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Candidato americano usa o Tinder para conquistar eleitores

Candidato americano usa o Tinder para conquistar eleitores

Suraj Patel, de 34 anos, disputa as primárias do Partido Democrata por Nova York

Publicado em 26 de junho de 2018 às 15:16

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Suraj Patel, de 34 anos, disputa as primárias do Partido Democrata por Nova York. (Divulgação)

Filho de imigrantes indianos, o democrata Suraj Patel, de apenas 34 anos, está tentando desbancar a veterana Carolyn Maloney — deputada federal por Nova York desde 1993 — nas primárias do Partido Democrata, que acontecem nesta terça-feira. Apesar da pouca idade, Patel tem na bagagem participação na campanha eleitoral de Barack Obama em 2008 e atuação na Casa Branca durante os dois mandatos do ex-presidente. Mesmo assim, a máquina do partido está ao lado de Carolyn e, com poucos recursos para combatê-la, o jovem concorrente adotou estratégias pouco usuais, como recorrer a aplicativos de paquera, como o Tinder, em busca de eleitores.

Apesar de inusitada, a abordagem faz sentido, sobretudo para o público-alvo de Patel, de adultos jovens que raramente atendem chamadas telefônicas e evitam ou bloqueiam a publicidade tradicional em televisão, rádio, jornais e internet. De um bar em East Village, Patel e voluntários de sua campanha passam o tempo livre nos aplicativos Tinder, Grindr e Bumble, dando “swipes” — curtidas em perfis de outros usuários — de forma frenética, relata o “New York Times”. O objetivo não é encontrar parceiros sexuais, mas informar os jovens sobre a importância de participarem das primárias democratas.

A tática foi batizada como “Tinder banking”, em referência ao “phone banking”, método usado tradicionalmente por políticos americanos, com voluntários que telefonam para os eleitores do partido. Patel e os colegas de campanha criaram contas nesses aplicativos usando fotos atraentes, normalmente que não são deles, e começaram a buscar por “matches” — quando dois usuários se “curtem” mutuamente. Patel, por exemplo, usa fotografias do irmão.

— É como um catfishing (golpe usado na internet onde contas falsas são criadas para enganar outras pessoas emocionalmente) — admite Patel. — Mas você diz para as pessoas quem você é.

Assim que a pessoa responde, esperançosa com o avanço de uma paquera, Patel e os voluntários se apresentam, perguntando sobre a participação política. Segundo a porta-voz da campanha, Lis Smith, o “Tinder banking” faz parte de uma gama de ações para encontrar os eleitores “onde eles estão”. Nas primárias de 2016 em Nova York, apenas 2% dos jovens adultos de 18 a 34 anos participaram.

— Claramente as formas tradicionais de campanha, com ligações telefônicas ou batendo de porta em porta, não funcionam mais por aqui — comentou Lis, à BBC. Além do “Tinder banking”, a campanha busca votos em estúdios de ioga e distribui apoios para copos nos bares de Manhattan, Brooklyn e Queens.

Críticas por enganar as pessoas

A eficácia da abordagem ainda não pode ser medida, mas o “Tinder banking” recebeu uma chuva de críticas. Pelo Twitter, David Nir, diretor do site ativista Daily Kos, classificou a tática como “repugnante”, por “usar a fraude para ganhar votos”. A blogueira Amanda Smith, que participa ativamente de aplicativos de paquera, afirma que a estratégia é “cínica e perigosa”.

— Quando você é uma mulher num aplicativo de paquera, todas as vezes que curte alguém você investe na ideia de que esta é a pessoa que ela diz ser, e que não vai te estuprar ou te assassinar — criticou. — Você é enganada todas as vezes. Isso só reforça que ninguém é quem eles dizem ser.

Lis, por sua vez, defende a campanha, explicando que todas as contas são claramente identificadas no perfil e que a reação do público tem sido “consistentemente positiva”, ajudando no contato com centenas de eleitores em potencial.

— Não estamos surpresos que o establishment político esteja esnobando a nossa campanha por buscarmos novas táticas, mas estamos dispostos a assumir alguns riscos — comentou Lis.

A estratégia de Patel foi inspirada numa iniciativa de duas jovens voluntárias britânicas, Yara Rodrigues Fowler e Charlotte Goodman, que criaram com sucesso um robô no Tinder para a campanha do Partido Trabalhista nas eleições do ano passado no Reino Unido. Em artigo publicado no “New York Times” no início do mês, elas explicaram por que a ideia funcionou.

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“O Tinder é um canal de comunicação íntimo”, escreveram. “Quando você está voltando para casa depois do trabalho e alguém te para na rua, você está ocupado, não quer ouvir. Mas no Tinder, as pessoas querem conversar e falam abertamente. Não é incomum divulgar uma preferência sexual tabu na mensagem de apresentação. E a política é pessoal”.

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