Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 18:44
Não há quem consiga parar Chappell Roan.>
Nos últimos 12 meses, a jovem de 26 anos se tornou a estrela mais frenética da música pop – exuberante, com seus cabelos cor de fogo e suas músicas ao mesmo tempo brilhantes e naturais.>
Seu primeiro álbum, lançado com pouco destaque em 2023, acaba de chegar ao topo da parada britânica pela segunda vez. Na semana que vem, ela irá concorrer a seis prêmios Grammy, incluindo o de artista revelação.>
E a BBC Rádio 1 elegeu a cantora o Som de 2025, em uma votação que envolveu mais de 180 músicos, críticos e especialistas do setor musical.>
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Seu sucesso teve um sabor ainda mais especial porque sua antiga gravadora se recusou a lançar várias das canções que explodiram nas paradas no ano passado.>
"Eles disseram 'isso não vai funcionar. Não vamos conseguir'", contou Roan ao apresentador Jack Saunders, da BBC Rádio 1.>
Sua chegada à primeira linha das estrelas do pop não é apenas a consequência do seu trabalho, mas uma revolução. >
Ela é a primeira mulher a atingir o sucesso como pessoa abertamente queer(que não se identifica com as definições tradicionais de gênero), sem que a revelação esperasse pela sua narrativa após a fama.>
No lado pessoal, ela finalmente conseguiu dinheiro suficiente para se mudar para uma casa própria e adotou uma gata resgatada, chamada Cherub Lou.>
"Ela é superminúscula, seu hálito é muito ruim e ela não mia", declarou a cantora.>
Se ter um gato é um dos benefícios da fama, Roan desafiou o lado negativo.>
Ela denunciou o "comportamento assustador" dos fãs abusivos – pessoas que a importunam na fila dos aeroportos e a "perseguem" na casa dos seus pais.>
Em setembro, ela viralizou ao xingar um fotógrafo que praticava abusos contra as estrelas no tapete vermelho, durante os prêmios da MTV.>
"Eu olhei em volta e me perguntei: 'As pessoas aceitam isso todo o tempo? E esperam que eu aja normalmente? Isso não é normal. Isso é maluquice'", relembra ela.>
O incidente chegou às manchetes. Os tabloides britânicos chamaram a explosão de "birra" de uma "diva mimada". Mas Roan não se desculpa pelo que fez.>
"Sempre reagi desta forma ao desrespeito por toda a vida", declarou ela. "Mas, agora, existem câmeras na minha direção, por acaso também sou uma estrela do pop e estas coisas não combinam. É como óleo e água.">
Roan afirma que os músicos são treinados para serem obedientes. Defender-se é retratado como choradeira ou ingratidão – e rejeitar as convenções tem seu preço.>
"Na verdade, acho que eu faria mais sucesso se usasse uma focinheira", ela ri.>
"Se eu controlasse mais meus instintos básicos, o rumo do meu coração, 'pare, pare, pare, você não está bem', eu seria maior. Eu seria muito maior... e ainda estaria em turnê, agora.">
De fato, Roan rejeitou a pressão de estender sua turnê de 2024 para proteger sua saúde física e mental. Ela atribui esta resolução ao seu avô, já falecido.>
"Existe algo que ele disse que me faz pensar em cada decisão que tomo na minha carreira", ela conta. "Sempre há opções.">
"Por isso, quando alguém diz, 'Faça este show porque ninguém nunca irá oferecer todo esse dinheiro novamente', eu penso: e daí?">
"Se eu não me sentir disposta a fazer isso agora, sempre há opções. Não existe falta de oportunidades. Penso nisso todo o tempo.">
Seus fãs já sabem que Roan foi batizada com o nome de Kayleigh Rose Amstutz. Ela foi criada na pequena cidade de Willard, no Estado americano de Missouri – no chamado Cinturão da Bíblia.>
