Publicado em 9 de setembro de 2023 às 11:13
Esta reportagem foi atualizada às 8h15 de 9 de setembro de 2023>
Um forte terremoto atingiu o centro do Marrocos na noite desta sexta-feira (8/9), segundo o Ministério do Interior do país.>
O terremoto — de magnitude 6,8 — foi seguido de um tremor secundário, de magnitude 4,9, sentido 19 minutos depois.>
O Marrocos fica perto da fronteira entre a Placa Africana e a Placa Eurasiática, a falha Açores-Gibraltar. >
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A maior parte dos terremotos no país está relacionada com o movimento na borda da placa, mas o maior risco sísmico se concentra no norte, segundo um estudo publicado em janeiro de 2012.>
Segundo os pesquisadores Taj-Eddine Cherkaoui e Ahmed El Hassani, "a atividade sísmica no Marrocos não é tão importante como noutras áreas do mundo, como o Japão, a Califórnia, a Grécia, a Turquia, etc. No entanto, o histórico de sismicidade no Marrocos não é negligenciável e produziu alguns sismos históricos e instrumentais com magnitudes locais superiores a 6", afirmam eles. >
Cherkaoui e El Hassani citam como exemplos o terremoto de Agadir em 1960, por exemplo, destruiu esta cidade com várias aldeias e causou 12 mil mortes. >
"Posteriormente, ocorreram outros terremotos notáveis: em Al Hoceima, em 2004, no norte de Marrocos, causando 629 mortes".>
Mas o que é uma falha e por que ela está associada a terremotos?>
Segundo Jessica Hawthorne, professora do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Oxford, "tão rápido quanto unhas crescendo — é nessa velocidade que as placas se mexem', disse à BBC em fevereiro.>
Ela faz alusão às cerca de 15 grandes lajes de rocha conhecidas como placas tectônicas que, juntas, compõem a camada mais externa da Terra.>
Hawthorne estuda a mecânica dos terremotos e explicou a relação deles com as falhas.>
"Uma falha é um lugar onde duas placas passam uma pela outra. Você tem um bloco sólido de um lado e um bloco sólido do outro, e eles estão passando um pelo outro", disse a sismóloga.>
Embora elas se movam muito lentamente uma em relação à outra (apenas alguns centímetros por ano), um movimento brusco ou deslizamento pode liberar grandes quantidades de energia, fraturando a rocha e provocando um terremoto.>
Isso acontece relativamente perto da superfície, porque a rocha mais quente mais próxima do núcleo da Terra é viscosa e se deforma como um fluido, explica Hawthorne.>
"Para um terremoto, você precisa de um lugar onde haja falha por atrito, e isso significa que as coisas precisam ser frágeis o suficiente para quebrar rapidamente.">
Os terremotos acontecem principalmente nas fronteiras das placas tectônicas (embora haja exceções no interior dos continentes). >
Mais de 80% dos principais terremotos acontecem nas placas abaixo do Oceano Pacífico, em uma área chamada de Anel de Fogo, onde a placa do Pacífico está sendo empurrada para baixo das placas ao seu redor.>
Embora os terremotos criem novas falhas, na maioria dos casos a falha já existe, de acordo com Hawthorne.>
O deslizamento ocorre sobre uma falha pré-existente e pode ser classificado em três tipos básicos: falha normal, falha inversa e falha transcorrente.>
Este tipo de falha acontece quando dois blocos passam um pelo outro horizontalmente.>
As falhas transcorrentes são geralmente verticais, às vezes estendendo-se de 15 a 20 quilômetros de profundidade.>
Um exemplo é a Falha da Anatólia Oriental, de 700 quilômetros de extensão que fica ao longo da fronteira entre as placas da Anatólia e da Arábia, na Turquia.>
Os terremotos de magnitude 7,5 e 7,8 que atingiram a Turquia e a Síria em fevereiro de 2023 — dois dos terremotos mais fortes em quase um século — ocorreram nesta região, em uma falha transcorrente.>
O terremoto e os tremores secundários ocorreram em uma profundidade rasa (apenas alguns quilômetros abaixo da superfície da Terra), o que ajuda a demonstrar suas consequências devastadoras: foram cerca de 60 mil mortes.>
