Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 17:44
A Pantone se manifestou. E a cor do ano de 2026 é... o branco.>
Mais precisamente, um off-white fofo chamado Dançarino das Nuvens, com tom de creme de baunilha. Mais do que uma tendência de decoração, ele se parece com o interior de um marshmallow.>
Mas será que um tom acromático como este pode capturar o estado de espírito global? Bem, o professor de ciência das cores Stephen Westland, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, não se convenceu.>
Para ele, "a cor do ano é um artifício para promover interesses comerciais".>
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"A Pantone é o organismo de previsão mais conhecido, mas existe pelo menos uma dúzia de outros que escolhem uma cor do ano e eles normalmente não se põem de acordo.">
De fato, a WGSN, outra empresa de previsão de tendências, proclamou há algum tempo o verde-azulado como sua cor do ano de 2026. E outros especialistas em design defendem que os tons terrosos serão populares no ano que vem.>
Ou seja, nenhum deles nos ajuda a decidir qual cor de tinta devemos usar na nossa sala de estar.>
O Dançarino das Nuvens agora faz parte de uma longa tradição de nomes de tinta que variam entre o peculiar e o absurdo — uma estratégia de marketing que, por si só, se transformou em uma forma de arte.>
A fábrica de tintas britânica Farrow & Ball já nos deu cores como Salmão Morto, Hálito de Elefante, Arsênico e o clássico e saboroso Marrom-Brócolis.>
E não para por aí. O fabricante americano Benjamin Moore oferece Queijo Nacho, Robô Perigoso Dunn-Edwards... e a lista fica ainda mais estranha daqui em diante.>
As marcas criam estes nomes abstratos porque são sugestivos e fáceis de memorizar, não por descreverem a cor, mas porque vendem o clima que elas oferecem.>
A Pantone defende sua decisão de escolher um tom branco chantili como a cor do ano de 2026.>
"O Dançarino das Nuvens expressa nossa aspiração por um futuro livre dos excessos e da toxicidade", declarou à BBC a diretora-executiva do Instituto Pantone das Cores, Lee Eiseman.>
Em um mundo saturado pelo ruído e pela hiperconectividade, a Pantone afirma que o branco é a solução, a limpeza do terreno; uma aterrissagem suave para as mentes superestimuladas.>
As cores nos moldam mais do que imaginamos.>
Erguer as cortinas para apreciar o céu azul, não as nuvens cinzentas, pode alterar nossa perspectiva. E escolher uma blusa rosa em vez de preta revela mais sobre os nossos sentimentos do que pretendemos.>
O clima e o estado de espírito moram no centro de qualquer paleta interna. Mas seguir a última tendência, de fato, garante a felicidade doméstica?>
"A cor é uma linguagem, uma forma de expressão", afirma a vice-presidente do Instituto Pantone das Cores, Laurie Pressman.>
Para ela, selecionar a cor do ano não é questão de ditar tendências, mas sim de capturar "o estado de espírito subliminar global".>
A Pantone emprega um exército de "antropólogos das cores". Eles analisam a cultura, moda, arte, cinema, viagens e exibições, incorporando percepções e inspiração das ruas de cidades como São Paulo, Tóquio, Londres e Nova York.>
E, com 2025 chegando ao seu final, suas conclusões indicam um mundo sobrecarregado pelo constante ruído e hiperconectividade, com uma mudança coletiva rumo à serenidade.>
"Vivemos em uma cultura do alvoroço, 24 horas por dia, sete dias por semana", prossegue Pressman.>
"Com os estímulos vindo para nós de todas as direções, procuramos alívio e desconexão. As cores ficam mais suaves, refletindo nosso desejo de simplicidade e autenticidade.">
Mas quais tons oferecem o melhor caminho para a harmonia interior?>
A cor do ano de 2026 da Pantone — Dançarino das Nuvens — remete à imagem de nuvens brancas fofas e pretende induzir sentimentos de vastidão.>
"Ela nos convida para um espaço onde as funções e os sentimentos são interligados, para construir atmosferas de serenidade e amplitude", explica Eiseman.>
Culturalmente, o branco é sinônimo de novos começos e vestidos de noiva. A página em branco é o prelúdio de um novo poema ou desenho.>
A cor branca serve de refúgio visual. Ela representa a essência da roupa de cama limpa esvoaçando.>
Eiseman e Pressman concordam que o branco é versátil, estético e atemporal, combinando facilmente com tons pastéis, além do seu total contraste com o preto. E também serve de apoio para tons mais brilhantes, fornecendo essencialmente "uma base limpa e moderna, com espaço para trabalhar".>
"O verde-azulado é um tom que defende a importância de colocar a Terra em primeiro lugar", defende o organismo previsor de tendências WGSN, que indicou este tom como sua cor de 2026.>
Sua visão é que o tom marítimo reflete o desejo de conexão com as cores encontradas na natureza.>