Roan foi a mais velha de quatro filhos e seu sonho era ser atriz. Mas, por muito tempo, parecia que seu futuro estaria no esporte. Ela participou de competições estaduais e quase foi para a faculdade em disputas nacionais.>
Mas ela participou de um concurso de cantores aos 13 anos de idade e ganhou. >
Pouco tempo depois, ela escreveu sua primeira canção, sobre um menino mórmon que foi seu crush, mas não podia namorar ninguém que não fosse da sua religião.>
Seu nome artístico é uma homenagem ao seu avô, Dennis K. Chappell, e à música favorita dele, uma balada do Velho Oeste chamada The Strawberry Roan.>
"Ele era muito engraçado e muito inteligente", relembra ela. "E não acho que, algum dia, ele tenha questionado minha capacidade.">
"Muitas pessoas diziam 'Você deveria cantar apenas country' ou 'Você deveria tentar música gospel'. Mas ele nunca me disse para fazer nada", ela conta. "Ele era a única pessoa que dizia 'Você não precisa de um plano B. Simplesmente faça acontecer.'">
Chegou um momento em que uma das suas composições – uma balada gótica chamada Die Young – chamou a atenção da gravadora Atlantic Records, que a contratou com apenas 17 anos de idade.>
Ao se mudar para Los Angeles, na Califórnia (EUA), ela gravou e lançou seu primeiro EP em 2017, School Nights. Foi uma aventura sólida, mas sem grandes repercussões, imersa nos sons de Lana Del Rey e Lorde.>
Roan só foi encontrar seu som próprio quando um grupo de amigos gays a levou para um bar drag.>
"Entrei naquele clube em West Hollywood e parecia um paraíso", declarou ela à BBC em 2024. "Foi incrível ver todas aquelas pessoas felizes e confiantes com seus corpos.">
"E os dançarinos! Fiquei encantada. Não conseguia parar de assistir. Era como [se eu dissesse] 'preciso fazer aquilo'.">
Ela não se tornou dançarina, mas escreveu uma canção imaginando como seria, incluindo a reação da sua mãe. Roan deu à música o nome de Pink Pony Club, que era o nome de um bar de striptease na sua cidade natal.>
"Aquela canção mudou tudo", relembra Roan. "Ela me levou para um novo patamar. Nunca pensei que pudesse realmente ser uma 'pop star' e Pink Pony me forçou a isso.">
Mas sua gravadora discordou. Ela passou dois anos se recusando a lançar Pink Pony Club. Pouco depois que eles cederam, Roan foi dispensada durante um corte de verbas ocorrido na pandemia.>
Ela foi para casa e passou o ano seguinte servindo café em uma lanchonete drive-through.>
"Aquilo certamente me causou um impacto positivo", relembra ela. "Você fica sabendo como é limpar um banheiro público. Isso é muito importante.">
Aquele também foi um período transformador de outras maneiras. Ela guardou o dinheiro que ganhou, teve seu coração partido por uma pessoa "com olhos azuis claros", voltou para Los Angeles e definiu o prazo de um ano para fazer carreira.>
Poderia ter levado um pouco mais, mas ela já começou com o pé direito.>
Durante seu exílio, Roan havia mantido o contato com seu colega letrista de Pink Pony Club, Daniel Nigro. Ele também trabalhava com outra cantora que enfrentava altos e baixos na época. Seu nome era Olivia Rodrigo.>
Quando a carreira de Rodrigo decolou, Roan ganhou um lugar nos bastidores, ajudando a cantora nas turnês e participando dos vocais no seu segundo álbum, Guts.>
Mas o mais importante foi que Nigro aproveitou o momento para contratar Roan para sua própria gravadora, garantindo o lançamento do seu primeiro álbum em setembro de 2023.>
Inicialmente, parecia que a primeira gravadora de Roan estava certa. As vendas foram decepcionantes e o público demorou para compreendê-la. >
Seus hinos declaradamente queer não se encaixavam com a tendência voltada para o pop confessional sussurrante.>
