Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 17:44
O pai da menina desaparecida Madeleine McCann pede maior fiscalização da imprensa britânica, depois de sua família ter sofrido tratamento "monstruoso" por setores da imprensa, segundo declarou à BBC.>
Ele afirma que a imprensa "interferiu repetidamente com a investigação" do desaparecimento de sua filha, em 2007. E acredita que que isso tenha dificultado as buscas.>
Em uma rara entrevista, Gerry McCann contou ao programa Today, da BBC Rádio 4, que deseja a retomada da segunda fase do chamado Inquérito de Lorde Leveson, que foi cancelada. Ela teria examinado ações ilegais da imprensa e as relações entre jornalistas, políticos e a polícia.>
O príncipe Harry, duque de Sussex, veio a público apoiar o pai de Madeleine. Ele declarou que "defende firmemente todos os prejudicados por intromissões ilegais e antiéticas da imprensa".>
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Madeleine McCann desapareceu aos três anos de idade, durante um período de férias da família em Portugal. Ela nunca foi encontrada.>
O príncipe expressou em declaração seu "total apoio à implementação das recomendações do Inquérito Leveson como reformas essenciais para proteger o público, defendendo ao mesmo tempo o jornalismo livre, justo e responsável".>
McCann declarou à BBC que, nos meses que se seguiram ao desaparecimento da filha, sua família teve "jornalistas indo até a casa e fotógrafos batendo literalmente suas câmeras contra a janela do nosso carro, com os gêmeos de dois anos de idade apavorados no banco de trás".>
"Tivemos sorte de sobreviver", contou ele. "Recebemos imenso apoio, mas posso dizer que houve momentos em que me senti como se estivesse afundando. E era, principalmente, por causa da imprensa.">
"Foi o que aconteceu e a forma como tudo estava sendo retratado, com você sendo sufocado e enterrado", relembra ele. "Parecia que não havia como sair daquilo.">
McCann destaca que, mais de um ano depois da chegada dos trabalhistas ao poder no Reino Unido, "a regulamentação da imprensa deixou de ser prioridade".>
Ele e sua esposa Kate fazem parte de um grupo de mais de 30 pessoas que assinaram uma carta que foi enviada ao primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, pedindo que ele reverta a decisão tomada pelo governo conservador anterior, em 2018, de não prosseguir com a segunda fase do Inquérito Leveson.>
Entre os signatários, estão as famílias das vítimas do desastre de 1989 em Hillsborough, a maior tragédia da história do futebol inglês, e a mãe da apresentadora de TV Caroline Flack, encontrada morta no seu apartamento aos 40 anos de idade, em fevereiro de 2020.>
A BBC teve acesso à carta, que pede uma reunião com o primeiro-ministro britânico.>
"Entendemos que você reservou tempo recentemente para se reunir com o presidente da News Corp., Lachlan Murdoch", segundo a carta.>
"Esperamos que, agora, você se reúna com alguns dos cidadãos britânicos cujas vidas foram viradas do avesso pelas práticas ilegais e abusos associados à sua empresa.">
O escritório do primeiro-ministro britânico confirmou na quarta-feira (10/12) o recebimento da carta.>
McCann declarou à BBC que "é bastante óbvio que os barões da imprensa podem se reunir com o primeiro-ministro, mas as pessoas que sofreram nas mãos deles não conseguem".>
A filial britânica da News Corp., News UK, não quis comentar o assunto.>
A secretária britânica da Cultura, Lisa Nandy, declarou ao programa de TV BBC Breakfast que o governo "descartou" a segunda fase do inquérito. Para ela, o cenário da imprensa, agora, é "muito diferente" e a maioria das pessoas consome suas notícias online.>
Mas ela acrescentou: "De fato, reconheço que é preciso tomar medidas" e afirmou que se reuniria com McCann.>
