Publicado em 9 de abril de 2025 às 14:39
Uma bebê "milagrosa" fez história ao se tornar a primeira criança a nascer de um útero transplantado no Reino Unido.>
A mãe da menina, Grace Davidson, de 36 anos, nasceu sem um útero funcional, e foi submetida a um transplante em 2023, graças à doação do órgão da irmã — no que foi, na época, o primeiro transplante de útero bem-sucedido no país.>
Dois anos depois, em fevereiro deste ano, Grace deu à luz sua primeira filha — Amy, que recebeu este nome em homenagem à tia.>
Para ela, segurar a filha — que pesava pouco mais de dois quilos — nos braços pela primeira vez, foi uma experiência "incrível" e "surreal".>
>
"Foi muito emocionante porque nunca havíamos nos permitido imaginar como seria se ela estivesse aqui", diz a mãe.>
"Foi realmente maravilhoso.">
Tanto Grace quanto o marido, Angus, de 37 anos, esperam ter um segundo filho com o útero transplantado.>
Inicialmente, o casal desejava manter o anonimato, mas após o nascimento bem-sucedido de Amy, decidiu compartilhar com a BBC a história do seu "pequeno milagre".>
A equipe cirúrgica informou à reportagem que realizou outros três transplantes de útero a partir de doadoras falecidas desde o transplante de Grace. Eles pretendem realizar um total de 15 como parte de um ensaio clínico.>
O primeiro bebê gerado em um útero transplantado nasceu em 2014 na Suécia, e o primeiro da América Latina nasceu no Brasil em 2018.>
Desde então, foram realizados cerca de 135 transplantes deste tipo em mais de dez países, incluindo Estados Unidos, China, França, Alemanha, Índia e Turquia — e cerca de 65 bebês nasceram a partir deste procedimento.>
Grace nasceu com uma condição rara, conhecida como síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser (MRKH), em que o útero é inexistente ou não se desenvolve completamente, mas os ovários funcionam. >
Em 2018, quando Grace conversou com a BBC pela primeira vez, ela contou que esperava que sua mãe pudesse doar o útero para que ela pudesse ter filhos. Mas acabou se mostrando incompatível. >
Em 2019, a BBC voltou a conversar com Grace, quando uma de suas duas irmãs, Amy Purdie, estava sendo avaliada para descobrir se poderia doar o útero para ela. Ela já tinha dois filhos com o marido, e eles não queriam ter mais.>
Antes do transplante, as duas irmãs fizeram terapia. Grace e Angus também foram submetidos a um tratamento de fertilidade, e ainda têm vários embriões congelados. >
Grace diz que considerou outras opções, como barriga de aluguel e adoção, mas para ela era importante engravidar. >
"Sempre tive um instinto maternal", ela afirma. "Mas reprimi durante anos porque era muito doloroso falar sobre isso.">
Embora o transplante de útero estivesse programado para ser realizado em 2019, a cirurgia foi adiada por vários anos devido a várias questões — incluindo a pandemia de covid-19.>
Finalmente, o transplante foi realizado em fevereiro de 2023. Levou cerca de 17 horas, e contou com uma equipe de mais de 30 médicos.>
Isabel Quiroga, a cirurgiã que liderou a equipe de transplante no Churchill Hospital em Oxford, no Reino Unido, diz que, embora fosse um procedimento de risco, foi uma operação de "geração e promoção da vida — e não há nada melhor do que isso".>
Amy afirma que não sentiu a sensação de perda que algumas mulheres vivenciam após uma histerectomia, devido aos benefícios "enormes" e imediatos para a irmã. >
Grace teve sua primeira menstruação duas semanas após o transplante — e engravidou na primeira tentativa de fertilização in vitro.>
Foi "incrível" sentir o primeiro chute da bebê, diz ela, acrescentando que toda a gestação foi "muito especial".>
Amy nasceu de cesariana em 27 de fevereiro de 2025 no Queen Charlotte's Hospital, em Londres.>
"Foi um momento incrível, cheio de alegria", diz a cirurgiã Isabel Quiroga.>
Como o casal espera ter mais um filho, o útero doado será removido após o nascimento do segundo bebê. Isso vai permitir que Grace deixe de tomar os medicamentos imunossupressores que precisa tomar diariamente para garantir que seu corpo não rejeite o útero doado pela irmã.>
Tomar esses medicamentos pode aumentar o risco de desenvolver certos tipos de câncer, por isso é recomendado que o útero doado seja removido uma vez que a concepção aconteça.>
Richard Smith, cirurgião ginecológico do Imperial College Healthcare, que liderou a equipe de coleta de órgãos, pesquisa o transplante de útero há mais de duas décadas.>
Ele diz que sua equipe está entusiasmada com o nascimento da pequena Amy — que oferece esperança a muitas das 15 mil mulheres em idade fértil no Reino Unido que não têm um útero funcional, das quais cerca de 5 mil nasceram sem útero.>
"Não costumo ser um cara de poucas palavras, mas quando a bebê nasceu, fiquei sem palavras — houve muitas lágrimas no centro cirúrgico naquele dia", diz ele.>
"Tudo isso é impressionante e incrivelmente comovente.">
Smith dirige uma instituição beneficente chamada Womb Transplant UK, que financiou os gastos do NHS, o sistema público de saúde britânico, para a operação de transplante de Grace. Toda a equipe médica dedicou seu tempo sem cobrar honorários.>
Smith disse à BBC que cerca de 10 mulheres têm embriões armazenados ou estão se submetendo a tratamento de fertilidade, um requisito para serem consideradas para o transplante de útero. >
Cada transplante custa cerca de 30 mil libras (aproximadamente R$ 227 mil), segundo ele, e a instituição beneficente tem fundos suficientes para realizar mais dois.>
A equipe cirúrgica tem permissão para realizar 15 transplantes de útero como parte de um ensaio clínico, cinco com doadoras vivas, e 10 com doadoras falecidas. >
Nenhum detalhe foi divulgado sobre as três mulheres que receberam até agora úteros de doadoras falecidas. >
O Serviço Nacional de Doação de Sangue e Transplante explicou à BBC que é necessário o consentimento adicional das famílias para doações raras deste tipo.>
Angus, pai da bebê Amy, diz que ele e Grace nunca vão poder agradecer o suficiente à irmã da esposa por permitir que eles se tornassem pais. >
Segundo ele, foi uma "decisão natural" chamar a filha de Amy, em homenagem à tia.>
O segundo nome da menina é Isabel, em homenagem à cirurgiã que liderou a equipe de transplante de útero.>
Grace afirma que a filha a aproximou ainda mais da irmã.>
"Foi incrivelmente difícil deixar que ela fizesse isso por mim", diz ela.>
"Foi um grande ato de amor fraternal.">
"O útero que ela me doou me permitiu o milagre de ter um bebê.">
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta