Publicado em 6 de dezembro de 2025 às 21:44
Dizer "não" ao chefe parece impossível.>
Seja qual for o trabalho, todos nós preferimos causar boa impressão a decepcionar.>
Mas a ambição pode ser um terreno escorregadio: quando você percebe, o trabalho já entrou em casa, tomou os fins de semana e ocupou o tempo com a família e os amigos.>
Especialistas afirmam que aprender a impor limites é a melhor forma de conter essa invasão.>
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Uma mudança simples na linguagem ajuda a reforçar limites, afirma a coach de carreira Helen Tupper, cofundadora da Squiggly Careers.>
Ela recomenda trocar "eu não posso" por "eu não quero".>
Dizer "'eu não posso' abre espaço para negociação, as pessoas podem tentar convencer você de que, na verdade, você consegue", diz Tupper.>
Mas "eu não quero" é mais definitivo e difícil de contestar.>
Por exemplo, você pode dizer "não participo de reuniões após as 17h de quarta-feira, porque busco os meus filhos nesse horário", sugere Tupper.>
A modelo e chef de TV Lorraine Pascale afirma que não fazer isso acabou levando ao seu esgotamento.>
Além da carreira na televisão, ela abriu uma confeitaria em Covent Garden (bairro de Londres) e publicou uma série de livros de receitas, tudo enquanto criava a filha.>
"Eu simplesmente não era muito boa em dizer não.">
"Você não quer desagradar ninguém, todo mundo fica te dizendo o que você deveria estar fazendo. Então você simplesmente continua", disse ao programa The Woman's Hour Guide to Life (A Hora da Mulher - Guia para a Vida, em tradução livre).>
Ela acrescenta que o seu perfeccionismo, incluindo aprovar pessoalmente cada receita de seus livros, não ajudava.>
Para Pascale, o esgotamento (burnout) se manifestou física e mentalmente, incluindo "não querer se aproximar" de bolos.>
"Foi como uma reação de corpo inteiro; uma sensação de aperto no peito", explica. "Eu discutia comigo mesma. Era muita autocrítica, sentia muita culpa e muito cansaço.">
A experiência de Pascale mostra que o burnout pode afetar qualquer pessoa, em qualquer nível, mesmo que as estatísticas indiquem maior probabilidade entre mulheres — em parte devido às responsabilidades familiares adicionais.>
Claire Ashley, autora de The Burnout Doctor (A Médica do Burnout, em tradução livre), escrito após vivenciar o problema ela mesma, diz que, na prática, manter uma rotina rígida sobre o horário de término do trabalho permite que o cérebro complete o "ciclo do estresse" e aproveite o tempo livre.>
Mas a solução real é ajustar seus objetivos à sua "capacidade atual".>
"Pergunte a si mesmo se o que você deseja alcançar é razoável, considerando seus recursos mentais e emocionais no momento", Ashley diz.>
No caso de Pascale, isso envolveu afastar-se da cozinha e começar a fazer terapia. A experiência a ajudou a entender que os elementos tóxicos de sua necessidade de impressionar vinham da infância em lares adotivos.>
Desde então, Pascale começou a estudar psicologia e afirma estar "muito melhor", retornando gradualmente à cozinha de forma mais "intencional".>
É claro que o estresse e longas jornadas fazem parte de qualquer trabalho.>
Mas as estatísticas mostram aumento no número de trabalhadores chegando ao limite.>
Pesquisas sugerem que 9 em cada 10 trabalhadores experienciaram níveis altos ou extremos de pressão ou estresse no último ano.>
Em 2023, 421 pessoas foram afastadas do trabalho por burnout no Brasil — maior número dos últimos dez anos, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do Ministério da Previdência Social. O aumento ocorreu principalmente durante a pandemia. De 178 afastamentos por burnout, em 2019, o Brasil passou para 421, em 2023, um crescimento de 136%.>
Se sentir estressado ou esgotado não é o mesmo que ter síndrome de burnout ou síndrome do esgotamento profissional, embora se use muitas vezes o termo de forma ampla.>
Ashley explica que exaustão, distanciamento e queda de desempenho são os três sintomas definidores.>
Se não apresentarmos todos eles, ainda não há diagnóstico de burnout. Mas, claro, isso não significa que não estejamos a caminho dele.>
Tupper, da Squiggly Careers, lembra que é importante parar, celebrar e reconhecer seus próprios sucessos, e não apenas focar na próxima tarefa.>
Se esforçar para evitar comparações com colegas também ajuda a "correr a própria corrida", acrescenta Tupper.>
É claro que nem todos têm condições de se impor no trabalho, especialmente em ambientes corporativos ou hierárquicos.>
O psiquiatra do NHS (sistema público de saúde do Reino Unido) e autor de Burnout-Free Working (Trabalho Sem Esgotamento, em tradução livre), Richard Duggins, frequentemente atende pacientes que sentem que não conseguem estabelecer limites.>
Ele os incentiva a conversar com seus chefes, independentemente do nível hierárquico.>
"A maioria dos empregadores, mesmo os mais rígidos, escuta e faz ajustes quando entende que prevenir o burnout beneficia a todos", diz.>
Segundo Duggins, estabelecer limites, pedir ajuda ou ajustar a carga de trabalho ou a flexibilidade pode ajudar; mas, no fim, se o ambiente de trabalho não mudar, precisamos fazer mudanças para nos proteger.>
Valorizar as diferentes fases da vida também pode contribuir, observa Ashley.>
"É aceitável reconhecer que alguém que trabalha meio período, ou com responsabilidades familiares, pode não conseguir acompanhar a carga de trabalho de um colega mais jovem.">
Como resume Pascale: "Ser ambicioso é bom. Ser ambicioso é algo bonito, mas aprenda a dizer não com mais frequência.">
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