Publicado em 6 de novembro de 2025 às 10:27
Lideranças mundiais vão se reunir em breve em Belém, no Pará, para a Conferência anual das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP).>
Esta é a primeira vez que uma cidade brasileira sedia o evento. >
A COP30 acontece 10 anos depois da assinatura do Acordo de Paris, no qual os países se comprometeram a tentar conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.>
Contudo, o secretário-geral das ONU, António Guterres, já afirmou que "ultrapassar" a meta de 1,5°C, hoje, é inevitável. >
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É esperada a presença de chefes de Estado de diferentes países que, juntos, vão discutir soluções para enfrentar às mudanças climáticas. >
No entanto, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está entre os líderes que não deve comparecer ao encontro. >
A COP30 é o 30° encontro anual da ONU sobre mudanças climáticas.>
O evento é o principal espaço de negociação e decisão sobre o clima no mundo e reúne representantes de diversos países, diplomatas, especialistas e ativistas.>
Nesse encontro são definidas metas, tratados e mecanismos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e enfrentar os impactos da crise climática.>
COP significa "Conferências das Partes". As "Partes" são os quase 200 países que assinaram o acordo climático original da ONU em 1992.>
A COP teve sua origem na Conferência Rio-92, onde foi firmada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.>
Esse tratado internacional estabeleceu o compromisso de diversos países em controlar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, servindo como fundamento institucional para a criação das COPs.>
A primeira COP foi realizada em Berlim, na Alemanha, em 1995. >
Este ano, a conferência acontece entre os dias 10 e 21 de novembro. Mas as lideranças mundiais vão se reunir antes da abertura, na Cúpula dos Líderes, marcada para quinta (06/11) e sexta-feira (07/11).>
A reunião frequentemente se estende além do previsto devido a negociações de última hora para garantir um acordo. >
O país anfitrião é escolhido pelos países participantes, mas precisa de uma indicação da região ao qual faz parte. >
A movimentação para que a conferência fosse realizada no Brasil começou em 2022, durante a COP27 no Egito.>
Em discurso na conferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu para sediar o evento, destacando a importância da Amazônia para o mundo. >
"Acho muito importante que as pessoas que defendem a Amazônia e que defendem o clima conheçam de perto o que é aquela região", disse na época. >
Em janeiro de 2023, o Itamaraty formalizou a candidatura de Belém junto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e Brasil conseguiu apoio unânime dos países latino-americanos para indicação.>
A escolha de Belém foi feita em consenso durante sessão plenária da COP 28, realizada em Dubai, em dezembro de 2023. >
Após o anúnico, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima e chefe da delegação brasileira, Marina Silva, destacou a responsabilidade de sediar a COP em uma cidade amazônica.>
"A Amazônia nos mostra o caminho, com sua imensa biodiversidade e enorme território ameaçado pelas mudanças climáticas. Ela nos lembra o quanto as três Convenções do Rio estão entrelaçadas nos seus desafios, mas também nas soluções sinérgicas que abarcam. Realizar a COP 30 no seio da floresta é nos lembrarmos, com força, da responsabilidade de manter o planeta dentro da nossa missão de 1,5°C", afirmou na época.>
Belém é a primeira cidade na Amazônia — a maior floresta do mundo — a sediar a Conferência sobre o Clima da ONU. >
A escolha de Belém trouxe desafios significativos.>
A cidade tinha metade dos leitos necessários para hospedagem quando foi anunciada para sediar o evento. >
Em 2023, como parte do esforço de ampliar os leitos em Belém, o governo do Pará determinou isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) a empreendimentos de hospedagem que quisessem comprar mobiliário novo.>
Isso levou várias hospedagens, incluindo motéis, a adaptar suas instalações para receber participantes do evento. >
Além disso, o governo brasileiro contratou dois navios de cruzeiro para fornecer leitos extras para delegados. >
Apesar disso, algumas delegações têm encontrado dificuldades para reservar hospedagem a preços acessíveis, o que gerou preocupações de que países mais pobres possam ser excluídos do evento devido aos preços altos. >
Anúncios de suítes custando R$ 6,5 mil a diária e de apartamentos anunciados por quase R$ 1 milhão para 11 noites viralizaram e causaram até uma crise internacional para a organização da COP.>
Representantes de 25 países chegaram a assinar uma carta na qual sugeriam que o evento fosse realizado em outra cidade, caso os preços não se adequassem. Já a ONU chegou a pedir ao Brasil para subsidiar hospedagens de países mais pobres.>
No meio da crise, o governo brasileiro abriu a plataforma oficial de busca de quartos para oferecer hospedagens a preços mais baixos e tentou negociar com a rede hoteleira em Belém. Mas os valores continuaram sendo criticados pelos estrangeiros.>
