Publicado em 12 de novembro de 2021 às 11:12
O jornal norte-americano The New York Times publicou na quinta-feira (11) uma reportagem destacando que o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump e aliados estão "exportando" sua estratégia de ataque aos resultados da eleição e trabalhando para apoiar a candidatura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que deve concorrer à reeleição no ano que vem. >
Intitulada "A conexão Bolsonaro-Trump que ameaça as eleições brasileiras", a reportagem relembrou os ataques feitos por Trump ao processo eleitoral no ano passado, quando perdeu as eleições para Joe Biden, alegando, sem provas, que houve fraude. No dia 6 de janeiro, quando o Congresso certificaria o democrata, manifestantes incitados por Trump invadiram o Capitólio e cinco pessoas acabaram mortas.>
"Para o presidente brasileiro, que se encontra cada vez mais isolado no cenário mundial e impopular em casa, o apoio americano é um impulso bem-vindo. O nome Trump é um grito de guerra pela nova direita do Brasil e seus esforços para minar o sistema eleitoral dos EUA parecem ter inspirado e encorajado Bolsonaro e seus apoiadores", diz o jornal.>
Bolsonaro fez repetidas ameaças às eleições de 2022. Em julho deste ano, o chefe do Executivo federal afirmou que não haverá disputa eleitoral se não houver "eleições limpas". A insinuação infundada é a de que poderia haver fraude nas atuais urnas para derrotá-lo no ano que vem.>
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Desde a adoção das urnas eletrônicas no Brasil, em 1996, nunca houve comprovação de fraude nas eleições. Em agosto, a Câmara dos Deputados rejeitou proposta de interesse do mandatário que pretendia incluir um módulo de voto impresso ao lado das urnas eletrônicas a partir das eleições de 2022.>
"Bolsonaro já está colocando na cabeça das pessoas que não aceitará a eleição se perder", disse David Nemer, um professor brasileiro da Universidade da Virgínia que estuda a extrema-direita do país, ao jornal. "No Brasil, isso pode sair do controle.">
Steve Bannon, ex-estrategista-chefe de Trump, disse que Bolsonaro só perderá se "as máquinas" roubarem a eleição. As alegações de fraude por parte de Bolsonaro preocuparam funcionários da administração Biden, segundo funcionários de alto escalão ouvidos pelo jornal.>
Em agosto, Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Biden, viajou ao Brasil e aconselhou o presidente brasileiro a respeitar o processo democrático.>
Recentemente, no entanto, em entrevista à revista Veja, Bolsonaro evitou duvidar da segurança do processo. "Com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico", afirmou ele sobre a comissão de transparência das eleições.>
A reportagem do New York Times também destaca que o interesse americano pelo Brasil não é apenas político, citando redes sociais conservadoras administradas por aliados de Trump - Gettr e Parler - que estão crescendo rapidamente no país. "Além da tecnologia, muitas outras empresas americanas se beneficiaram com a abertura ao comércio do presidente Bolsonaro, incluindo as de defesa, agricultura, espaço e energia", diz um trecho.>
No fim de outubro, Facebook, Instagram e Youtube derrubaram uma live em que Bolsonaro associou falsamente a vacinação contra Covid-19 à Aids.>
O jornal lembra ainda que o apoio dos republicanos chega em "um momento crucial" para o presidente Bolsonaro, em razão da pandemia da Covid-19, que matou mais de 600 mil brasileiros, e do aumento do desemprego e da inflação, além das investigações envolvendo sua família e aliados na Justiça.>
A reportagem cita também a CPI da Covid, que apontou Bolsonaro como um dos principais responsáveis pelo agravamento da pandemia em seu relatório final. No mesmo dia em que o relatório foi aprovado, Trump publicou mensagem de apoio ao presidente brasileiro.>
Apelidado de Trump da América do Sul, Bolsonaro foi a Washington em março de 2019, pouco depois de tomar posse. Na viagem, estava o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidente.>
"Ele [Eduardo] então emergiu como o principal elo de ligação do Brasil com a direita americana, visitando os Estados Unidos várias vezes por ano para se reunir com Trump, Jared Kushner [conselheiro e genro de Trump], senadores republicanos e um grupo de analistas de extrema-direita e teóricos da conspiração", diz um trecho da reportagem.>
O New York Times lembrou ainda que em setembro aliados mais próximos de Bolsonaro se reuniram na Cpac (Conferência de Ação Política Conservadora, na tradução do inglês), organizada por Eduardo e pela American Conservative Union, grupo de lobby republicando.>
Na ocasião, o presidente da rede social Gettr, Jason Miller, que veio dar uma palestra e propagandear sua plataforma online, acabou sendo alvo de interrogatório pela Polícia Federal. A oitiva se deu dentro do inquérito que investiga a organização e o financiamento das manifestações antidemocráticas no Brasil.>
A reportagem destaca ainda o discurso inflamado que Bolsonaro fez no dia 7 de setembro. Na ocasião, o presidente ameaçou o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Fux, e declarou abertamente que não respeitaria "qualquer decisão" do ministro Alexandre de Moraes.>
Dois dias depois, no entanto, ele recuou e declarou respeito às instituições brasileiras.>
O jornal informou ter procurado as famílias Trump e Bolsonaro, além de Bannon, mas não teve retorno.>
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