Mas suas canções ganharam vida no palco. Grandes, divertidas e criadas para a participação do público, elas atingiram novos patamares com a potência vocal de Roan e sua exuberante presença no palco.>
"Uma drag queen não sobe ao palco para acalmar as pessoas", declarou ela. "Uma drag queen não diz coisas para adular ninguém.">
"A drag queen faz você corar, entende o que digo? Espere esta mesma energia no meu show.">
É claro que foi uma apresentação transmitida ao vivo, no Festival Coachella do ano passado, na Califórnia, que lançou Chappell Roan para os escalões superiores do pop.>
Vestida com uma camiseta de PVC com a inscrição Eat Me ("Me coma", em tradução literal), ela se apresentou na tenda lotada como a atração principal, desfilando resolutamente pelo palco e coordenando o público na extravagante coreografia da canção Hot To Go!.>
Ela então olhou diretamente para a câmera e dedicou uma música para a ex.>
"Eu sei que você está assistindo... e tudo aquilo de horrível que está acontecendo com você é carma!">
O clipe viralizou e, com ele, também sua carreira.>
No verão americano, todos os seus shows foram ampliados. Os festivais precisaram levá-la para palcos maiores. E, quando ela cantou no Lollapalooza em agosto, foi o maior público que o evento já teve durante o dia.>
"Simplesmente leva uma década", orienta ela. "É o que digo para todo mundo: 'Se, para você, está tudo bem se levar 10 anos, então você está no caminho certo'.">
Quando os fãs descobriram seu primeiro álbum, Roan também lançou um single – uma faixa sarcástica de synth pop chamada Good Luck Babe, que se tornou seu grande sucesso.>
"Nem sei se já disse isso em alguma entrevista, mas o nome original era Good Luck, Jane", revela ela. "Eu queria que ela contasse que me apaixonei pela minha melhor amiga, ela rindo e dizendo 'não gosto de você, gosto de meninos'.">
"E eu dizia, 'OK, tudo bem, boa sorte com isso, Jane'.">
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Uma aula de como contar histórias no pop, Good Luck Babe tem uma estrutura comum em três atos, com uma recompensa mortal no meio da canção e um refrão que você não consegue evitar. Ainda assim, Roan ficou surpresa com o sucesso.>
"Eu simplesmente lancei, meio que sem saber aonde iria chegar", relembra ela, "e ela durou o ano inteiro!">
É claro que a grande questão é sobre os próximos passos da estrela, agora que ela é o Som de 2025.>
Roan já antecipou duas novas canções nos seus shows, The Subway e The Giver. Mas tudo o que ela revela sobre o segundo álbum é que ela está "mais relutante em lançar um álbum que seja triste ou sombrio".>
"É tão bom festejar", explica ela.>
Analisando os últimos 12 meses, a cantora filosofa sobre o que significa ser o mais novo e intenso fenômeno do pop.>
"Muitas pessoas acham que a fama é o auge do sucesso. O que mais você pode querer além da adoração das pessoas?">
Roan confessa que a admiração dos desconhecidos é mais "viciante" do que ela esperava. "Tipo, eu entendo porque tenho tanto medo de perder esta sensação.">
"É muito assustador pensar que, um dia, as pessoas não irão se importar com você da mesma forma que agora – e acho que [esta ideia] vive na cabeça das mulheres de forma muito diferente dos homens.">
Por fim, Chappell Roan reconhece que o sucesso e o fracasso estão "fora do meu controle". Por isso, ela quer fazer boas escolhas.>
"Se eu puder olhar para trás e dizer 'não desmoronei sob o peso da expectativa e não aceitei sofrer abusos ou chantagens', pelo menos permaneci fiel aos meus princípios.">
"Como eu disse antes, sempre há opções.">
Chappell Roan foi eleita o 'Som de 2025' da BBC Rádio 1, por um grupo de mais de 180 músicos, críticos e especialistas do setor musical.>
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