Publicado em 10 de fevereiro de 2025 às 19:44
O núcleo interno da Terra pode ter mudado de forma nos últimos 20 anos, segundo um grupo de cientistas.>
Geralmente considerado esférico, as bordas do núcleo interno podem, na verdade, ter se deformado em até 100 metros ou mais de altura em algumas regiões, de acordo com o professor John Vidale, que liderou a pesquisa.>
O núcleo da Terra é o "coração pulsante" do nosso planeta, pois gera um campo magnético que protege a vida de ser destruída pela radiação solar.>
O núcleo interno gira de forma independente do núcleo externo líquido e do restante do planeta. >
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Sem esse movimento, a Terra "morreria" e se tornaria semelhante a Marte, que perdeu seu campo magnético há bilhões de anos.>
A mudança no formato pode estar ocorrendo onde a borda do núcleo interno sólido toca o núcleo externo metálico líquido e extremamente quente.>
A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Geoscience. Originalmente, os cientistas estavam tentando descobrir por que o núcleo interno pode ter desacelerado, ficando mais lento que a rotação da Terra, antes de acelerar novamente em 2010.>
Entender como o núcleo da Terra funciona é essencial para compreender o campo magnético que protege o planeta e se ele pode enfraquecer ou parar.>
O interior do nosso planeta é um lugar extremamente misterioso. O núcleo está a cerca de 6.400 quilômetros da superfície da Terra e, apesar de todos os esforços, os cientistas até agora não conseguiram alcançá-lo.>
Por isso, para tentar desvendar seus segredos, alguns pesquisadores medem as ondas de choque causadas por terremotos enquanto elas se propagam pelo planeta.>
A forma como as ondas se deslocam revela o tipo de material pelo qual elas passaram, inclusive no núcleo interno, e ajuda a criar uma imagem do que está sob nossos pés.>
A nova análise examinou padrões de ondas sísmicas de terremotos que se repetiram no mesmo local entre 1991 e 2023. Isso ajudou a mostrar como o núcleo interno está mudando ao longo do tempo.>
O professor Vidale, geólogo da Universidade do Sul da Califórnia, encontrou mais evidências para apoiar a teoria de que, no período observado, o núcleo interno desacelerou por volta de 2010.>
A equipe de pesquisadores também encontrou indícios de mudança de forma do núcleo interno.>
Isso estaria ocorrendo no limite entre o núcleo interno e o externo, onde o núcleo interno está próximo do ponto de fusão. >
O fluxo líquido do núcleo externo, assim como a atração de um campo gravitacional irregular, pode causar a deformação.>
O professor Hrvoje Tkalcic, da Universidade Nacional da Austrália, que não participou do estudo, disse que o artigo apresenta "um conceito interessante que deve ser explorado mais a fundo".>
Ele afirmou que isso pode permitir que os cientistas "façam estimativas mais precisas de algumas propriedades importantes dos materiais, como a viscosidade do núcleo interno, que é uma das grandezas menos conhecidas da ciência moderna".>
Com o tempo, o núcleo externo líquido está se solidificando no núcleo interno sólido, mas levará bilhões de anos até que ele se torne completamente sólido.>
Isso quase certamente significaria o fim da vida na Terra, mas, até lá, é provável que o planeta já tenha sido engolido pelo Sol.>
O trabalho de Vidale faz parte das investigações de especialistas ao redor do mundo que exploram e debatem o que acontece no núcleo.>
"Na ciência, geralmente tentamos observar as coisas até entendê-las", diz Vidale.>
"É muito provável que essa descoberta não afete nossa vida diária em nada, mas realmente queremos entender o que está acontecendo no centro da Terra", acrescenta.>
É possível que as mudanças estejam conectadas a alterações no campo magnético.>
"O campo magnético apresentou 'sacudidas' em vários momentos nas últimas décadas, e gostaríamos de saber se isso está relacionado ao que estamos observando no limite do núcleo interno", disse ele.>
Vidale pediu cautela para não transformar as descobertas em especulações de que o núcleo vai parar de girar tão cedo.>
Ele também acrescentou que ainda há muitas incertezas.>
"Não temos 100% de certeza de que estamos interpretando essas mudanças corretamente", disse, afirmando que os limites do conhecimento científico estão sempre mudando e que, como muitos (se não todos) os pesquisadores, ele já esteve errado no passado.>
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