Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 11:44
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes suspendeu nesta quarta-feira (3/12) diversos trechos da Lei do Impeachment relativos ao afastamento de ministros da corte, restringindo à Procuradoria Geral da República (PGR) a prerrogativa de entrar com um pedido de impeachment contra os magistrados. >
Em entrevista à BBC News Brasil no mês passado, o ministro já havia dito que pretendia julgar ainda neste ano uma ação protocolada na Corte que questiona a norma.>
Para Mendes, a legislação, de 1950, já tinha muitos pontos revogados. "É um contraste da lei dos anos 50 com vários textos constitucionais, inclusive a Constituição de 88", disse o ministro.>
A decisão é em caráter liminar, mas será levada ao plenário do STF em sessão virtual agendada para começar no próximo dia 12 e se encerrar no dia 19.>
>
>
Na decisão, Mendes, que é o decano da corte, atribuiu à PGR — e somente a ela — a prerrogativa de pedir o impeachment de algum ministro da corte. Hoje a lei estabelece que qualquer cidadão pode fazê-lo.>
Outro ponto alterado por Mendes foi o quórum necessário para a abertura de um processo contra ministros da corte no Senado: 2/3. Hoje, a lei prevê maioria simples, ou seja, 21 senadores. >
Mendes estabeleceu também que não é possível responsabilizar ou instaurar processo de impeachment contra os magistrados com base somente no mérito de suas decisões. >
"A intimidação do Poder Judiciário por meio do impeachment abusivo cria um ambiente de insegurança jurídica, buscando o enfraquecimento desse poder, o que, ao final, pode abalar a sua capacidade de atuação firme e independente", diz o ministro na decisão.>
O ministro acompanhou ainda um parecer da PGR que defendeu a não recepção dos artigos referentes ao afastamento temporário de ministros. Segundo a decisão, ao contrário do presidente da República, um ministro do Supremo não tem substituto, e sua ausência pode comprometer o funcionamento do tribunal.>
A decisão ocorre em meio a uma crise entre o Planalto e o Senado, justamente devido à escolha do novo ministro do Supremo. >
Na terça-feira (2/12), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil - AP) cancelou a sabatina do advogado-Geral da União, Jorge Messias, escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para substituir Luís Roberto Barroso no STF.>
A sabatina estava prevista para a quarta-feira (10/12) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, seguida por votação no plenário. O rito faz parte de toda indicação de um novo ministro da corte. >
Porém, Lula não enviou ao Senado, até o momento, a mensagem formalizando a sua indicação, o que inviabiliza a apreciação em tempo hábil pelo presidente da CCJ, Otto Alencar (PSD-BA).>
A suspensão da sabatina tem como pano de fundo a escolha de Messias enquanto Alcolumbre apoiava a indicação de seu aliado, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).>
A escolha de Lula "azedou o clima político" segundo afirmou um ministro do STF em caráter reservado à BBC News Brasil no dia da escolha de Lula.>
Antes de deixar a corte, Barroso também havia sinalizado que a Corte poderia vir a barrar eventuais tentativas de impeachment contra seus ministros.>
Em conversa com jornalistas que cobrem o Supremo, ocorrida em setembro, o ex-ministro ressaltou que a Corte tem a atribuição de fazer "o controle de constitucionalidade" de processos de impeachment.>
E defendeu que a cassação de ministros do STF só poderia ser realizada em caso de crimes graves, como corrupção, e não por discordância dos seus votos e decisões.>
"O impeachment é [um mecanismo disponível] se tiver acontecido um episódio grave, de corrupção. Um impeachment não é um produto de prateleira para você se livrar de alguém de quem você não goste politicamente", disse ele.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta