Publicado em 6 de setembro de 2025 às 11:33
Também conhecida como ácido ascórbico, a vitamina C tem muitos benefícios e é indispensável para a saúde. E também colaborou para o desenvolvimento da ciência.>
Em 1747, ela foi empregada em um dos primeiros testes clínicos controlados da história da medicina.>
Quem o conduziu foi o médico James Lind (1716-1794), de Edimburgo, na Escócia. Ele havia entrado para a Marinha Real britânica como assistente do médico principal e observou os efeitos do escorbuto, uma doença que podia ser mais perigosa do que qualquer inimigo, durante as longas viagens de navio.>
Ele selecionou 12 homens que sofriam de sintomas parecidos e os dividiu em seis duplas, para colocar em prova os remédios que eram usados na época — desde cidra e vinagre até água do mar.>
>
Em questão de uma semana, os homens que receberam duas laranjas e um limão por dia estavam suficientemente recuperados para poderem cuidar dos demais.>
Por algum motivo ainda desconhecido, os cítricos, sem dúvida, eram a chave para combater aquele flagelo. É claro que a razão era a vitamina C, mas sua descoberta só ocorreu em 1912. Ela foi isolada 16 anos depois e, em 1933, passou a ser a primeira vitamina quimicamente produzida.>
Com o passar do tempo, o ser humano aprendeu que a vitamina C serve para muito mais do que apenas para prevenir e curar o escorbuto.>
Nosso corpo precisa da substância para cicatrizar feridas, já que ela ajuda a formar tecidos conectivos novos, fortalecendo os órgãos. E também é importante para os ossos, vasos sanguíneos, cartilagens, para a pele e para absorção do ferro pelo corpo.>
A vitamina C também fortalece o sistema imunológico, ajuda a combater infecções e suas propriedades antioxidantes contribuem para proteger o corpo contra o câncer e doenças cardiovasculares.>
Estas e outras virtudes fazem da vitamina C um nutriente essencial. Precisamos garantir sua ingestão, pois, diferentemente da maioria dos animais, os seres humanos não possuem a capacidade de sintetizá-la.>
E devemos consumi-la diariamente. Por ser hidrossolúvel, o nosso corpo não armazena vitamina C. Por isso, precisamos obter quantidades adequadas através da alimentação todos os dias.>
A quantidade recomendada varia, segundo a Clínica Mayo. Mas, de forma geral, os especialistas recomendam que as mulheres que não estejam grávidas nem amamentando tomem 75 miligramas (mg) e os homens, 90 mg de vitamina C todos os dias.>
Da mesma forma que precisamos cuidar para consumir quantidade suficiente, também é preciso evitar o excesso. Por isso, se você for adulto, limite a ingestão a não mais de 2.000 mg.>
Existem diversos vegetais ricos em vitamina C, como o brócolis, a couve-de-bruxelas e o pimentão (que, biologicamente falando, é uma fruta). Mas é preciso ter em conta que, por ser solúvel em água e sensível a altas temperaturas, parte da vitamina C é perdida durante o cozimento.>
Esses vegetais podem ser comidos crus, para obter a maior quantidade possível de vitamina. Mas, se for preciso cozinhar, o vapor aparentemente é o melhor método para conservar seu valor nutricional.>
Por outro lado, as frutas são uma grande e deliciosa opção. Você pode ingerir a quantidade mínima diária de vitamina C com apenas 3/4 de copo de suco de laranja por dia.>
Mencionamos esta fruta porque, por motivos históricos, as laranjas e os limões são as que costumam vir à mente com mais facilidade como fontes desse nutriente vital.>
Afinal, 100 gramas de polpa de qualquer uma das duas frutas contêm cerca de 53 mg de vitamina C, segundo diversas fontes, incluindo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).>
Mas existem pelo menos nove frutas com teor ainda mais alto da substância. E aqui estão elas, para que você se lembre de consumi-las.>
Duas frutas disputam o título de maior teor de vitamina C conhecido em qualquer alimento. Uma delas é nativa da Austrália e a outra, da Amazônia.>
A ameixa kakadu (Terminalia ferdinandiana) contém teores extraordinários de vitamina C. Seus números variam entre 2.300 e 3.150 mg por 100 g, muito acima dos cerca de 53 mg da laranja.>
Os povos aborígenes conhecem há milênios as virtudes desta fruta pequena, de coloração verde-oliva claro, que cresce espontaneamente nos bosques abertos do norte da Austrália.>
Eles a comiam in natura, usavam para fazer uma bebida refrescante e também para fazer gelatina.>
A ameixa kakadu era empregada na alimentação, mas também, como outras partes da árvore, tinha usos medicinais, para tratar de dores de cabeça, resfriados e gripes, além do seu uso como antisséptico.>
Atualmente, a ameixa kakadu é utilizada na elaboração de pós empregados em suplementos, alimentos funcionais, cosméticos e produtos farmacêuticos.>
Graças a pesquisas da Universidade de Queensland, na Austrália, a fruta também é usada como conservante natural, especialmente eficaz para manter o frescor, a aparência e a durabilidade de mariscos, camarões e crustáceos congelados.>
Com concentração de vitamina C que varia normalmente entre 1.600 e 3.000 mg por 100 g de polpa e que, em exemplares ou tratamentos específicos, pode exceder 4.000 a 5.000 mg/100 g, o camu-camu (Myrciaria dubia) não tem muito por que invejar a ameixa kakadu.>
Nativa da Amazônia, a planta cresce em zonas inundadas e ribeirinhas do Brasil, Peru, Colômbia, Equador e Venezuela. Ele é usado tradicionalmente como remédio, até para a malária.>
