Publicado em 13 de agosto de 2025 às 17:25
Sem encontrar abertura no governo de Donald Trump para negociar, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva anunciou na quarta-feira (13/08) um pacote de medidas para mitigar o impacto econômico do tarifaço de 50% que atinge boa parte das exportações brasileiras aos Estados Unidos.>
As ações incluem linhas de crédito subsidiadas, adiamento da cobrança de impostos e compras governamentais de alimentos dos setores impactados.>
Além disso, o pacote prevê que as empresas beneficiadas sejam obrigadas a manter empregos.>
A sobretaxação dos produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos foi anunciada em julho e entrou em vigor em 6 de agosto.>
>
O governo Lula tem estudado medidas de retaliação contra produtos americanos, mas evitou o caminho até o momento, temendo mais impactos negativos na economia brasileira e o estremecimento ainda maior nos canais de negociação.>
"Nós não estamos anunciando reciprocidade, veja como nós somos negociadores. Nós não queremos, em um primeiro momento, fazer nada que justifique piorar nossa relação", disse Lula, ao destacar a ausência de retaliações durante o anúncio das medidas de apoio aos setores afetados.>
Uma das justificativas apresentadas por Trump para o tarifaço foi uma suposta perseguição que seu aliado, o ex-presidente Jair Bolsonaro, estaria sofrendo na Justiça brasileira, onde enfrenta um processo criminal sob acusação de ter liderado uma tentativa de golpe de Estado.>
Depois disso, Bolsonaro foi colocado em prisão domiciliar pelo Supremo Tribunal Federal.>
A Corte entendeu que o ex-presidente estava usando um governo estrangeiro para tentar interferir no seu processo, incorrendo em crime de obstrução de Justiça.>
Ao anunciar o pacote, batizado de Brasil Soberano, Lula repudiou as acusações da Casa Branca de que a atuação do STF estaria desrespeitando os direitos humanos e a liberdade de expressão. >
Um relatório da gestão Trump citou diretamente o ministro Alexandre de Morais, criticando suas decisões que derrubaram contas de aliados de Bolsonaro em redes sociais.>
"Aqui no Brasil temos um Poder Judiciário autônomo, garantido na Constituição de 1988, em que o Poder Executivo e o Congresso não têm nenhuma incidência a julgamento", disse. >
"Ninguém está desrespeitando regras dos direitos humanos, como estão tentando apresentar ao mundo. Nossos amigos americanos, toda vez que tentam brigar com alguém, eles criam a imagem de demônio", continuou.>
As medidas entram em vigor com a edição de uma Medida Provisória, que ainda terá que ser aprovada pelo Congresso.>
Segundo o Ministério da Fazenda, o impacto fiscal das medidas será de R$ 9,5 bilhões, mas a intenção do governo é que seja aprovada também uma lei complementar permitindo que esses gastos fiquem de fora da meta fiscal desse ano.>
Entenda melhor a seguir o pacote anunciado.>
O governo anunciou uma mudança no Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para que seus recursos possam ser usados em empréstimos subsidiados para empresas afetadas pelo tarifaço.>
Segundo o Ministério da Fazenda, isso vai liberar R$ 30 bilhões para empréstimos.>
Antes dessa mudança, o FGE era usado como garantia para operações de crédito para exportações, mas não para empréstimos diretamente. Além disso, também garantia o pagamento de dívidas de importadores estrangeiros com exportadores brasileiros.>
O pacote anunciado prevê que a liberação dos empréstimos priorizará as empresas mais afetadas pelo tarifaço, levando em conta, por exemplo, "a dependência do faturamento em relação às exportações para os EUA".>
O governo também anunciou que pequenas e médias empresas poderão recorrer a fundos garantidores para acessar o crédito. Para isso, a União vai depositar R$ 4,5 bilhões em fundos administrados por Banco do Brasil e BNDES.>
Esse aporta é representa parte do curto de R$ 9,5 bilhões do pacote.>
O outros R$ 5 bilhões virão da ampliação do Reintegra, programa que permite que exportadores recebam a devolução de parte dos impostos pagos ao longo da cadeia produtiva por meio de créditos tributários.>
"A medida aumenta em até 3 pontos percentuais o benefício para empresas cujas exportações de produtos industrializados foram prejudicadas por medidas tarifárias unilaterais", anunciou o governo.>
Com isso, micro e pequenas empresas passarão a receber até 6% de volta, em vez dos 3% atuais. Já as médias e grandes empresas receberão 3,1% dos tributos de volta, contra os 0,1% a que têm direito hoje.>
A medida valerá até 2026, já que em 2027 todas as exportações deixarão de ser tributadas no país, com a entrada em vigor da reforma tributária já aprovada no Congresso.>
O pacote inclui uma proposta de alteração da lei que regula as compras públicas de alimentos para facilitar que União, Estados e municípios possam adquirir produtos perecíveis que seriam vendidos aos EUA e ficaram encalhados após o tarifaço.>
Os alimentos poderão ser usados na merenda escolar, por exemplo. Não há, porém, uma meta de quanto será comprado, explicou o governo federal.>
A medida atendeu, em especial, à demanda de Estados mais atingidos, como Ceará e Pernambuco.>
No caso do Ceará, governado por Elmano de Freitas (PT), os setores de pescados e frutas são grandes exportadores para os Estados Unidos.>
A paralisação das exportações em alguns setores afetados pelas tarifas já tem levado empresas a conceder férias coletivas.>
O governo tenta evitar demissões, condicionando o acesso ao pacote emergencial à manutenção dos postos de trabalho.>
Será criada a Câmara Nacional de Acompanhamento do Emprego para monitorar as empresas atingidas e fiscalizar obrigações e acordos trabalhistas.>
Também fará parte de suas atribuições "engajar trabalhadores e empregadores em negociações para atender às necessidades das empresas afetadas", assim como "aplicar mecanismos relacionados a situações emergenciais, como suspensão temporária de contratos, dentro da lei".>
A atuação do novo órgão será coordenada via Câmaras Regionais nas Superintendências Regionais do Trabalho.>
Um estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) encomendado pelas centrais sindicais estima que o tarifaço pode fechar 726,7 mil postos de trabalho.>
Já a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estimou um impacto menor. Segundo o Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), o tarifaço de Trump pode eliminar 188 mil empregos.>
No entanto, a esperada diversificação do comércio brasileiro como reação às tarifas reduziria essas perdas para 57 mil, estimou a universidade.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta