Publicado em 16 de julho de 2025 às 12:25
O governo dos Estados Unidos, sob comando de Donald Trump, anunciou oficialmente a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil, alegando práticas "desleais" que restringiriam o comércio americano. O procedimento, um dos instrumentos mais duros da política comercial dos EUA, pode abrir caminho para novas tarifas sobre produtos brasileiros além dos 50% já anunciados pelo republicano.>
A ordem partiu do próprio Trump, que relacionou o movimento às decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e a supostos prejuízos sofridos por empresas de mídia social dos EUA no Brasil. >
Em comunicado oficial, o embaixador do comércio dos EUA, Jamieson Greer, detalhou as práticas brasileiras que motivaram a investigação. >
"O USTR detalhou as práticas comerciais desleais do Brasil, que restringem a capacidade dos exportadores americanos de acessar seu mercado há décadas, no Relatório Nacional de Estimativa de Comércio (NTE). Após consultar outras agências governamentais, consultores credenciados e o Congresso, determinei que as barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil merecem uma investigação completa e, potencialmente, uma ação corretiva", escreveu Greer no comunicado.>
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Entre as acusações apresentadas pelo governo americano estão:>
Greer afirmou que essas barreiras, tarifárias e não tarifárias, constam do Relatório Nacional de Estimativa de Comércio (NTE) e que, após consultar órgãos do governo, o Congresso e consultores credenciados, decidiu pela abertura da investigação que poderá levar a medidas punitivas adicionais.>
O jornal The New York Times classificou o anúncio como "uma das mais potentes armas de comércio" usadas pelos EUA e interpretou a medida como uma escalada que reacende o debate sobre o uso do poder tarifário por Trump para interferir em políticas internas de outros países.>
Segundo o NYT, a investigação pode não só gerar novas tarifas, como também ampliar a tensão política e diplomática entre Washington e Brasília.>
Na terça-feira (15/7), Trump conversou com jornalistas e afirmou que impôs as tarifas sobre o Brasil porque, segundo ele, "pode fazer isso". >
Ele também afirmou querer que mais dinheiro entre na economia dos Estados Unidos.>
"Estamos fazendo isso porque eu posso fazer. Ninguém mais seria capaz", disse o presidente americano, direto da Casa Branca, em Washington. >
"Temos tarifas em vigor porque queremos tarifas e queremos o dinheiro entrando nos EUA", acrescentou.>
No mesmo dia, Trump já havia dado novas declarações em apoio a Bolsonaro. Na ocasião, ele reagiu ao pedido de condenação feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR).>
O presidente dos EUA ponderou que não é amigo de Bolsonaro, mas trata-se de alguém que ele conhece. >
"O presidente Bolsonaro é um bom homem. Conheci muitos primeiros-ministros, presidentes, reis e rainhas, e sei que sou muito bom nisso. O presidente Bolsonaro não é um homem desonesto. Ele ama o povo brasileiro. Ele lutou muito pelo povo brasileiro", defendeu Trump.>
Ele também voltou a usar o termo "caça às bruxas" para classificar o julgamento do ex-presidente brasileiro no STF. >
"Ele [Bolsonaro] negociou acordos comerciais contra mim em nome do povo brasileiro, e foi muito duro, porque queria fazer um bom negócio para seu país. Ele não era um homem desonesto. Acredito que isso seja uma caça às bruxas e que não deveria estar acontecendo", complementou Trump.>
Em reportagem, o New York Times analisa que, "ao mirar o Brasil, Trump desencadeou queixas de usar os poderes comerciais para acertar contas políticas". >
"O presidente alegou ampla autoridade para emitir impostos elevados, mesmo sem a aprovação expressa do Congresso, na tentativa de combater o déficit comercial do país, abordar questões de segurança e, às vezes, interferir em assuntos internos de outro país", destaca o jornal.>
Desde o anúncio das novas tarifas contra o Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem defendendo a soberania das instituições brasileiras, inclusive da Justiça, e rejeitando a tutela estrangeira. >
Lula não descarta responder na mesma medida às tarifas de 50% — na segunda-feira, o presidente assinou um decreto que regulamenta a Lei da Reciprocidade Econômica.>
O Planalto ainda não estabeleceu detalhes de como responderia às tarifas americanas e que setores seriam afetados, mas a regulamentação do decreto dá ao governo brasileiro "munição" para eventualmente reagir a partir do 1° de agosto, data prevista para a entrada em vigor das tarifas anunciadas por Trump.>
Em entrevista à TV Globo na semana passada, porém, Lula afirmou que priorizaria, como resposta inicial às tarifas americanas, recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) e a um comitê com empresários atuantes no Brasil, reunidos recentemente em busca de possíveis soluções.>
Produtores de suco de laranja e de aço, além da Embraer, estão entre os setores brasileiros que mais podem ser afetados pelas tarifas americanas.>
Dos Estados, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais lideraram o total de valor exportado para os EUA de janeiro a junho. >
No ano passado, o comércio entre Brasil e EUA foi de US$ 90 bilhões.>
Washington reportou um superávit com o Brasil de US$ 7,4 bilhões em 2024, um aumento de 33% em relação ao ano anterior.>
Embora na carta de 9 de julho Trump não tenha citado diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do STF, o presidente americano afirmou que um julgamento contra Bolsonaro "não deveria estar acontecendo".>
Moraes é relator do processo contra Bolsonaro e de vários inquéritos mirando o ex-presidente e seus apoiadores.>
A carta de Trump também justificou as tarifas mencionando decisões do STF que puniram plataformas de mídia social dos EUA com multas e com a saída do mercado de mídia social brasileiro.>
Moraes também protagonizou essas decisões — no início do ano, a plataforma de vídeos Rumble saiu do ar por ordem do ministro, que argumentou que a empresa descumpriu ordens para suspender contas de investigados.>
Na sexta-feira passada (11), Moraes ordenou o bloqueio de mais uma conta no Rumble, desta vez do comentarista Rodrigo Constantino.>
A Rumble e a Trump Media, empresa do presidente americano que controla a rede Truth Social, apresentaram uma petição à Justiça americana na segunda-feira questionando a exigência brasileira.>
Ambas já estão movendo uma ação contra Moraes na Justiça americana.>
Em um contexto parecido, a rede social X, do bilionário Elon Musk, também ficou fora do ar no Brasil por ordem de Moraes, durante alguns dias no ano passado. >
Musk, que apoiou fortemente Trump em sua campanha e chegou a fazer parte do governo americano, fez na ocasião comentários públicos criticando o ministro brasileiro.>
Com pressão de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Jair Bolsonaro que se licenciou do cargo de parlamentar para morar nos EUA, o governo americano já deu sinais de que considera impor sanções contra Moraes.>
Em maio, o secretário de Estado do país, Marco Rubio, afirmou que a Casa Branca está analisando punir Moraes com base na Lei Global Magnitsky.>
As possíveis punições com base nessa lei incluem o bloqueio de bens e contas nos EUA, além da proibição de entrada em território americano.>
*Com informações de Osmond Chia, da BBC News; e da BBC News Brasil em Brasília>
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