Publicado em 14 de outubro de 2025 às 13:32
Uma unidade militar de elite em Madagascar afirmou nesta terça-feira (14/10) ter assumido o poder, destituindo o presidente Andry Rajoelina.>
O país na costa sudeste da África enfrenta semanas de protestos contra o governo de Rajoelina. Na manhã desta terça, parlamentares da Assembleia Nacional votaram por seu impeachment.>
O coronel Michael Randrianirina, chefe da unidade de elite CAPSAT, leu um comunicado na rádio nacional dizendo: "Assumimos o poder".>
A unidade militar foi criada para cuidar de serviços administrativos e técnicos das Forças Armadas, mas, ao longo dos anos, o grupo ganhou importância política e militar.>
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No final de semana, a CAPSAT desafiou a autoridade presidencial ao se aliar de forma inesperada aos manifestantes que exigiam a renúncia de Rajoelina.>
O paradeiro do presidente deposto é incerto — na noite de segunda-feira (13/10), ele fez uma transmissão ao vivo pelo Facebook, de um "local seguro".>
Após anunciar que sua unidade havia tomado o poder, o coronel Randrianirina afirmou que a CAPSAT criará um comitê com oficiais do Exército, da Gendarmaria e da Polícia Nacional.>
"Talvez, com o tempo, o comitê inclua também conselheiros civis de alto nível. É esse comitê que exercerá as funções da Presidência", disse Randrianirina, segundo a agência de notícias AFP.>
"Ao mesmo tempo, depois de alguns dias, formaremos um governo civil.">
Um general das Forças Armadas declarou que os serviços de segurança estão atuando em conjunto para manter a ordem.>
Na segunda-feira, o presidente havia emitido um decreto dissolvendo a Assembleia Nacional para impedir o avanço do processo de impeachment.>
A ordem de Rajoelina para dissolver a Assembleia Nacional ocorreu enquanto parlamentares se reuniam para votar sua destituição por "abandono de dever", segundo a AFP.>
Nesta terça, o Parlamento convocou uma sessão extraordinária para "constatar a ausência de poder em Madagascar", de acordo com a mesma agência.>
"Há um vazio de poder. A solução não é vingança, nem confusão, mas uma transição pacífica, inclusiva e responsável", disse o ex-presidente e líder da oposição Marc Ravalomanana, que perdeu o poder para Rajoelina após um golpe em 2009.>
O presidente deposto rejeitou a votação de impeachment, classificando a decisão como "nula e sem efeito".>
A União Africana declarou que os militares devem "abster-se de interferir" nos assuntos políticos de Madagascar e alertou que "rejeita totalmente qualquer tentativa de mudança inconstitucional de governo".>
Acompanhando os eventos "com profunda preocupação", o Conselho de Paz e Segurança da organização realizou uma reunião de emergência.>
Antes do anúncio dos militares, o presidente da França, Emmanuel Macron, classificou a situação em Madagascar como "extremamente preocupante", mas se recusou a comentar informações de que militares franceses teriam retirado o presidente da ilha no domingo.>
A França tem sido alvo de parte dos manifestantes, que levantaram faixas com os dizeres "Fora Rajoelina e Macron" nos protestos.>
Madagascar foi colônia francesa desde o final do século 19. A independência foi proclamada em 1960. >
Hoje, a França considera Madagascar um parceiro importante no Oceano Índico, com cooperação em defesa. >
Em abril, Macron fez uma visita de Estado a Madagascar — a primeira de um presidente francês em 20 anos — e assinou acordos de cooperação em vários setores.>
Andry Rajoelina é empresário e ex-DJ, com uma trajetória marcada por idas e vindas no comando de Madagascar desde 2009.>
Naquele ano, ele chegou ao poder ao depor o então presidente Marc Ravalomanana, em um golpe apoiado pelo Exército. >
Aos 34 anos, tornou-se o líder mais jovem da África, governando por quatro anos antes de retornar ao cargo após as eleições de 2018.>
Rajoelina administrava diversos negócios antes de ingressar na política. Em 2007, foi eleito prefeito de Antananarivo, capital do país.>
Sua popularidade cresceu rapidamente, impulsionada por seu estilo enérgico e campanhas sofisticadas.>
Reeleito em 2018 e novamente em 2023 — em eleições contestadas e boicotadas pela oposição —, Rajoelina viu sua imagem se desgastar diante de acusações de clientelismo e corrupção endêmica.>
Há pouco mais de duas semanas, um movimento liderado por jovens iniciou protestos contra os cortes crônicos de água e energia no país.>
As manifestações rapidamente escalaram, com queixas sobre o custo de vida e pedidos pela renúncia de Rajoelina.>
A tensão aumentou após a prisão, em 19 de setembro, de dois importantes políticos da capital, que planejavam uma manifestação pacífica em Antananarivo contra os apagões e a escassez de água.>
Os serviços, operados pela estatal Jirama, sofrem com longas interrupções diárias.>
No sábado (11/10), tropas da CAPSAT deixaram inesperadamente seus quartéis para se unir aos manifestantes.>
Dois dias depois, surgiram relatos de que Rajoelina teria sido evacuado por militares franceses e possivelmente levado a Dubai — sem confirmação oficial.>
A onda de protestos foi a maior que o país do Oceano Índico vivenciou em mais de 15 anos.>
Segundo a ONU, ao menos 22 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas durante os protestos. O governo malgaxe nega esses números, alegando que se baseiam em "rumores e desinformação".>
Muitos viram as prisões como uma tentativa de silenciar críticas legítimas, o que gerou indignação popular e levou à criação do movimento juvenil online Gen Z Mada, com apoio de grupos da sociedade civil.>
Madagascar é um dos países mais pobres do mundo: segundo o Banco Mundial, 75% da população vive abaixo da linha da pobreza.>
Apenas um terço dos 30 milhões de habitantes tem acesso à eletricidade, segundo o Fundo Monetário Internacional.>
"As condições de vida do povo estão se deteriorando a cada dia", disse um manifestante à AFP.>
*Com reportagem de Farouk Chothia, Natasha Booty, Omega Rakotomalala, Wedaeli Chibelushi e Wycliffe Muia, da BBC News.>
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