Só agora, a poucos dias da COP, os valores estão caindo.>
Mas não foram só os preços dos hotéis que aumentaram. O açaí, base da alimentação dos moradores no Pará, também encareceu e isso tem impactado o consumo das famílias e de milhares de trabalhadores envolvidos na cadeia produtiva. >
Só nos quatro primeiros meses do ano, o preço do açaí tipo grosso, o mais apreciado, vendido ao consumidor em Belém aumentou 56%, segundo levantamento do Dieese-Pará: começou o ano em R$ 35,67 por litro e, no último mês, era vendido a R$ 52,10.>
Além das mudanças climáticas que estão afetando o cultivo do alimento, a demanda local enfrenta concorrência da demanda global, já que o açaí virou um "superalimento" vendido em vários países do mundo. >
Com isso, o alimento, que é como um arroz e feijão dos paraenses, tem ficado de fora do cardápio de muitas famílias. >
A política ambiental do governo brasileiro também virou alvo de críticas. >
Um editorial publicado por cientistas na revista científica Science, afirmou que "com exceção do Ministério de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, virtualmente todos os setores do governo promovem atividades que aumentam as emissões de gases do efeito estufa".>
A decisão de desmatar a Amazônia para construir uma rodovia no meio da floresta, e facilitar o tráfego para a capital paraense durante a COP30, foi vista como controversa. >
A estrada corta dezenas de milhares de hectares de floresta protegida. O governo estadual promoveu o projeto como "sustentável", mas moradores e ambientalistas pontuam o impacto ambiental. >
O subsídio oferecido pelo Ministério da Agricultura para "transformar pastagens em plantações de soja" é outro elemento criticado como incentivador do desmatamento.>
O Brasil também continua a conceder novas licenças para exploração de petróleo e gás que, junto com o carvão, são combustíveis fósseis — a principal causa do aquecimento global. >
O presidente Lula autorizou o emprego das Forças Armadas em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) durante a realização da COP30 em Belém. >
O uso das Forças Armadas está autorizado até 23 de novembro de 2025 e atende a um pedido do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB). >
As operações de Garantia da Lei e da Ordem ocorrem quando os recursos das forças de segurança pública não são mais capazes de oferecer segurança, em situações graves de perturbação da ordem, ou em grandes eventos, como é o caso da COP.>
Esse mesmo procedimento foi adotado em encontros recentes que reuniram lideranças internacionais, como a Cúpula do G20, em novembro do ano passado, e da reunião do BRICS, em julho deste ano, ambas ocorridas no Rio de Janeiro.>
Em operações como essas, militares agem dentro de uma área delimitada e por um tempo determinado.>
Além de Belém, a medida prevê ações nos municípios de Altamira (a 822 km de Belém) e Tucuruí (a 446 km da capital), voltadas à proteção das chamadas "infraestruturas críticas": usinas hidrelétricas, portos, aeroportos, estações de tratamento de água e vias de acesso.>
Segundo o Ministério da Defesa, apesar do emprego das Forças Armadas, a GLO é uma operação do tipo de "não guerra", por não envolver combate direto.>
Representantes de vários países ao redor do mundo são esperados no encontro. >
Segundo o Itaramaty, 143 delegações e 57 chefes de Estado e de governo confirmaram presença na Cúpula de Líderes.>
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, estará na conferência, assim como o príncipe William, representando o rei Charles. >
O presidente da França, Emmanuel Macron, também está entre os nomes confirmados, assim como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. >
Mas muitos líderes mundiais ainda não confirmaram presença e alguns não são esperados, como é o caso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. >
Logo após sua posse, em janeiro de 2025, Trump prometeu se retirar do Acordo de Paris, que sustenta o compromisso internacional de enfrentamento às mudanças climáticas. >
A ausência de representantes do governo dos Estados Unidos pode ser um obstáculo para as negociações climáticas internacionais.>
O presidente da Argentina, Javier Milei, também não irá ao evento. >
A China, o maior emissor de gases que causam o aquecimento global, deve enviar uma delegação, mas o presidente Xi Jinping provavelmente não comparecerá. Políticos serão acompanhados por diplomatas, jornalistas e ativistas. >
Cúpulas anteriores foram criticadas pelo grande número de participantes ligados às indústrias de carvão, petróleo e gás. >
Ativistas argumentam que isso demonstra a influência contínua dos defensores dos combustíveis fósseis. >
O presidente Lula chegou em Belém no sábado (1/11) para participar de eventos na capital do Pará, como inauguração de obras. Lula vai ficar fora de Brasília de 1 a 10 de novembro. >
Nesta quarta-feira (5/11), o presidente brasileiro deve realizar reuniões bilaterais com chefes de Estado que já chegaram ao país, antes de abrir oficialmente a conferência. >
