Publicado em 8 de dezembro de 2025 às 06:44
A glicose é o combustível mais importante em nosso corpo.>
É dela que extraímos a energia necessária para o nosso movimento, nosso pensamento e para os batimentos cardíacos. Ela é fundamental para as nossas funções vitais.>
Mas, se esse nível de glicose (ou açúcar) no sangue não for adequado, podem ocorrer sérios problemas de saúde.>
O diabetes é uma doença metabólica crônica, caracterizada pelos altos níveis de glicose no sangue. Com o tempo, ele causa danos graves ao coração, aos vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos.>
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O tipo mais comum é o diabetes tipo 2, geralmente presente em adultos. Ele ocorre quando o corpo se torna resistente à insulina ou não produz insulina em quantidade suficiente.>
Produzida pelo pâncreas, a insulina é responsável por controlar o nível de glicose no sangue.>
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estima que 62 milhões de pessoas, em todo o continente americano, vivam com diabetes tipo 2.>
Esse número triplicou na região desde 1980 e estima-se que atingirá 109 milhões em 2040, segundo o Atlas do Diabetes.>
A incidência da doença aumentou com mais rapidez nos países de renda média e baixa que nos países de alta renda.>
Quais alimentos devemos consumir - ou não - para ajudar a manter regulado o nível de açúcar no sangue?>
Para saber a resposta, a BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, conversou com Clara Eugenia Pérez Gualdrón, vice-presidente da Associação Latino-Americana do Diabetes (ALAD) e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional da Colômbia.>
Confira abaixo as orientações da especialista.>
BBC News Mundo: Por que é preciso manter os níveis de açúcar no sangue sempre regulados?>
Clara Eugenia Pérez Gualdrón: Alguém pode pensar que, se você comer açúcar, a glicose no sangue aumenta. Mas não é assim. Nós temos um desregulador hormonal enzimático complexo que faz com que a glicose se mantenha em níveis ideais 24 horas por dia.>
Mas é importante mantê-la regulada. Ou seja, fazer com que não suba muito, nem caia em excesso. Este é o problema que costumam ter os pacientes com diabetes.>
Se alguém tiver glicose muito alta por longos períodos, ela produz substâncias tóxicas no corpo que, com o tempo, prejudicam o organismo. Por exemplo, os pequenos e grandes vasos sanguíneos.>
Um paciente com diabetes e hiperglicemia crônica pode chegar a perder, por exemplo, a função dos olhos e dos rins. Ele poderia até sofrer amputações. São as complicações crônicas do diabetes.>
E o nível muito baixo de açúcar no sangue pode levar à morte do paciente em questão de segundos. Por isso, não é bom ter a glicose muito alta, nem muito baixa.>
No diabetes, temos os limites que definem os níveis saudáveis de glicose. Sabe-se, por exemplo, que - em jejum por um período de seis a oito horas - devemos ter a glicose em cerca de 100 miligramas por decilitro ou menos. E, depois de comer, ela não deve superar 140. Se ultrapassar essas marcas, existe algum problema.>
BBC: Existem alimentos que ajudam a regular o nível de açúcar no sangue?>
Pérez Gualdrón: Existe um padrão de alimentação saudável. Alguns alimentos ajudam a glicose a permanecer regulada e outros, ao contrário, evitam que ela se regule.>
O padrão de alimentação saudável inclui três componentes fundamentais:>
1. Consumir frutas e verduras;>
2. Eliminar os alimentos concentrados com açúcar;>
3. Reduzir os alimentos que contêm muita gordura saturada e substituí-los pelos que contêm gorduras monoinsaturadas.>
Alimentos que podemos consumir e regulam muito bem a glicose são os alimentos ricos em fibras, como o farelo de trigo. E é preciso também consumir muitos líquidos.>
O roteiro é este.>
BBC: Quais são essas frutas e verduras e quanto deveríamos comer?>
Pérez Gualdrón: Coma quantos legumes e verduras puder. Nós nunca abusamos das verduras e legumes.>
Mas das frutas, sim, nós abusamos. Especialmente na América Latina, pois a região é rica em árvores frutíferas.>
É preciso comer as frutas em porções. A recomendação ao paciente é a fórmula 3 para 2: três porções de verdura e duas porções de frutas por dia. Ou o contrário: três de frutas e duas de verdura.>
Geralmente, na forma estabelecida da nossa alimentação na América Latina, incluímos frutas no café da manhã. No meio da manhã, comemos frutas. E, no meio da tarde, voltamos a comer frutas. Já as verduras são destinadas ao almoço e ao jantar.>
O segredo é comer verduras de três cores diferentes em cada porção, porque assim estamos oferecendo ao corpo um complexo de vitaminas, sais minerais ou microelementos contidos nesses alimentos.>
As pessoas, às vezes, são monotemáticas e começam a comer banana, banana e banana. É a fruta preferida dos latino-americanos. Mas a banana justamente tem uma quantidade de açúcar maior do que as outras frutas.>
A maior parte das frutas tem 10% de glicose. Ou seja, em 100 gramas de fruta, há 10% de glicose. E há outras que têm 20%, como a banana, enquanto outras têm 5%, como a tangerina.>
Se alguém comer quatro tangerinas, é como se comesse uma banana, em proporção de açúcar.>
