Publicado em 19 de março de 2025 às 17:44
A julgar por algumas manchetes desta quarta-feira (19/3) na Rússia, Moscou acredita que a mais recente conversa telefônica entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump correu bem – pelo menos para o Kremlin.>
"Putin e Trump concordam em trabalhar juntos para resolver a questão da Ucrânia", concluiu o jornal Izvestia. >
"Conversa recorde entre Putin e Trump", declarou o diário Komsomolskaya Pravda. O site do jornal acrescenta: "Nas atuais circunstâncias, a Rússia obteve uma vitória diplomática.">
Por que alguns na Rússia estão falando em "vitória" após a ligação de duas horas feita na terça-feira (18/3)?>
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Provavelmente porque, no telefonema, Vladimir Putin não foi pressionado a fazer grandes concessões à Ucrânia ou aos Estados Unidos. >
Pelo contrário, ele, na prática, rejeitou a ideia de Trump de um cessar-fogo imediato e incondicional de 30 dias. >
Putin concordou apenas em suspender ataques a alvos da estrutura energética da Ucrânia por 30 dias. >
Nesta quarta, porém, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que seu país foi atacado por 150 drones russos durante a noite passada, "visando a infraestrutura energética, entre outros alvos". >
Após a ligação com Putin, em vez de pressionar Moscou com a ameaça de sanções ainda mais duras para forçar a Rússia a aceitar seu plano, o governo dos EUA reagiu elogiando o líder do Kremlin.>
"Tivemos uma ótima ligação", disse Trump à emissora americana Fox News.>
"Eu elogio o presidente Putin por tudo o que ele fez hoje nessa ligação para aproximar seu país de um acordo de paz definitivo", afirmou o enviado de Trump, Steve Witkoff.>
Moscou não apenas recusou um cessar-fogo incondicional, como o próprio presidente Putin estabeleceu suas próprias pré-condições para a paz.>
Entre elas, estão o fim da ajuda militar ocidental a Kiev, a interrupção do compartilhamento de inteligência com os ucranianos e a suspensão da mobilização na Ucrânia. >
Tais condições são amplamente vistas como uma forma de forçar a rendição ucraniana.>
É difícil imaginar Kiev concordando com isso.>
Nesta quarta, Trump teve uma conversa com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Os dois disseram que tiveram uma conversa telefônica "positiva". >
Zelensky disse ainda que a paz duradoura é alcançável ainda este ano.>
Uma nova conversa entre as delegações americana e russa está marcada para o domingo (23/2), na Arábia Saudita.>
Mas será que o governo Trump poderia, eventualmente, ser convencido por Moscou de que essas condições são aceitáveis? E, nesse caso, Washington pressionaria a Ucrânia a aceitá-las?>
Muito pode depender de o Kremlin conseguir convencer o presidente Trump de que ele tem mais a ganhar desenvolvendo boas relações com Moscou do que defendendo os interesses ucranianos.>
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Para reforçar esse ponto nas conversas com os americanos, autoridades russas já estão acenando com diversas vantagens econômicas e financeiras, destacando como a relação entre Rússia e EUA poderia ser mutuamente benéfica se os dois países revitalizassem suas relações bilaterais e colaborassem em projetos conjuntos.>
Recentemente, Vladimir Putin mencionou a possibilidade de cooperação entre EUA e Rússia na produção de alumínio e na mineração de minerais raros.>
A mensagem parece estar sendo compreendida.>
"Gostaríamos de ter mais comércio com a Rússia", disse Donald Trump na terça-feira (18/3), em entrevista à Fox News.>
"Eles têm algumas coisas muito valiosas para nós, incluindo minerais de terras raras. Eles possuem uma grande extensão de território, a maior do mundo. Eles têm recursos que poderíamos utilizar.">
Moscou pode estar esperando – e talvez calculando – que Donald Trump priorize garantir uma fatia desse "grande território russo" em vez de buscar um acordo aceitável para a Ucrânia que leve ao fim da guerra.>
Esse ponto foi ecoado nesta quarta pelo jornal pró-Kremlin Izvestia:>
"A lógica de Moscou é tornar as relações econômicas com os EUA tão lucrativas que rompê-las se tornaria caro demais para os Estados Unidos.">
Após a Ucrânia ter concordado com um cessar-fogo incondicional há uma semana, o governo americano declarou publicamente que "a bola estava no campo [da Rússia]".>
Agora que Vladimir Putin rejeitou o acordo e estabeleceu suas próprias condições, o líder do Kremlin devolveu a bola para o "campo" dos EUA.>
Mas as negociações entre Rússia e Estados Unidos continuarão – tanto sobre a Ucrânia quanto sobre os laços bilaterais.>
E são essas negociações que provavelmente influenciarão o próximo movimento de Donald Trump.>
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