Publicado em 18 de abril de 2024 às 09:02
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, foi palco de enchentes recordes nas últimas 24 horas, gerando especulações enganosas de que a forte tempestade que atingiu a cidade teria sido causada pela "semeadura de nuvens".>
Mas, afinal, quão incomum foi a precipitação que deixou Dubai debaixo d'água — e quais são as razões por trás desta chuva torrencial?>
Dubai está situada na costa dos Emirados Árabes Unidos — e costuma ter um clima bastante árido. Mas embora receba em média menos de 100 mm de chuva por ano, sofre com tempestades torrenciais ocasionais.>
Na cidade de Al-Ain, a pouco mais de 100 km de Dubai, cerca de 256 mm de precipitação foram registrados em apenas 24 horas.>
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A passagem de um sistema meteorológico de baixa pressão, que atraiu ar quente e úmido e bloqueou a passagem de outros sistemas meteorológicos, foi a principal causa.>
"Esta parte do mundo é caracterizada por longos períodos sem chuva, e depois por chuvas fortes e irregulares, mas mesmo assim, este foi um episódio de chuva muito raro", explica o meteorologista Maarten Ambaum, professor da Universidade de Reading, no Reino Unido, que estudou padrões de precipitação na região do Golfo.>
Ainda não é possível determinar exatamente o papel que as mudanças climáticas desempenharam. Isso requer uma análise científica completa dos fatores naturais e humanos, o que pode levar vários meses.>
Mas o recorde de precipitação é consistente com a forma como o clima está mudando.>
Resumindo: o ar mais quente é capaz de reter mais umidade — cerca de 7% a mais para cada grau Celsius — o que pode, por sua vez, aumentar a intensidade da chuva.>
“A intensidade da chuva foi recorde, mas isso é consistente com um clima mais quente, com mais umidade disponível para alimentar tempestades e tornar os episódios de chuvas fortes e as inundações associadas a elas mais potentes progressivamente”, explica Richard Allan, professor de ciências climáticas na Universidade de Reading.>
Um estudo recente sugeriu que a precipitação anual pode aumentar até cerca de 30% em grande parte dos Emirados Árabes Unidos até ao fim do século, à medida que o mundo continuar esquentando.>
"Se os humanos continuarem a queimar petróleo, gás e carvão, o clima vai continuar a esquentar, as chuvas vão continuar a ficar mais intensas, e as pessoas vão continuar a perder suas vidas em inundações", adverte Friederike Otto, professor de Ciências Climáticas na Universidade Imperial College London, no Reino Unido.>
A semeadura de nuvens prevê a manipulação de nuvens existentes para ajudar a produzir mais chuva.>
Isso pode ser feito usando aeronaves para lançar pequenas partículas (como iodeto de prata) nas nuvens. O vapor d'água pode então se condensar mais facilmente — e se transformar em chuva.>
A técnica existe há décadas, e os Emirados Árabes Unidos recorreram a ela nos últimos anos para ajudar a resolver a questão da escassez de água.>
Nas horas seguintes às inundações, algumas pessoas usaram as redes sociais para atribuir erroneamente o fenômeno meteorológico extremo exclusivamente às recentes operações de semeadura de nuvens no país.>
Reportagens publicadas anteriormente pela Bloomberg afirmaram que aviões para semeadura de nuvens foram lançados no domingo e na segunda, mas não na terça-feira, quando ocorreu a inundação.>
Embora a BBC não tenha conseguido verificar de forma independente quando ocorreu a semeadura de nuvens, os especialistas dizem que, na melhor das hipóteses, isso teria tido um efeito pouco significativo sobre a tempestade — e que focar na semeadura de nuvens é "enganoso".>
"Mesmo que a semeadura de nuvens tenha estimulado as nuvens ao redor de Dubai a produzir chuva, a atmosfera provavelmente teria que estar carregando mais água para formar nuvens, antes de qualquer coisa, devido às mudanças climáticas", explica Otto.>
A semeadura de nuvens é geralmente implementada quando as condições de vento, umidade e poeira são insuficientes para provocar chuva. Na última semana, os meteorologistas haviam alertado para um alto risco de inundações na região do Golfo.>
"Quando há previsão de sistemas tão intensos e de larga escala, a semeadura de nuvens — que é um processo caro — não é realizada, porque não há necessidade de 'semear' sistemas tão fortes em escala regional", diz Diana Francis, chefe do Departamento Ambiental e de Ciências Geofísicas da Universidade Khalifa, em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.>
O meteorologista Matt Taylor, do BBC Weather, serviço de previsão do tempo da BBC, também destacou que a tempestade já havia sido prevista. >
"Antes do evento, modelos de computador (que não levam em consideração os potenciais efeitos da semeadura de nuvens) já estavam prevendo que (um volume de) chuva equivalente a um ano cairia em cerca de 24 horas", afirmou.>
"Os impactos foram muito mais amplos do que eu esperaria exclusivamente da semeadura de nuvens — inundações graves atingindo grandes áreas do Bahrein a Omã".>
As missões de semeadura de nuvens nos Emirados Árabes Unidos são coordenadas pelo Centro Nacional de Meteorologia (NCM, na sigla em inglês), uma força-tarefa governamental.>
Evitar que chuvas fortes se transformem em inundações mortais requer defesas robustas para lidar com precipitações repentinas e intensas.>
Dubai é, obviamente, altamente urbanizada. Há pouco espaço verde para absorver a umidade, e as instalações de drenagem não foram capazes de suportar níveis tão altos de chuva.>
"É preciso haver estratégias e medidas de adaptação para [adaptar-se] a esta nova realidade [de chuvas mais frequentes e intensas]", explica Francis.>
"Por exemplo, a infraestrutura das estradas e instalações precisam ser adaptadas, construindo reservatórios para armazenar a água das chuvas da primavera e utilizá-la posteriormente.">
Em janeiro, a Autoridade Rodoviária e de Transportes dos Emirados Árabes Unidos criou uma nova unidade para ajudar a gerenciar as inundações em Dubai.>
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