Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 07:44
O empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, maior produtora mundial de proteína animal, foi à Venezuela pedir para Nicolás Maduro deixar o governo, segundo a agência de notícias Bloomberg.>
O empresário se encontrou com o presidente venezuelano em 23 de novembro, dias depois da conversa por telefone de Maduro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Na conversa, Batista teria apoiado uma transição pacífica de poder na Venezuela.>
Ainda segundo a Bloomberg, o empresário visitou ao país vizinho por iniciativa própria e não foi convidado a ir em nome dos EUA, ainda que autoridades do governo Trump estivessem cientes da viagem.>
O Palácio do Planalto não se posicionou sobre o tema e não confirmou à BBC News Brasil se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha conhecimento do encontro entre Batista e Maduro.>
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A JBS é controlada pela holding J&F, que também não comentou o teor das conversas. Em nota à agência, o grupo afirma apenas que Joesley Batista não representa nenhum governo.>
A BBC Brasil também procurou Joesley Batista, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.>
A ida do empresário brasileiro à Venezuela ocorreu em meio ao aumento das tensões entre Caracas e Washington. O governo dos EUA acusa Maduro de chefiar o "Cartel de los Soles", classificado por Washington como organização terrorista. >
No final de novembro, Trump chegou a anunciar que o espaço aéreo "sobre" e "nos arredores" da Venezuela seria fechado "por completo".>
Nos últimos meses, os EUA intensificaram a pressão sobre Maduro, considerando seu governo ilegítimo após a eleição de 2024, amplamente rejeitada por acusações de fraude.>
O país realizou o maior destacamento militar em décadas no Mar do Caribe, executando uma série de ataques contra embarcações, principalmente venezuelanas, supostamente envolvidas com o narcotráfico no Caribe e no Pacífico Leste.>
O país enviou o USS Gerald Ford, o maior porta-aviões do mundo, além de cerca de 15 mil militares — o maior deslocamento americano na região desde a invasão do Panamá, em 1989. Washington afirma que a operação pretende combater o tráfico de drogas.>
Maduro nega as acusações e afirma que os EUA buscam derrubar seu governo para assumir o controle do petróleo venezuelano.>
Segundo a Bloomberg, autoridades americanas tinham conhecimento dos planos de Batista de viajar a Caracas, mas não o enviaram em nome dos EUA.>
A agência destacou o papel do empresário brasileiro como mediador na tentativa de amenizar as tensões políticas entre os países.>
A presença do empresário Joesley Batista em Caracas expõe o papel que o sócio da J&F tem desempenhado nos bastidores da política internacional.>
Em outubro, o empresário integrou a delegação empresarial que acompanhou Lula em sua viagem para o Sudeste Asiático, com passagem pela Indonésia e Malásia, em busca de caminhos alternativos diante de uma deterioração nas relações com Washington.>
A viagem marcou o primeiro encontro entre Lula e Trump desde que os EUA impuseram tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — medida que provocou a maior crise diplomática recente entre os países.>
Apesar de não ocupar cargo público, Batista, que restabeleceu sua presença no comando da JBS após seu afastamento em 2017, manteve interlocução com figuras do governo Trump para reverter o tarifaço. >
Ele ficou afastado da direção da JBS por cinco anos, até 2024, como parte do acordo de leniência assinado como o Ministério Público Federal relacionado à Operação Lava Jato.>
Em setembro, o empresário esteve na Casa Branca para discutir o aumento de tarifas às exportações brasileiras, incluindo a carne bovina. As alíquotas adicionais para a proteína animal foram revistas em novembro.>
A audiência ocorreu semanas antes do aceno do republicano a Lula na Assembleia-Geral da ONU, o primeiro sinal de afago na relação dos países.>
A subsidiária da JBS nos EUA, a Pilgrim's Pride, fez uma doação de US$ 5 milhões para a cerimônia de posse de Trump, de acordo com relatório apresentado à Comissão Federal Eleitoral (FEC, na sigla em inglês). Foi a maior quantia doada individualmente por uma empresa ao evento.>
Em junho, a JBS conseguiu autorização para listar suas ações na Bolsa de Nova York, um processo que enfrentava impasses na Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) desde 2017. >
Já em relação à Venezuela, as empresas do grupo J&F ampliaram interesses no setor energético. >
A Âmbar Energia chegou a receber autorização do governo brasileiro para importar eletricidade da Venezuela para abastecer Roraima — operação que não avançou por questões técnicas, mas cuja habilitação preliminar continua válida.>
A Fluxus, outra companhia do grupo, abriu escritório em Caracas e está prospectando reservas de petróleo há mais de um ano, diz a Bloomberg. A J&F negou à agência que haja negócios em curso no país.>
A relação entre os países já vem de longa data. Em 2015, a JBS fechou com o governo venezuelano um acordo de US$ 2,1 bilhões para fornecer carne bovina e frango em um momento em que o país enfrentava grave escassez de alimentos. A negociação envolveu autoridades venezuelanas de alto escalão, incluindo Diosdado Cabello, hoje ministro do Interior.>
Os irmãos Joesley e Wesley Batista viram o negócio familiar se transformar no maior produtor de carne do mundo, com auxílio do BNDES (banco nacional de fomento ao setor produtivo) durante os primeiros governos de Lula.>
Os irmãos se envolveram profundamente no cenário político brasileiro: a JBS foi a maior doadora para a campanha eleitoral de 2014, gastando R$ 391 milhões, apoiando a vitória 164 deputados federais, seis governadores e da chapa formada pela ex-presidente Dilma Rousseff e por Temer. >
Anos depois, Wesley e Joesley fecharam acordo de delação premiada após a realização de uma série de operações da Polícia Federal que tinham a J&F como um dos alvos - envolvendo, inclusive, denúncias de irregularidades na aprovação de empréstimos do BNDES.>
Ele admitiu ter subornado centenas de políticos em troca de financiamento de bancos estatais e fundos de pensão.>
Em 2017, Joesley gravou uma reunião fora da agenda com o então presidente Michel Temer como parte do acordo de delação. >
O escândalo provocou uma das maiores quedas nas bolsas de valores da história moderna do Brasil, que foi apelidado de "Joesley Day".>
Na conversa gravada, Temer disse que "tem que manter isso aí" a Batista, ao falar sobre a boa relação de Joesley com o ex-deputado Eduardo Cunha. >
Batista afirmou à época em sua delação premiada que Temer teria dado aval a uma operação para comprar o silêncio de Cunha sobre irregularidades envolvendo aliados.>
Em entrevista à BBC News Brasil em 2019, Temer afirmou que a frase dizia respeito somente a manter a amizade com Cunha, não a qualquer irregularidade.>
Temer continuou respondendo aos processos, mas nunca foi condenado e permanece livre. Muitos dos processos que envolvem o ex-presidente foram arquivados, inclusive o que levou à sua prisão.>
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