Publicado em 22 de outubro de 2023 às 11:54
Você já se perguntou por que não existem mamíferos verdes?>
Afinal, seria muito conveniente para quem passa muito tempo escondido na vegetação poder se camuflar.>
Uma explicação é que é muito difícil ser verde.>
As plantas fazem isso usando a clorofila, mas na verdade não existem outros pigmentos verdes disponíveis na natureza.>
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Então, como os papagaios e sapos chegam a essa cor?>
Pois bem, eles superam a escassez de pigmentos verdes usando um que é mais abundante: o amarelo.>
Feito isso, "basta" misturar com o azul — mas aí mora um problema.>
Na verdade, a dificuldade em conseguir o verde reside em grande parte na falta da cor que costumamos enxergar no céu e no mar. >
Não existe um pigmento verdadeiramente azul na natureza, então tanto as plantas quanto os animais precisam realizar truques para parecerem azuis.>
E um desses truques é a coloração estrutural, um fenômeno surpreendente que ocorre quando a luz interage com estruturas microscópicas nas superfícies e nos mostra cores, apesar da ausência de pigmentos.>
No caso dos papagaios e dos sapos, essas microestruturas — nas penas ou na pele — apenas permitem refletir a luz azul que, quando combinada com o pigmento amarelo, faz com que pareçam verdes. >
Você notou que dissemos "parece"?>
Não devemos esquecer que “a cor é mais uma percepção do que uma propriedade física da luz”, conforme explica o médico oftalmologista David A. Mackey, membro do Conselho Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (NHMRC) da Austrália.>
Nossos olhos detectam apenas três cores: vermelho, verde e azul. Mas, com a combinação delas, podemos ver muitas mais. E a cor que vemos é a que o objeto reflete, depois de absorver todas as outras.>
Entretanto, no mundo biológico, a grande maioria das cores é produzida por pigmentos — compostos produzidos por um organismo vivo que absorvem seletivamente certos comprimentos de onda de luz.>
Na ausência de pigmentos, ocorre a magia da coloração estrutural, um jogo de luz que muitas vezes nos mostra cores deslumbrantes.>
É também uma forma de coloração mais durável porque, ao contrário das cores criadas pela pigmentação, que se degradam quando o organismo morre, as microestruturas sobrevivem até se desintegrarem.>
Para entender melhor a coloração estrutural, vamos focar no o azul, aquela cor tão difícil de obter na natureza.>
A razão pela qual ela ainda assim aparece é que a luz azul tem comprimentos de onda muito curtos — e, assim, é refletida mais facilmente do que outras cores com comprimentos de onda mais longos.>
Isso foi compreendido pela primeira vez em 1869 pelo cientista John Tyndall, que observou que pequenas partículas na atmosfera dispersavam preferencialmente a luz azul, resultando no familiar céu azul de um dia claro de verão.>
Pouco depois, John William Strutt demonstrou que as partículas de que Tyndall estava falando eram, na verdade, moléculas individuais de gás, especificamente nitrogênio e oxigênio.>
O mesmo acontece com as penas de pássaros como as araras-azuis.>
Se você olhar uma pena dessa arara em um microscópio poderoso, verá que a camada superficial de queratina parece leitosa devido à presença de pequenas cavidades de ar.>
Essas pequenas cavidades de ar agem como pequenas partículas da atmosfera, enquanto os grânulos escuros de melanina absorvem comprimentos de onda de luz mais longos, o que privilegia a cor azul.>
Se, em comparação, você olhar uma pena vermelha sob o mesmo microscópio, verá que a superfície é transparente, mas as estruturas subjacentes estão cheias de grânulos de pigmento vermelho.>
Um fenômeno físico semelhante, mas não idêntico, produz cores iridescentes, como aquelas que vemos quando há uma fina película de óleo na água ou nas penas dos beija-flores, cujas estruturas microscópicas refletem a luz solar com uma forma natural de nanotecnologia.>
A coloração estrutural foi observada pela primeira vez pelos cientistas ingleses Robert Hooke e Isaac Newton em pavões; o polímata Thomas Young explicou seu princípio um século depois e chamou-o de interferência de ondas.>
Young descreveu a iridescência como o resultado da interferência entre os reflexos de várias superfícies de camadas finas, combinada com a refração à medida que a luz entra e sai de tais camadas.>
A geometria mostra que a luz refletida aparece em cores diferentes em ângulos diferentes.>
Um caso exemplar é o do fruto da planta africana Pollia condensata, a matéria viva mais brilhante do mundo.>
Ela foi estudada por uma equipe de pesquisadores do Jardim Botânico de Kew e da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e do Museu Smithsonian de História Natural, nos Estados Unidos.>
Os cientistas ficaram inicialmente intrigados com uma propriedade incomum: os pequenos frutos metálicos conhecidos como bagas de mármore mantêm uma cor azul vibrante por anos ou mesmo décadas após serem colhidos.>
Ao examinar as bagas, eles perceberam que sob sua superfície lisa e refletiva havia múltiplas camadas de células especiais feitas de fibras de celulose, cada uma ligeiramente girada.>
Quando a luz atinge a camada superior, parte dela é refletida e o restante é filtrado.>
A luz refletida por cada camada é excepcionalmente brilhante e produz cores fortes num efeito conhecido como reflexão de Bragg.>
Os cientistas concluíram que o tecido do fruto tem uma cor mais intensa do que qualquer tecido biológico estudado anteriormente.>
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