Outro exemplo é o sistema de falhas de San Andreas, na Califórnia (EUA), formado por várias falhas que acomodam o movimento entre a placa do Pacífico no oeste e a placa norte-americana no leste.>
Em relação ao resto do continente, o oeste da Califórnia está se deslocando rumo ao Alasca, diz Hawthorne, pois essas duas placas deslizam horizontalmente uma sobre a outra, resultando em terremotos.>
O sistema de falhas de San Andreas é uma zona complexa de rocha esmagada e quebrada, abrangendo 1.200 quilômetros de comprimento e pelo menos 25 quilômetros de profundidade.>
O terremoto da Califórnia em 18 de abril de 1906 teve epicentro no ponto mais ao norte da falha de San Andreas, de acordo com o US Geological Survey, arrasando San Francisco. >
Até hoje, é considerado "um dos terremotos mais significativos de todos os tempos".>
Falhas normais são fraturas onde os blocos se separam (divergem) e um dos blocos cai verticalmente.>
Na região de Afar, na Etiópia, três partes separadas da crosta terrestre se encontram. O ponto é conhecido como Triângulo de Afar.>
A placa da Somália está se afastando do resto do continente — o que formou um vale.>
Enquanto isso, as placas africana e somali também estão se separando da placa árabe no norte, formando um sistema de fendas em forma de Y.>
O movimento gera tensão na rocha, produzindo rachaduras, falhas, vulcões e outras deformações do terreno.>
Em 2005, uma série de fissuras apareceu ao longo da depressão — com terremotos e nuvens de cinzas — e abriu um abismo de oito metros de largura e 60 quilômetros de extensão.>
As placas tectônicas da América do Norte e da Eurásia estão lentamente se afastando uma da outra, e uma falha conhecida como Cordilheira Mesoatlântica foi criada na borda da placa divergente.>
A cordilheira se estende de norte a sul por milhares de quilômetros no meio dos oceanos Atlântico Norte e Sul.>
À medida que as placas se afastam, o magma derretido de baixo da superfície da Terra brota continuamente, formando novas rochas, que são empurradas para fora por material mais novo.>
Isso criou uma cordilheira na maior parte subaquática que surge em lugares como ilhas — Islândia, Açores ou Ilha de Ascensão, por exemplo.>
Também cria falhas na superfície, terremotos e uma enorme quantidade de atividade vulcânica.>
Falhas inversas ou de empurrão acontecem quando os blocos se juntam e um deles é empurrado para cima.>
Elas geralmente são as maiores falhas porque "tendem a cortar a Terra em ângulo, o que cria uma região mais ampla onde pode ocorrer deformação frágil", afirma Hawthorne.>
A zona de falha da Trincheira do Japão é uma trincheira submarina profunda que corre de norte a sul, a leste das ilhas japonesas, separando a placa da Eurásia da placa do Pacífico.>
O devastador terremoto Tohoku-Oki de magnitude 9,1 que atingiu a costa do Japão em março de 2011 foi consequência de 50 metros de deslocamento ao longo da falha.>
Esta ruptura de uma seção ao longo da trincheira do Japão causou enormes danos e mortes, ao provocar um tsunami que devastou o litoral do país e levou a um colapso nuclear na usina de Fukushima. Foi um "desastre triplo": terremoto, tsunami e acidente nuclear.>
Também conhecido como sistema de falhas do Atacama, ele está localizado no leste do Oceano Pacífico, a cerca de 160 quilômetros do litoral do Peru e do Chile, entre as placas tectônicas de Nazca e da América do Sul.>
A crosta oceânica da placa de Nazca está em movimento abaixo da crosta continental da placa sul-americana, causando muita atividade sísmica.>
Em 22 de maio de 1960, um grande terremoto de magnitude 9,5 ocorreu perto da cidade de Valdívia, no sul do Chile — acredita-se ter sido o maior terremoto já medido.>
Os cientistas estimaram que a energia liberada no tremor foi 20 mil vezes maior que a da bomba que caiu sobre Hiroshima na Segunda Guerra Mundial.>
No entanto, quem mora perto de uma falha não tem, necessariamente, que estar em constante alerta.>
Hawthorne diz que nem todas as falhas têm terremotos.>
"Muitos segmentos de falha não têm terremotos ou têm apenas pequenos tremores", afirma ela.>
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