A primeira parte do Inquérito Leveson ocorreu entre 2011 e 2012, após o escândalo de escutas telefônicas ilegais do tabloide britânico News of the World (1843-2011).>
Suas descobertas foram publicadas em 2012 e levaram à criação do órgão regulador da imprensa Ipso, financiado pelo setor.>
McCann declarou à BBC acreditar que a segunda fase do inquérito, "com quase total certeza", não aconteceu porque os políticos britânicos teriam medo da imprensa.>
Ele afirmou que, às vésperas das eleições gerais britânicas do ano passado, políticos trabalhistas se comprometeram a implementar as recomendações apresentadas na primeira parte do Inquérito Leveson. McCann ficou "extremamente decepcionado" por isso não ter acontecido.>
"Este governo já tem mais de um ano e não houve nenhuma mudança", lamenta ele. "Para mim, não é aceitável que, agora, mais de um ano depois, Leveson e a regulamentação da imprensa não sejam mais prioridade.">
Um porta-voz do Departamento de Meios Digitais, Cultura, Meios de Comunicação e Esporte do Reino Unido (DCMS, na sigla em inglês) declarou à BBC que "reconhece que, para as vítimas e suas famílias, os incidentes de assédio e intromissão da imprensa causam sofrimentos significativos".>
"A secretária da Cultura se reuniu com indivíduos e famílias que sofreram este tipo de intromissão no passado e o governo está comprometido a garantir que essas falhas nunca mais se repitam", afirma o porta-voz.>
McCann destacou que ele e a esposa se sentiram "advogados do diabo" quando trabalharam com o jornal The Sun em 2011, para fazer com que a investigação sobre o desaparecimento de Madeleine fosse analisada. Isso ilustra a influência do jornal.>
"Uma carta foi publicada na primeira página do The Sun e o então primeiro-ministro David Cameron ordenou a revisão", ele conta.>
"É o poder que eles tinham. Por isso, colocamos a moral de lado para trabalhar com eles e conseguir o que queríamos.">
Ao criticar a cobertura da imprensa sobre a investigação, McCann declarou que eles "publicaram material que deveria ter sido mantido em confidencialidade, deveria ser passado para a polícia, declarações de testemunhas, muitas outras coisas que saíram.">
"Por isso, se você fosse o perpetrador, teria ficado sabendo muito mais do que deveria. E, como vítima, como pai, é absolutamente decepcionante.">
McCann prestou declaração como testemunha ao Inquérito Leveson, em seu próprio nome e de sua esposa, em novembro de 2011.>
Ele descreveu na ocasião que os órgãos de imprensa "inventaram histórias" sobre eles e publicaram uma "série prolongada, imprecisa e maliciosa de manchetes em diversos jornais, que deram a impressão de que, de alguma forma, fomos responsáveis ou envolvidos no desaparecimento de Madeleine".>
Ele também afirmou que, na época do desaparecimento de sua filha, o extinto jornal News of the World publicou transcrições completas do diário pessoal de Kate McCann.>
A polícia portuguesa havia confiscado este diário, como parte da sua investigação sobre o desaparecimento de Madeleine. O casal "não sabe ao certo como o News of the World obteve uma cópia", segundo os registros do inquérito.>
Na sua entrevista ao programa Today, McCann declarou que "Madeleine está desaparecida há 18 anos e a questão é que ainda não sabemos o que aconteceu com ela". Ele destacou que "não há nenhuma evidência".>
"Não estou nem querendo dizer evidências 'convincentes'. Não há nenhuma evidência que diga que ela está morta", prossegue o pai. "Agora, entendemos completamente que ela pode estar morta e que pode até ser provável, mas não sabemos ao certo.">
Um porta-voz do organismo regulador Ipso declarou à BBC que pode intervir diretamente em casos de assédio da imprensa.>
"Incentivamos qualquer pessoa preocupada com o comportamento da imprensa a entrar em contato conosco, em busca de auxílio", declarou o órgão.>
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