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As orcas abandonadas em parque temático fechado na França

As orcas abandonadas em parque temático fechado na França

Quando o ativista das redes sociais Seph Lawless invadiu o maior parque marinho abandonado da Europa, sua filmagem das orcas nadando passivamente em tanques repletos de algas criou grandes ondas na internet.

Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 09:44

Imagem BBC Brasil
As orcas Wikie e Keijo nunca souberam o que é a vida sem apresentações até o fechamento do parque Crédito: Seph Lawless

"Se isso demorar, elas vão morrer."

Isso foi o que pensou o ativista de redes sociais Seth Lawless, depois de ver de perto a situação de duas orcas no maior parque marinho abandonado da Europa.

Sua filmagem ali, após invadir o lugar, mostrando orcas nadando passivamente em tanques repletos de algas, teve grande repercussão na internet.

As orcas Wikie e Keijo eram queridas pelo público, mas não se apresentam desde que o parque Marineland em Antibes, no sudeste da França, fechou suas portas, em janeiro de 2025.

Cerca de 11 meses depois do seu fechamento, o vídeo viral de Lawless mostrando as orcas cativas no parque vazio foi visualizado mais de 33 milhões de vezes. Muitos questionam sobre o bem-estar daqueles mamíferos marinhos.

O Marineland declarou à BBC que "os animais estão em muito boa saúde e são muito bem cuidados". Mas o parque reconheceu que "a situação é preocupante e de extrema urgência", que existem "riscos para o bem-estar dos animais" e que o governo francês deveria assumir responsabilidade pela situação.

Lawless contou que "as pessoas estão dispostas a tentar resolver esta situação e estão compartilhando como loucas na internet".

Ele diz que celebridades como a modelo Bella Hadid, o ator Joaquin Phoenix e a cantora Kacey Musgraves compartilharam a postagem.

"Não é rede social, é um movimento social", afirma ele.

Imagem BBC Brasil
O parque Marineland fechou suas portas em janeiro de 2025 Crédito: Seph Lawless

Apenas três locais na Europa mantêm orcas em cativeiro, segundo a organização global Whale and Dolphin Conservation.

Um deles é o Marineland, operado pela empresa espanhola Parques Reunidos. Ela administra mais de 30 parques de diversão pelo mundo.

A Parques Reunidos fechou as portas do Marineland no início do ano, depois da aprovação de uma nova legislação na França em 2021. A nova lei sobre a crueldade animal proíbe a exibição de mamíferos marinhos em cativeiro, como baleias, botos ou golfinhos, a partir do final de 2026.

Com as dificuldades de transporte e cuidado de animais deste tamanho, o parque e as autoridades francesas não conseguiram encontrar um novo lar para as orcas.

A Parques Reunidos ainda está tentando transferir as baleias para o Loro Parque, um parque marinho alternativo na Espanha, mas as autoridades espanholas e francesas bloquearam as tentativas feitas no início deste ano.

Muitas ONGs criticaram o plano, já que Wiki e Keijo ainda poderiam acabar sendo usadas em apresentações.

O Loro Parque em Tenerife, nas ilhas Canárias, mantém quatro orcas em cativeiro, responsáveis pelo que o parque descreve como "apresentação educativa" para o público.

Em 2009, uma das orcas do zoológico, Keto, atacou um treinador durante o ensaio de uma apresentação, resultando na morte de Alexis Martínez, de 29 anos. Keto morreu em 2024; três outras orcas morreram ali entre março de 2021 e setembro de 2022.

O outro local europeu a abrigar uma orca em cativeiro é o Moskvarium, na Rússia. Naya, a orca residente do oceanário de Moscou, estava inicialmente em exibição com dois outros animais da espécie, que já morreram.

Imagem BBC Brasil
Os tanques estão chegando ao final da sua "vida útil", segundo o Marineland Crédito: Seph Lawless

O homem responsável pela filmagem viral tem experiência em documentar espaços abandonados na internet.

Ele trabalha com o pseudônimo Seph Lawless (Lawless pode ser traduzido para o português como "fora da lei"). Na busca por conteúdo, ele burlou a lei em várias ocasiões.

"Acredito que, às vezes, é preciso desrespeitar a lei para fazer o que é certo", disse ele à BBC.

Ele se interessou em documentar o parque vazio quando descobriu que as baleias ainda ocupavam os tanques degradados.

"Imagine, baleias nascidas em cativeiro, é tudo o que elas conhecem", destaca ele.

"Elas divertem as pessoas, se enriquecem incrivelmente com os aplausos do público, os funcionários que estão ali, o barulho, os elogios... e, agora, isso foi tirado delas."

Imagem BBC Brasil
Keijo nasceu no Marineland, mas muitos parques encerraram seus programas de criação de animais Crédito: Seph Lawless

Lawless tinha entrado em contato com o Marineland pedindo autorização para filmar os animais.

"Quando eles disseram 'você não tem autorização para entrar' e encerraram as comunicações comigo, eu sabia que eles não queriam que eu visse o que eles estavam escondendo ali dentro."

Ele suspeitou da qualidade da água e da nutrição das orcas. Por isso, resolveu voar dos Estados Unidos para a França e checar de pessoalmente a situação dos animais.

Lawless invadiu o parque em três ocasiões para documentar as condições de vida de Wikie e Keijo.

Ele acredita que a filmagem obtida ilegalmente contradiz as afirmações do Marineland, de que as orcas estão sendo cuidadas adequadamente no parque fechado.

Durante sua visita mais recente, as orcas começaram a fazer as ações típicas de uma apresentação ao público.

"Talvez elas soubessem que eu estava ali para tentar ajudá-las", especula ele. "Talvez elas achassem apenas que eu era um treinador e quisessem comida?"

Imagem BBC Brasil
Os críticos defendem que a vida no cativeiro é cruel para as orcas, que podem nadar até 160 km por dia na natureza Crédito: Seph Lawless

O Ministério de Transição Ecológica da França declarou que aguarda um relatório avaliando as condições das piscinas e do bem-estar dos animais.

O chefe de comunicações do Marineland também expressou à BBC sua preocupação com a qualidade das piscinas. Ele afirma que elas já atingiram o final da sua "vida útil".

"Os treinadores do Marineland ainda estão presentes no parque para garantir o bem-estar dos animais", destacou a empresa.

Lawless receia o pior para Wikie e Keijo. Eles precisam encontrar um novo lar antes que a legislação entre em vigor, em um ano. E ainda não há um plano claro definindo para onde eles irão.

"Quanto trabalho, logística, energia e dinheiro você acha que o governo francês ou o Marineland irão dedicar a duas baleias?

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