Publicado em 15 de dezembro de 2025 às 16:44
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse que a crescente pressão dos Estados Unidos sobre seu governo tem um objetivo: Washington quer se apoderar das vastas reservas de petróleo da Venezuela.>
Esta semana, militares americanos apreenderam um petroleiro que supostamente transportava petróleo da Venezuela em violação das sanções americanas, e ameaçaram tomar medidas contra outros navios. >
A ação aconteceu após uma série de ataques militares a embarcações venezuelanas, que os EUA alegam ser navios do narcotráfico. >
O presidente americano, Donald Trump, pediu a renúncia de Maduro o acusando de enviar drogas e assassinos para os EUA. >
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Então, é realmente o petróleo da Venezuela que Trump quer? E valeria a pena?>
De fato, a Venezuela tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, com cerca de 303 bilhões de barris. >
Mas a quantidade de petróleo que o país realmente produz hoje é pequena em comparação. >
A produção caiu drasticametne desde o início dos anos 2000, quando o ex-presidente Hugo Chavez e depois Maduro aumentaram o controle sobre a estatal petrolífera PDVSA, levando a uma fuga de funcionários mais experientes. >
Embora algumas empresas petrolíferas ocidentais, incluindo a norte-americana Chevron, ainda atuem no país, suas operações diminuíram significativamente, uma vez que os Estados Unidos ampliaram as sanções e visaram as exportações de petróleo, com o objetivo de limitar o acesso de Maduro a uma importante fonte de renda. >
As sanções — que so EUA impuseram pela primeira vez em 2015, durante o governo de Barack Obama, devido a supostas violações de direitos humanos na Venezuela — também deixaram o país amplamente isolado dos investimentos e das peças de que necessita. >
"O verdadeiro desafio que eles têm é a infraestrutura", diz Callum Macpherson, chefe de commodities da Investec. >
Em novembro, a Venezuela produziu cerca de 860 mil barris por dia, de acordo com o relatório mais recente do mercado de petróleo da Agência Internacional de Energia. >
Isso é pouco mais de um terço do que produzia há 10 anos e representa menos de 1% do consumo mundial de petróleo. >
Algumas pessoas nos EUA têm defendido a intervenção na Venezuela apontando para as oportunidades que as empresas americanas teriam para revitalizar a indústria petrolífera.>
"A Venezuela, para as companhias petrolíferas americanas, será um prato cheio", disse a congressista republicana da Flórida, María Elvira Salazar, em uma entrevista recente à Fox Business. >
"As empresas americanas podem entrar e consertar todos os oleodutos, todas as plataformas de petróleo e tudo o que tem a ver com... petróleo e seus derivados.">
Trump pode parecer receptivo a tais argumentos. >
Ele fez campanha com o slogan "drill, baby, drill" e costuma defender a expansão da produção de petróleo, que ele tem associado à redução dos preços para os americanos. >
Mas, no que diz respeito à Venezuela, a Casa Branca afirmou estar preocupada com o tráfico de drogas e com o que considera a ilegitimidade de Maduro. >
Perguntado na quinta-feira se a campanha dos EUA na região tinha a ver com drogas ou petróleo, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o governo estava focado em "muitas coisas". >
Ela afirmou que interromper o fluxo de drogas para os EUA é sua prioridade "número um". >
Clayton Siegle, pesquisador de segurança energética no think thank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, diz levar declarações como essa "em grande parte ao pé da letra". >
Ele apontou para o interesse de longa data na região por parte de figuras importantes, como o secretário de Estado, Marco Rubio.>
"Eu ainda não vi evidências que sustentem que o petróleo esteja no centro de suas ambições", afirma. >
Isso não quer dizer que as empresas americanas não estariam interessadas. >
Hoje, Chevron é a única produtora de petróleo dos EUA ainda ativa na Venezuela, depois de receber uma licença em 2022, durante o governo de Joe Biden, para operar, apesar das sanções americanas. >
A administração de Trump concedeu à empresa outra autorização temporária este ano, embora tenha revogado a de outras companhias, como a espanhola Repsol, em uma tentativa de reduzir o fluxo de recursos para o regime de Maduro >
Hoje, Chevron é responsável por um quinto da produção de petróleo da Venezuela. >
Analistas dizem que a Chevron estaria entre as empresas que mais se beneficiaria caso os EUA começassem a suspender as restrições para lidar com a Venezuela. >
As refinarias nos EUA, especialmente as localizadas na costa do Golfo do México, também estão ávidas pelo tipo de petróleo bruto que a Venezuela produz, que tende a ser menos caro e, portanto, mais lucrativo para processar. >
"Tem sido problemático para as refinarias da Costa do Golfo dos EUA nos últimos anos o fato de a Venezuela estar sob sanções e ter reduzido a produção, porque isso significa que há menos petróleo bruto pesado disponível", diz Matt Smith, analista de petróleo da Kpler.>
"Mesmo que não estivessem envolvidos na produção, seriam compradores interessados.">
Embora qualquer expansão das exportações de petróleo da Venezuela possa ajudar a reduzir os preços nos EUA, especialistas dizem que isso levaria tempo, já que sua produção atual é muito limitada para ter um impacto significativo. >
E restaurar a indústria petrolífera da Venezuela à sua época de glória seria uma tarefa pesada. >
De acordo com um relatório recente da Wood Mackenzie, uma gestão aprimorada e alguns investimentos modestos poderiam ajudar a impulsionar a produção de petróleo na Venezuela para cerca de dois milhões de marris por dia nos próximos dois anos. >
Mas analistas alertaram que seria necessário dezenas de bilhões de dólares e potencialmente uma década para elevar a produção de forma mais significativa. >
Eles também disseram que as empresas podem ser dissuadidas por possíveis complicações, como a participação do país na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). >
Outro risco é a perspectiva de demanda por petróleo, à medida que ele se torna menos importante como fonte de energia, afirma David Oxley, economista-chefe de clima e commodities da Capital Economics.>
"A demanda por petróleo não vai despencar, mas não está mais crescendo como antes. Vemos uma demanda moderada que começará a cair no final da década de 2030", afirma.>
"Qualquer pessoa que invista no setor petrolífero venezuelano precisa se perguntar: vale a pena?">
Mesmo que Maduro fosse deposto ou que as barreiras impostas pelos EUA fossem suspensas, Oxley diz que não está claro o quanto as empresas estariam dispostas a investir o tempo e o dinheiro necessários para reativar a produção de petróleo na Venezuela.>
"No setor petrolífero, seria necessário um investimento enorme. Certamente na casa dos bilhões", afirma. >
"'Vamos perfurar,' tudo bem, mas as empresas privadas só vão investir se for lucrativo.">
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