Esses encontros vão se estender nos dias 6 e 7, quando acontece a Cúpula dos Líderes. >
O Itamaraty ainda não divulgou com quem Lula se reunirá, mas são esperadas reuniões com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, além de Emmanuel Macron, presidente da França.>
A plenária de abertura, na quinta-feira, será conduzida pelo presidente Lula, que também presidirá três sessões temáticas. >
Estão previstas sessões sobre Transição Energética e os 10 anos do Acordo de Paris, que abordarão as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e o financiamento climático. >
Além de Belém, Lula viaja a Fernando de Noronha no sábado (08/11), onde participa do lançamento de um novo projeto de energia renovável no arquipélago>
O presidente retorna à Belém na segunda-feira (10) para participar da abertura oficial da COP.>
A COP30 acontece em um momento crucial, com metas climáticas globais sob pressão. >
Em Paris, em 2015, cerca de 200 países concordaram em tentar a tentar limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis do período "pré-industrial" e mantê-lo "bem abaixo" de 2°C.>
Há evidências científicas consolidadas de que os impactos das mudanças climáticas — desde ondas extremas de calor até a elevação do nível do mar — seriam muito maiores a 2°C do que a 1,5°C. >
Mas, embora o uso de energia renovável, especialmente a energia solar, esteja crescendo rapidamente, os planos climáticos dos países ficaram aquém do que é necessário para atingir a meta de 1,5°C.>
Antes da COP30, os países deveriam ter apresentado planos atualizados e detalhados de como eles vão reduzir suas emissões de gases que aquecem o planeta. >
Contudo, apenas um terço dos países fez isso. >
Considerando que o limite está próximo, o secretário-geral da ONU afirmou que ultrapassar 1,5°C é inevitável. Mas ele espera que as temperaturas ainda possam voltar a esse nível até o final do século. >
A ONU espera que a COP30 demonstre comprometimento maior com o processo estabelecido em Paris. >
O Brasil espera chegar a um acordo sobre medidas para cumprir os compromissos assumidos em COPs anteriores. >
Além dos novos planos dos países de redução de carbono, vários temas podem entrar em discussão. >
Na COP28, em 2023, os países concordaram, pela primeira vez, sobre a necessidade de "fazer a transição para londe dos combustíveis fósseis nos sistemas de energia". >
Mas isso não foi reforçado na COP29, em 2024, como muitos esperavam. >
Na COP29, os países mais ricos se cimprometeram a dar aos países em desenvolvimento pelo menos US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão, na cotação atual) por ano até 2035 para ajudá-los a enfrentar as mudanças climáticas. >
Mas isso é muito menos do que os países mais pobres dizem precisar. >
Esse acordo também incluía a aspiração de aumentar o valor para US$ 1,3 trilhão (R$ 7 trilhões) por meio de fontes públicas e privadas. >
Contudo, poucos detalhes concretos foram divulgados sobre como isso será alcançado.>
Na COP28, os países concordaram em triplicar a capacidade global de energias renováveis, como a eólica e a solar, até 2030. >
Embora seja previsto um crescimento rápido das energias renováveis, a Agência Internacional de Energia diz que o mundo não está no caminho certo para atingir essa meta. >
Uma possível novidade é o lançamento do "Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), proposta encabeçada pelo Brasil que pretende remunerar países pela conservação das florestas tropicais. >
O fundo visa evitar a perda das florestas. >
Um avanço importante para difícil este ano, principalmente pela influência da administração de Donald Trump.>
Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em setembro, o presidente americano classificou as mudanças climáticas como "a maior farsa já perpetrada contra o mundo" e atacou falsamente as inúmeras evidências científicas sobre o aumento das temperaturas. >
Ele também prometeu ampliar a exploração de petróleo e gás e reverter iniciativas ambientais adotadas por seus antecessores. >
Tem sido difícil chegar a um consenso em outras negociações ambientais que aconteceram em 2025, como a tentativa de firmar o primeiro tratado global sobre plásticos, que fracassou pela segunda vez em agosto. >
Em outubro, um acordo histórico para reduzir as emissões globais do setor de transporte marítimo foi adiado após pressão dos EUA e outros países. >
Alguns observadores, como a ativista Greta Thunberg, acusaram COPs anteriores de greenwashing, permitindo que países e empresas promovam sua imagem ambiental sem realmente fazer as mudanças necessárias. >
Mas acordos globais significativos já foram alcançados nas COPs, permitindo um progresso maior do que medidas isoladas de países. >
Apesar das dificuldades para cumprir o limite de aquecimento de 1,5°C, esse compromisso tem impulsionado uma "ação climática quase universal", de acordo com a ONU.>
Isso ajudou a reduzir o nível de aquecimento global projetado, embora o mundo ainda não esteja agindo com a rapidez necessária para atingir as metas do Acordo de Paris. >
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