera que a abundância de energia verde e barata do país atraia empresas globais de tecnologia, cada vez mais preocupadas com as demandas de energia de sistemas de inteligência artificial.>
"Se você quer instalar qualquer tipo de investimento tecnológico, como data centers de IA, tenha em mente que a energia hidrelétrica é renovável e estável", diz o empreendedor paraguaio de desenvolvimento de software Sebastian Ortiz-Chamorro. >
"Comparado com outras fontes de energia renováveis, como a eólica ou solar, que têm suas oscilações, a hidrelétrica é muito mais atraente para criar data centers ou qualquer outra atividade eletrointensiva que exiga uma fonte constante de eletricidade.">
Ele acrescenta que, com a Itaipu, e a outra grande usina hidrelétrica estatal do Paraguai, a Barragem de Yacyretá, as empresas privadas podem facilmente construir suas próprias instalações. >
Em visita à Califórnia no ano passado, o presidente do Paraguai, Santiago Peña, conversou com empresas como Google e OpenAI para incentivá-las a investir no Paraguai. >
Ainda não se sabe se as gigantes do setor abrirão grandes operações no país. >
O ministro de Tecnologia e Comunicação, Gustavo Villate, está trabalhando de perto com o presidente nesses esforços contínuos.>
"Temos a população mais jovem, muita energia verde renovável, baixos impostos e estabilidade econômica", diz, com orgulho. >
Acompanho o ministo em uma visita guida ao novo parque digital, planejado perto do aeroporto principal de Assunção.>
Atualmente, o local é composto por campos verdes e alguns quartéis do exército.>
Villate desenrola as plantas do projeto para mostrar os lagos, um centro infantil e outros edifícios que, segundo ele, devem ficar prontos em menos de dois anos. >
"O governo vai investir cerca de US$ 20 milhões (R$ 109 milhões, na conversão atual) na primeira fase, mas a ideia é que empresas privadas financiem o restante", disse.>
Embora o parque não esteja pronto, Villate afirma que a colaboração já existente entre o setor público, privado e universitário é fundamental para construir um ecossistema capaz de atrair investidores estrangeiros. >
O governo acredita que a população jovem será um importante atrativo, capaz de fornecer uma ampla força de trabalho tecnológica. A idade média no Paraguai é de 27 anos. >
Para isso, mais jovens precisarão ser capacitados.>
O ministro da Tecnologia diz que o novo parque digital também abrigará a Universidade de Tecnologia, uma parceria entre Taiwan e o Paraguai. >
Enquanto isso, há outras iniciativas voltadas à formação dos jovens no país.>
"Estamos trabalhando duro para criar uma massa de engenheiros de software, programadores e todos os profissionais necessários para oferecer serviços de software", afirma Vanessa Cañete, presidente do Sindicado Paraguaio da Indústrica de Software. >
Ela diz ser apaixonada por incentivar mais mulheres a estudar engenharia da computação. >
Em 2017, ela fundou a Girls Code, uma associação sem fins lucrativos que busca reduzir a desigualdade de gênero no setor da tecnologia. >
A organização promove oficinas de programação e robótica para adolescentes e mulheres jovens, e mais de mil delas já receberam algum tipo de treinamento até hoje. >
Cañete acrescenta que desenvolvedores de software também recebem aulas de inglês por até quatro anos, com o objetivo de melhorar a comunicação com empresas estrangeiras. >
As pessoas que encontrei estão otimistas quanto ao potencial do Paraguai em oferecer tecnologia, mas também são pragmáticas. >
Cibils observa que ainda há alguns obstáculos para os investidores estrangeiros, como questões de burocracia e dificuldades em adaptar contratos locais aos padrões internacionais. >
Mas ela é categórica ao afirmar que "se o país colocar a inovação no centro e aproveitar todos os seus benefícios, o Paraguai pode se tornar uma potência". >
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