Publicado em 28 de julho de 2025 às 06:25
Portugal aprovou na semana passada a criação da Unidade Nacional de Estrangeiros e Fronteiras (UNEF), que vem sendo chamada de "polícia para imigrantes".>
A unidade, que fará parte da Polícia de Segurança Pública (PSP), pretende reforçar a fiscalização da imigração.>
Na prática, a UNEF passa a ter o controle na entrada e saída de imigrantes por via aeroportuária; na concessão de visto na chegada; nas situações de permanência irregular e na repatriação de cidadãos em situação irregular.>
A UNEF foi aprovada no Parlamento com os votos favoráveis da coalizão de centro-direita que lidera o governo, a Aliança Democrática (AD), e do partido de direita radical Chega. >
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Todos os partidos de esquerda se abstiveram. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa promulgou a lei em 17 de julho, que entrará em vigor em 30 dias.>
A UNEF vem substituir o antigo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), extinto em 2023. Suas competências foram redistribuídas entre entidades como a Polícia Judiciária (PJ), a Guarda Nacional Republicana (GNR), a PSP, e pela recém-criada Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).>
"É uma demonstração política de que o Estado não abdica do seu dever essencial, de proteger e respeitar todos os que se encontrem no nosso território", argumentou a ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, num seminário sobre migrações realizado pela PSP. >
"Não há liberdade possível sem segurança e não há segurança sem controle de fronteiras.">
Até agora, a AIMA era a entidade responsável pela repatriação de imigrantes. No entanto, segundo o governo, o modelo não era eficaz, não permitindo a execução das ordens de expulsão de imigrantes. Assim, segundo o texto aprovado, a UNEF vai assumir as atribuições da AIMA.>
A criação da unidade de polícia faz parte de maior rigidez com a imigração que Portugal vem adotando nos últimos meses. >
Em 2 de junho, o governo já tinha anunciado a expulsão de 33.983 imigrantes que solicitaram residência no país, mas tiveram o pedido negado. Desses, 5.368 são brasileiros.>
Além disso, o visto de procura de trabalho, um dos mais requisitados pelos brasileiros, será restrito a "profissões altamente qualificadas" — cujos detalhes ainda não foram divulgados.>
Os imigrantes que entrem ou permaneçam de forma irregular no país terão o visto automaticamente recusado, qualquer que seja o tipo.>
O reagrupamento familiar (solicitação para que parentes possam viver em Portugal também) só será possível após dois anos de residência no país, com exceção dos filhos menores. >
O pedido também precisará ser feito fora de Portugal. Na prática, só será possível a entrada de casais se os dois tiverem visto. Caso contrário, o cônjuge sem visto terá de esperar dois anos para fazer o reagrupamento familiar. Além disso, o casal precisa agora comprovar que viveu junto em outro país.>
Para os estrangeiros que falem português, o prazo para pedir a nacionalidade portuguesa passa de cinco para sete anos; para os demais casos, o prazo é de 10 anos.>
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A política migratória recente de Portugal tem gerado apreensão entre os brasileiros vivendo no país europeu, que são a maior comunidade de imigrantes no país.>
Cerca de 1,5 milhão de estrangeiros vivem em Portugal em situação regular, número que triplicou em uma década. Desses, 550.000 são brasileiros, 36% do total. >
Portugal tem a segunda maior comunidade de brasileiros no exterior, atrás apenas dos Estados Unidos.>
Agora, muitos desses brasileiros podem ter seus planos frustrados.>
Em 2023, segundo o último relatório disponível da AIMA, foram concedidos residência a 328.978. Desses, 147.262, mais de 44%, foram para brasileiros. >
Naquele ano, 44.878 vistos foram emitidos como parte do programa de reagrupamento familiar — mas, não há dados específicos de nacionalidade.>
As mudanças nas regras de concessão de visto de procura de trabalho também afetam diretamente os brasileiros, uma vez que é um dos serviços mais demandados no consulado do país. >
Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em 2024 foram concedidos 32 mil vistos de trabalho pela rede consular portuguesa — 40% deles, cerca de 13 mil, a cidadãos brasileiros.>
Além disso, os brasileiros são uma parcela importante da força de trabalho em Portugal: mais de 200 mil estão inscritos na Segurança Social (ou seja, são pessoas que têm trabalhos formais).>
Segundo dados de junho de 2024 do Banco de Portugal, os brasileiros lideravam entre os trabalhadores estrangeiros de todos os setores, menos agricultura e pesca — onde predominam indianos, nepaleses e bengalis.>
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O governo brasileiro já expressou sua preocupação com as alterações recentes e disse estar acompanhando o processo "com atenção", recordando que os portugueses no Brasil gozam de "status privilegiado".>
"O Brasil buscará maiores informações sobre as propostas", declarou à agência Lusa o embaixador Carlos Sérgio Sobral Duarte, secretário de África e de Oriente Médio do Ministério de Relações Exteriores, em reportagem publicada na última quinta-feira (17).>
Duarte reiterou "a expectativa de que eventuais alterações preservem os direitos dos imigrantes".>
Já no início do mês, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que o Brasil poderia adotar medidas de reciprocidade diante das ações restritivas de Portugal.>
"A questão do visto se regula pelo princípio da reciprocidade. Todas as medidas que forem adotadas [em Portugal], eventualmente, serão adotadas também pelo Brasil. Ocorre que, por força da Constituição, os portugueses no Brasil têm uma série de vantagens em relação a cidadãos de outros países. Então, não creio que uma mera medida administrativa possa prejudicar esse relacionamento muito próximo que temos", disse à agência Lusa.>
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