BBC: Quais são os alimentos que concentram muito açúcar?>
Pérez Gualdrón: Em muitos lugares, toma-se café com leite de manhã e acrescenta-se açúcar. É preciso eliminar esse açúcar que adicionamos.>
Quando o paciente diz "ah, mas o café é muito amargo!", recomendo um substituto: o adoçante.>
Esse adoçante pode ser calórico ou não calórico. Usar um adoçante calórico faz com que a glicose aumente. Por isso, recomenda-se um adoçante não calórico.>
Mas exames demonstram que os adoçantes não calóricos prejudicam a flora gastrointestinal. E isso tem três consequências importantes para o corpo.>
A flora intestinal serve para garantir a imunidade do corpo, regular o peso corporal e favorecer a produção de neurotransmissores associados à felicidade, para que as pessoas se sintam bem.>
Como digo aos meus alunos, muitos permanecem gordos, tristes e com gripe. Por quê? Porque não têm bactérias, elas são eliminadas com o adoçante não calórico.>
Muitos refrigerantes são adoçados com adoçantes não calóricos, que destroem nossa flora gastrointestinal. E também é alto o consumo de líquidos açucarados, como sucos.>
Existe um exemplo clássico para esta questão: o que é mais doce, um morango ou uma batata? Todos respondem que é o morango.>
Mas qual dos dois tem mais açúcar? 100 gramas de morango têm 5% de açúcar e 100 gramas de batata, ou uma batata grande, têm 20% de açúcar.>
Se você fizer um suco, o açúcar do morango fica solúvel e pode ser absorvido com mais rapidez, de forma que é melhor comer o morango inteiro. Por outro lado, a batata cozida inteira levará algum tempo para ser digerida. Por isso, o açúcar do sangue não irá subir tão rapidamente.>
E existe o que chamo de higiene nos hábitos de alimentação. Isso significa comer acompanhado, na hora certa, sentado e com a quantidade de mastigação necessária. Se eu mastigar batata, sinais de saciedade chegarão ao cérebro em 15 minutos.>
BBC: E quais são as gorduras saturadas?>
Pérez Gualdrón: É preciso reduzir as gorduras saturadas e aumentar as monoinsaturadas. Para isso, é preciso usar azeite de oliva.>
Nos países do Cone Sul, o azeite de oliva é muito consumido, mas não em outras regiões da América Latina.>
Em vez de consumir azeite de oliva, as pessoas usam o tecido celular subcutâneo do porco ou do frango. Ou seja, elas derretem a pele dos animais.>
A banha animal é gordura saturada. Toda gordura que é sólida à temperatura ambiente tem alto teor de ácidos graxos saturados. E, em alta concentração no nosso sangue, ela faz com que a insulina não funcione adequadamente.>
Se a insulina não funcionar bem, o nível de açúcar no sangue automaticamente aumenta.>
Por outro lado, cerca de 20 mililitros de azeite de oliva por dia representam um consumo ideal de gordura. Ela faz com que a sua vida funcione melhor e, portanto, o nível de glicose é reduzido>
BBC: O que um diabético deveria comer e não comer?>
Pérez Gualdrón: Ele deveria comer mais frutas, legumes e verduras e menos alimentos concentrados de açúcar, evitar líquidos açucarados e consumir gordura positiva, como a do azeite de oliva. Essa gordura também se encontra nos frutos secos e nos peixes de águas marinhas frias e profundas.>
Mas, além da alimentação, é fundamental caminhar, caminhar e caminhar.>
Se você fizer exercício, andar de bicicleta ou patins e nadar, você está muito bem. Mas caminhe pelo menos 7 mil passos por dia.>
É preciso abandonar as horas de ficar sentado. O que mata as pessoas é a cadeira. É um inimigo silencioso.>
Se você passar oito horas do dia sentado, comece a reduzir pela metade ou à terça parte. Você pode começar a trabalhar em pé ou caminhando, e começar a mover-se. É algo possível de se implementar.>
Todo esse plano nutricional complexo precisa ser acompanhado de atividade física e fará com que você se sinta muitíssimo melhor.>
BBC: E a taça de vinho, é ruim para o nível de glicose no sangue?>
Pérez Gualdrón: Beber moderadamente traz consequências positivas para o sistema cardiovascular. Tomar uma taça de vinho por dia não causa danos. Ao contrário, faz bem.>
O vinho tem uma grande quantidade de substâncias benéficas para a saúde. O problema é que a maior parte dos latino-americanos não consome o vinho como no sul do continente, onde se bebe uma ou duas taças por dia durante as refeições.>
O ruim é o acúmulo. Por exemplo, se você tomar todas as taças de vinho da semana juntas no sábado. Neste caso, o recomendado é não beber álcool.>
Mas o vinho faz mal para o paciente com diabetes que tem dislipidemia do tipo hipertrigliceridemia. Isso porque o álcool no fígado favorece a construção de novos triglicérides que, eventualmente, podem prejudicar o paciente com diabetes.>
BBC: Existe algum outro fator que nos ajude a regular a glicose?>
Pérez Gualdrón: Outro ponto muito importante são as horas de sono. Às vezes, o sono alimenta mais do que a própria alimentação.>
Como fazer para melhorar a qualidade do sono? Praticando atividades físicas todos os dias.>
Se você seguir todas estas recomendações, logo verá que tudo sairá muito bem.>
*Esta matéria foi publicada originalmente em novembro de 2022>
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