Publicado em 18 de julho de 2025 às 14:25
A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de restringir a circulação do ex-presidente Bolsonaro com uso de tornozeleira eletrônica e proibição de aproximação de embaixadas foi considerada bem fundamentada por dois criminalistas ouvidos pela BBC News Brasil.>
Na visão dos professores Davi Tangerino (UERJ) e Aury Lopes (PUC-RS), juristas que já criticaram decisões passadas do ministro, as medidas adotadas agora tentam evitar que Bolsonaro busque asilo na embaixada americana em Brasília, o que dificultaria o andamento do processo contra ele e intensificaria a crise entre Brasil e Estados Unidos.>
Tangerino, porém, critica a proibição de que o ex-presidente fale com seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, embora reconheça que a prática de impedir que investigados falem entre si seja comum na Justiça Brasileira.>
Moraes proibiu ainda Bolsonaro de usar as redes sociais e de sair de casa à noite e nos fins de semana, e determinou uma busca em sua casa, local em que foram apreendidos US$ 14 mil em dinheiro vivo.>
>
Em entrevista à imprensa, o ex-presidente disse ver motivação política na investigação que procovou a nova operação da PF. "Nunca pensei em sair do Brasil ou buscar refúgio em embaixada", declarou.>
A decisão foi submetida ao plenário virtual da Primeira Turma, formada também pelos ministros Flavio Dino, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux. O grupo manteve a determinação de Moraes. >
As medidas foram adotadas após pedido da Polícia Federal, referendado pela Procuradoria-Geral da República. >
O ministro considerou, em sua decisão, que Bolsonaro e seu filho articularam com o governo de Donald Trump ações contra o Brasil e autoridades do país com objetivo de interferir ilegalmente no processo que o ex-presidente enfrenta na STF, acusado de liderar um golpe de Estado.>
Em 9 de julho, Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos, citando como justificativa uma suposta perseguição que seu aliado Bolsonaro estaria sofrendo no país. >
Após isso, Eduardo Bolsonaro disse publicamente que a ação de Trump respondeu a suas articulações em defesa do pai.>
O deputado licenciado se mudou em fevereiro para os Estados Unidos, onde tem mantido reuniões com integrantes do governo americano e aliados de Trump, em busca de ações contra a Justiça brasileira, como sanções diretas a Moraes.>
Depois disso, o STF abriu um inquérito contra Eduardo para investigá-lo por crime de obstrução de Justiça. Posteriormente, Jair Bolsonaro também foi incluído no inquérito. >
Um dos elementos citados contra o ex-presidente foi o fato de ele ter enviado R$ 2 milhões ao filho para custeá-lo nos EUA. O dinheiro foi arrecadado entre apoiadores via Pix no passado.>
A decisão menciona diversas manifestações do ex-presidente e seu filho nas redes sociais agradecendo o apoio de Trump e condicionando o fim das sanções americanas ao Brasil à aprovação de uma anistia para Bolsonaro e outros acusados de terem tentado um golpe de Estado contra a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.>
Para o doutor em Direito Processual Penal e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) Aury Lopes Jr, seria "absurdo" o STF mudar sua atuação em processos e investigações contra Bolsonaro por interferência americana.>
Ele ressalta que os três Poderes estabelecidos na Constituição brasileira são independentes, não sendo possível ao governo Lula negociar a retirada de sanções comerciais em troca de um alívio para o ex-presidente no processo que corre no Supremo.>
Na sua visão, Moraes fundamentou adequadamente sua decisão nas evidências de que Bolsonaro e seu filho tentaram "tumultuar" o andamento de investigações e do processo criminal contra o ex-presidente.>
"A gente pode concordar ou não com a decisão, mas fundamentação tem", afirmou.>
"O ministro decidiu a partir de um pedido da polícia, com o aval do PGR (procurador geral da República). Então, não foi algo de ofício, que partiu dele. E ele está levando ao plenário virtual, para chancela da Primeira Turma, onde vai dividir a responsabilidade com os demais ministros", continuou.>
Segundo Lopes Jr, a decisão de Moraes tenta interromper a tentativa de interferência no Poder Judiciário e impedir que Bolsonaro fuja do país ou busque asilo na embaixada dos EUA, ou de outro país.>
"Se ele recebesse asilo na embaixada dos EUA, daria um problema gigantesco, muito sério".>
O professor de Direito Penal da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Davi Tangerino tem leitura semelhante.>
Para ele, a decisão de Moraes não se trata de uma retaliação à pressão tarifária americana, mas é uma reação no sentido de tentar evitar que Bolsonaro fuja para os EUA.>
"Essa decisão tem uma conexão direta com essa ofensiva do Trump. Se os Estados Unidos encasquetarem de botar o Bolsonaro num avião, fica muito mais difícil para o Brasil resistir a uma decisão dessa natureza também. Moraes parece querer evitar algo assim", disse.>
Os dois juristas não consideraram abusiva a proibição de uso das redes sociais por Jair Bolsonaro, já que a decisão mostra que esse meio tem sido usado para pressionar o Judiciário.>
Já a proibição de Bolsonaro falar com seu filho Eduardo causou "estranheza" entre os entrevistados.>
Lopes Jr pondera, no entanto, que o deputado licenciado está atuando como porta-voz de Bolsonaro nos EUA. E, na medida em que essa atuação busca uma interferência em um processo criminal, seria fundamentada a proibição.>
Tangerino, por sua vez, considera abusiva a proibição de investigados se falarem, porque, na sua visão, fere o direito à defesa. Mas ele ressalta que essa é uma decisão comum na Justiça brasileira.>
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta