Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 12:44
Os filhos de um homem que matou a esposa durante um surto psicótico antes de tirar a própria vida disseram à BBC que não responsabilizam o pai pelo ocorrido.>
Chris e Ruth Stone-Houghton morreram em setembro de 2022, na casa da família em Portsmouth, no Reino Unido.>
Uma investigação judicial concluiu que houve "falha em prestar apoio integral" à família depois que Chris recebeu alta de um hospital psiquiátrico, semanas antes das mortes.>
Oliver, filho do casal, disse: "Não precisamos perdoá-lo. Em nenhum momento duvidei de que tudo foi causado pela doença".>
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O Hampshire and Isle of Wight Healthcare NHS Foundation Trust afirmou que "aprendeu com este caso" para aprimorar o cuidado oferecido a pacientes em crise de saúde mental e a seus familiares.>
Segundo Oliver e Abbie Stone-Houghton, Chris e Ruth eram pais amorosos e atenciosos, além de profundamente dedicados um ao outro.>
"Tivemos uma infância maravilhosa e, mesmo na vida adulta, sempre fomos muito próximos dos dois", disse Abbie.>
Chris administrava um negócio de joias no qual Ruth também trabalhou. Sem histórico de problemas de saúde mental, ele passou a apresentar pensamentos delirantes depois que a empresa enfrentou dificuldades durante a pandemia de covid-19 e fechou o negócio em abril de 2022.>
O quadro evoluiu para paranoia crescente: Chris acreditava, de forma equivocada, que estava sendo monitorado pelo telefone e pelo computador e temia que alguém quisesse lhe fazer mal. Ele se isolou, passou a aparentar maior fragilidade e manifestou pensamentos suicidas.>
"Ele sentia que não tinha mais nada a oferecer", disse o filho, Oliver, hoje com 30 anos.>
Chris acabou diagnosticado com depressão psicótica e, em julho de 2022, tentou tirar a própria vida.>
Ele foi internado de forma compulsória e encaminhado a uma ala de saúde mental do Hospital St James, em Portsmouth, administrado pelo serviço público de saúde britânico (NHS). A família acreditava que a internação duraria vários meses.>
Em menos de quatro semanas, porém, Chris recebeu alta e voltou para casa contra a vontade dos familiares. Ruth estava "aterrorizada" com a possibilidade de o marido voltar a se automutilar, segundo o inquérito.>
Segundo Oliver, o fato de serem uma família amorosa acabou jogando contra eles, pois a equipe teria avaliado que "não precisaria se preocupar tanto com o retorno dele para casa quanto talvez em outros casos".>
"Não recebemos praticamente nenhuma orientação sobre o que fazer ou não fazer", afirmou Abbie. "Estávamos apenas fazendo o que achávamos certo e torcendo para que tudo desse certo.">
O psiquiatra Denzel Mitchell, consultor que trabalhava no Hospital St James, afirmou que a decisão pela alta se baseou sobretudo no fato de Chris Stone-Houghton não ter se automutilado nem apresentado episódios psicóticos durante a internação.>
A legista Rachel Spearing concluiu que, embora a decisão tenha sido "adequada", a forma como foi executada foi "insegura", com uma "avaliação de risco inadequada".>
Chris tinha histórico de recusar o uso de medicamentos antipsicóticos em casa e precisou ser persuadido a tomá-los no hospital, fator que não foi devidamente considerado. Segundo Spearing, a família também não recebeu apoio suficiente, apesar da responsabilidade que lhe foi atribuída de garantir a adesão ao tratamento.>
Ela afirmou ser "improvável" que Chris estivesse tomando a medicação no momento das mortes.>
O inquérito também apontou falhas no acesso a apoio adequado. Chris não recebeu intervenção psicológica durante a internação porque a ala não contava com um psicólogo.>
Após o retorno para casa, a equipe comunitária de crise solicitou duas vezes que ele fosse encaminhado para um tratamento de intervenção precoce para psicose, considerado o mais rápido e eficaz disponível, mas os pedidos foram negados.>
Chris tinha 66 anos, acima do limite etário de 65 anos estabelecido pelo NHS para esse serviço.>
"Se ele tivesse recebido esse tratamento, não sabemos o que poderia ter acontecido", afirmou Oliver.>
Em vez disso, Chris entrou em uma fila de espera de um ano para terapia especializada por meio de acompanhamento psicológico.>
Segundo o inquérito, caberia à família alertar a equipe de crise caso surgissem sinais de recaída. No entanto, nenhuma avaliação formal de cuidador foi realizada para Ruth, de 60 anos, responsável por acompanhar o marido.>
Em 14 de setembro de 2022, Chris matou Ruth na casa da família, em Portsmouth, antes de tirar a própria vida. A legista Rachel Spearing concluiu que ele estava "provavelmente sob o efeito de um episódio psicótico".>
Segundo Spearing, as mortes não poderiam ter sido previstas, e Chris e Ruth formavam um casal "amoroso e feliz".>
Oliver e Abbie disseram que eram "extremamente unidos" como família e que não responsabilizam o pai pelo que aconteceu.>
"Nós dois sentimos isso com muita convicção e sabemos, no fundo do coração", afirmou Oliver, "que [nosso pai] não seria capaz disso como uma pessoa sã e racional, e que foi a doença que levou os acontecimentos a se desenrolarem daquela forma".>
"Não deixamos que isso afete as lembranças que temos dos dois", completou.>
Em nota, o Hampshire and Isle of Wight Healthcare NHS Foundation Trust afirmou apresentar "suas mais profundas condolências à família e aos amigos de Ruth e Chris".>
O órgão acrescentou que "aprendeu com este caso, e com outros, para aprimorar continuamente a forma como cuida e apoia pessoas em crise de saúde mental e suas famílias".>
Caso você seja ou conheça alguém que apresente sinais de alerta relacionados ao suicídio, ou tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:>
- O Centro de Valorização da Vida (CVV), por meio do telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opção de conversa por chat, e-mail e busca por postos de atendimento em todo o Brasil;>
- Para jovens de 13 a 24 anos, a Unicef oferece também o chat Pode Falar;>
- Em casos de emergência, outra recomendação de especialistas é ligar para os Bombeiros (telefone 193) ou para a Polícia Militar (telefone 190);>
- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo telefone 192;>
- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) 24h;>
- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimento em saúde mental gratuito em todo o Brasil.>
- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e grupos de apoio.>
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