Sua chefe de interiores, Gemma Riberti, afirma que o verde-azulado, na intersecção entre a terra e o oceano, "incorpora a restauração e o escapismo", capturados em uma lata de tinta.>
O CEO (diretor-executivo) da marca de tintas Mylands, Dominic Myland, concorda. Para ele, "os tons verde-azulados se tornarão ainda mais proeminentes, pois são calmantes e de fácil decoração".>
O banheiro saturado com verde-azulado da imagem ilustra esta questão. Equivalente visual de um abraço aquático, o cômodo é embebido pela pintura das paredes, marcenaria e teto, todos da mesma cor.>
"As pessoas buscam cores que envolvam um cômodo e criem uma sensação de conforto", destaca Myland.>
Os tons vermelhos terrosos, com suas ricas e distintas variações, continuam sendo populares, com as cores vinho e ameixa de 2025 sendo sutilmente reinventadas.>
O piso de terracota restaurado desta sala de jantar combina com a tinta "vermelho-bronze" do fabricante britânico Little Greene nas paredes e no teto.>
"Ricos e reconfortantes, os tons marrons, roxos e beterraba são ideais para uma atmosfera restauradora", afirma a diretora criativa da Little Greene, Ruth Mottershead. "Estas cores oferecem uma alternativa sofisticada para os marrons tradicionais.">
Seus tons de sangue combinam perfeitamente com as notas caramelo dos materiais naturais da mesa de madeira e da luminária de piso.>
A tendência para a simplicidade dos tons neutros é evidente na sala de jantar desta casa em estilo georgiano.>
A tinta cinza-ocre da marca Mylands combina com o branco-calcário no teto. Os tons simples destacam as obras de arte e a mobília antiga do ambiente.>
"Deixe as texturas trabalharem um pouco", aconselha a designer de interiores Venetia Rudebeck, uma das fundadoras do Studio Vero.>
"Existe uma suave nostalgia nas paletas que estão atraindo as pessoas", declarou ela à BBC. "Cerâmicas dos anos 1970, velhas bibliotecas e tons campestres, mas usados em camadas, de forma moderna.">
O uso de paletas da mesma família com um tom comum está na moda. Este visual é capturado nos tons de bege, creme e marrom castanho da marca britânica Earthborn.>
"Criar um ambiente interno restaurador começa com a definição da atmosfera", segundo a chefe de criação da Earthborn Paints Sanders, Cathryn Sanders.>
"Formamos, então, camadas, com um tom intermediário nas paredes, uma tinta mais clara acima e um tom mais profundo na marcenaria.">
Observe a cobertura de cores, com os tetos ou partes superiores usando um tom mais claro, em relação à cor da parede. E, por fim, acabamentos misturados, com paredes foscas e marcenaria brilhante, acrescentam novas profundidades.>
"As cores de tinta são um pano de fundo para a decoração, não o herói principal", segundo o designer de interiores Christian Bense. "Misturar tons oferece um estilo mais orgânico para as nossas casas.">
Bense escolheu um marrom neutro quente nesta casa rural inglesa, o marrom-etrusco da marca Edward Bulmer, com pêssego-creme no teto. Uma profusão de texturas, que inclui cortinas creme, abajures, um sofá com revestimento ferrugem e um tapete afegão, completa a decoração.>
Os tons neutros quentes são populares, conta Sanders à BBC. "Essas cores reconfortantes estão mudando", segundo ela.>
"O que antes significava bege e rosa está se ampliando para incluir castanho-acinzentado e tons neutros intermediários complexos, que oferecem calor emocional, sem sobrecarregar o espaço.">
Ao iniciarmos o segundo quarto de século, os tons naturais estão na vanguarda dos esquemas de cores.>
Da mesma forma que o verde-azulado é popular atualmente, os azuis-minerais claros também contam com a preferência dos designers e moradores.>
"Estes tons parecem ser profundamente conectados à natureza", explica Rudebeck. "Eles trazem uma sensação de comodidade.">
O projeto de Rudebeck acima mostra paredes em tom azul-mineral claro, ao lado de destaques em verde na decoração, para refletir o mundo natural.>
Verde-jade e sálvia continuam sendo cores populares, com séculos de história e simbolismo que inclui desde a renovação da primavera até os tons suaves dos interiores georgianos.>
A designer Birdie Fortescue prevê essa mudança na sua colaboração com a marca britânica Fenwick & Tilbrook, inspirada nos suaves cenários da região onde nasceu — Norfolk, no leste da Inglaterra.>
Para ela, estes são "tons calmantes".>
"Use essas cores para acentuar detalhes estruturais, que são frequentemente esquecidos quando usamos branco", orienta ela.>
Por tudo isso, esteja você disposto a dançar nas nuvens, saborear um pedaço de queijo nacho ou provar a riqueza do vinho, uma coisa é certa: a cor nunca é apenas decoração. É memória e estado de espírito, com um toque de vaidade.>
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Culture.>
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