Publicado em 17 de julho de 2025 às 18:25
Em meio à escalada de tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quinta-feira (17/7), que o presidente americano Donald Trump "não foi eleito para ser imperador do mundo".>
A declaração foi dada à jornalista Christiane Amanpour, da CNN. Foi a primeira entrevista do brasileiro à TV americana desde que Trump anunciou, em 12 de julho, uma tarifa adicional de 50% sobre importações brasileiras.>
À emissora americana, Lula afirmou que, se Trump fosse brasileiro, "ele também seria julgado" por sua participação nos eventos do Capitólio e, caso tivesse violado a Constituição, "ele também estaria preso". >
Trump classificou o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe, como uma "caça às bruxas". >
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A mensagem foi enviada em carta da semana passada, a mesma que impôs a o tarifaço para os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. >
"Quando vi a carta [com o anúncio das tarifas], eu achei que fosse fake news", disse Lula. "Para mim foi uma surpresa não só o valor da tarifa, mas como foi anunciado. Ele [Trump] está quebrando todo e qualquer protocolo, toda e qualquer liturgia que deve existir no relacionamento entre dois chefes de Estado.">
Lula também disse que não quer ser "refém dos Estados Unidos" e destacou que o Brasil está disposto a negociar, mas não vai aceitar imposições. >
"O Brasil gosta de negociar em paz. É assim que eu ajo, e acho que é assim que todos os presidentes deveriam agir. E penso o mesmo sobre o presidente Trump, que o Brasil é um aliado histórico dos EUA. O Brasil valoriza as relações econômicas que tem com os EUA, mas o Brasil não aceitará nada imposto a ele de outro país. Aceitamos negociação, e não imposição", disse.>
Lula também afirmou que não vê Trump como um "político de extrema direita", mas como um chefe de Estado. >
"Eu não sou um presidente progressista, eu sou o presidente do Brasil. Eu não vejo o Trump como presidente de direita, eu vejo como presidente dos Estados Unidos. Ele foi eleito. Tem o respaldo do povo americano. Então, a melhor coisa é sentar numa mesa para conversar. Até agora, ele tem demonstrado que não tem interesse, porque acha que pode fazer as tarifas que quiser.">
O presidente disse que não há intenção de romper laços com os EUA. "Ninguém quer romper com os Estados Unidos, ninguém quer prescindir dos Estados Unidos. O que queremos é não ser refém dos Estados Unidos.">
Segundo ele, o Brasil já vem diversificando seus parceiros comerciais e defendeu o fortalecimento do Brics e maior liberdade nas transações entre os países do bloco.>
"Representamos 40% do comércio internacional e 25% do PIB mundial. O BRICS não foi criado para brigar com o Norte, mas para discutir de forma pacífica e igualitária os seus problemas.">
As declarações de Lula provocaram uma reação imediata do governo americano.>
Horas depois da entrevista ir ao ar, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, rebateu as críticas do presidente brasileiro. A jornalistas, ela disse que Trump não quer ser o "imperador do mundo", como disse Lula, mas que é um líder forte com influência global. >
"O presidente certamente não está tentando ser o imperador do mundo. Ele é um presidente forte dos Estados Unidos da América e também é o líder do mundo livre", disse Leavitt.>
"Vimos uma grande mudança em todo o globo por causa da liderança firme deste presidente.">
Leavitt também criticou o Brasil por práticas ambientais e pela proteção à propriedade intelectual, afirmando que "as regulações digitais do Brasil e a fraca proteção à propriedade intelectual prejudicam empresas americanas" e colocam os produtores e agricultores dos EUA em desvantagem competitiva.>
Questionada sobre a carta de Trump anunciando tarifas de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA, ela afirmou que as medidas visam proteger os interesses do povo americano.>
Também nesta quinta, durante discurso na abertura do 60º Congresso da UNE (Conune), em Goiânia, Lula afirmou que o Brasil passará a cobrar impostos das empresas de tecnologia dos Estados Unidos. >
Sem detalhar como a medida será aplicada, ele disse que "o Brasil vai julgar e vai cobrar imposto das empresas digitais norte-americanas".>
A declaração foi dada dois dias após os EUA iniciarem uma investigação comercial contra o Brasil. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que a ação busca entender se medidas do governo Lula estão prejudicando as big techs dos EUA.>
O objetivo da investigação é analisar se políticas brasileiras na área de comércio seriam "irracionais ou discriminatórias" e se "oneram ou restringem o comércio dos EUA", segundo um comunicado do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), uma agência do governo federal.>
No evento da UNE, Lula também voltou a defender o multilateralismo e criticou a postura do presidente norte-americano nas negociações internacionais. >
"Eu tenho certeza que o presidente norte-americano jamais negociou 10% do que eu já negociei na minha vida. Então, se tem uma coisa que eu sei na vida, é negociar", afirmou.>
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