Seu fruto é de uma acidez tão intensa que não costuma ser consumido in natura. Seu suco tem um chamativo tom de rosa, graças ao pigmento da sua casca. >
Com ele, são preparados sorvetes, geleias, batidas, coquetéis, iogurtes e pratos como o ceviche de camu-camu peruano.>
A fruta também é empregada no setor cosmético, na forma de extrato antioxidante em máscaras e tônicos.>
Quando se trata de vitamina C, outra fruta campeã é a acerola (Malpighia glabra ou Malpighia emarginata). Ela contém cerca de 1.700 mg da substância por 100 g de fruta.>
Nativa das regiões tropicais do continente americano, especialmente do Caribe, América Central e do Sul, seu sabor é doce com um toque ácido, muito refrescante, similar a uma cereja azeda.>
A acerola é consumida in natura, em sucos, geleias ou como suplemento em pó. Ela é popular na indústria alimentícia, devido ao seu teor nutricional.>
A fruta é valorizada desde os tempos pré-colombianos, devido às suas propriedades medicinais. Seu uso se estendeu aos suplementos vitamínicos em todo o mundo.>
O fruto da rosa silvestre, comum na Europa, Ásia e em partes da América do Norte, é tradicionalmente conhecido pelas suas propriedades de alívio de resfriados e para melhorar o sistema imunológico.>
O fruto da Rosa canina L. contém 100 a 1.300 mg/100 g de fruto, conforme a espécie, origem, altitude e grau de maturação, segundo diversos estudos.>
Seu sabor é agridoce, floral e ligeiramente terroso. Ele costuma ser consumido em infusões, geleias, xaropes ou suplementos.>
O fruto da rosa silvestre tem longa história na medicina popular europeia. Ele foi usado durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) como fonte alternativa de vitamina C, quando os cítricos eram escassos.>
Ele é popular até hoje na fitoterapia e na alimentação natural.>
Phyllanthus emblica L. — a groselha indiana ou sarandi — é uma árvore sagrada para o hinduísmo, símbolo de longevidade e sabedoria.>
Sua baga é uma das frutas mais valorizadas na medicina tradicional ayurvédica.>
Seu sabor é complexo e muito singular: extremamente ácido (ao mesmo tempo, azedo e adstringente), ligeiramente amargo no início e adocicado no final. Quando ingerida fresca, produz uma sensação seca na boca.>
Curiosamente, depois de mastigá-la e cuspi-la, muitas pessoas relatam que sua saliva fica doce por alguns segundos. Algumas tradições consideram esta experiência "higienizadora" ou "refrescante".>
Devido à sua intensidade, é costume consumi-la seca, curtida, em pó ou cozida em vez de fresca, especialmente em misturas ayurvédicas ou chutneys (condimentos de origem indiana).>
A groselha indiana é uma das fontes naturais mais ricas em vitamina C, com concentrações de até 720 mg por 100 g de fruta. E tem ainda outra vantagem: a substância não se degrada com facilidade durante a secagem ou armazenamento da fruta.>
A presença de taninos e polifenóis protege a vitamina C contra a oxidação. É um fenômeno incomum em outras frutas.>
Esta estabilidade permitiu o uso da groselha indiana por séculos em forma seca ou em conserva, sem perder sua eficácia medicinal.>
O baobá (Adansonia digitata) é conhecido em muitas culturas africanas como a "árvore da vida".>
Na tradição oral, ele é mencionado como uma árvore que sustenta o céu ou que foi plantada de cabeça para baixo. Ele representa a sabedoria ancestral.>
Seu fruto contém cerca de 494,94 mg/100 g de vitamina C na forma de polpa desidratada e foi usado por séculos como fonte de nutrição e medicina natural.>
Diferentemente da maioria das frutas, ele é seco por dentro e não contém suco. Sua polpa farinhosa se desmancha facilmente, transformando-se em pó. Por isso, ele é ideal para uso em bebidas, molhos ou como suplemento nutricional.>
Seu sabor é ácido, refrescante e ligeiramente cítrico, frequentemente descrito como uma mistura de toranja, pera e baunilha.>
Voltemos ao continente americano, agora com a goiaba. Seu aroma transportava o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) para sua casa sempre que ele o percebia.>
O fruto da Psidium guajava sempre tem sua fragrância característica, frequentemente doce, mas, às vezes, deliciosamente azedo. Afinal, existem inúmeras variedades com tamanhos e cores diferentes: branca, rosa, vermelha, amarela...>
A goiaba contém mais vitamina C do que muitas frutas cítricas. Algumas variedades chegam a ter até cinco vezes mais que a laranja, o que faz com que ela seja um potente antioxidante natural.>
Um estudo com goiabas frescas no Equador concluiu, por exemplo, que o teor de vitamina C nas frutas chega a cerca de 500 mg.>
Dotada de diversas propriedades benéficas para a saúde, a goiaba também é uma fruta climatérica, ou seja, ela continua amadurecendo depois da colheita. Esta característica facilita seu consumo, transporte e exportação.>
Ainda assim e apesar da sua popularidade na Ásia e na América Latina, a goiaba continua sendo uma fruta "exótica" e pouco conhecida em muitas partes do mundo. O mesmo ocorre com muitas das frutas indicadas nesta reportagem.>
Mas não há problema, pois existem diversas outras fontes importantes de vitamina C:>
Até chegarmos à tradicional laranja, que contém um pouquinho mais de vitamina C que o refrescante e digestivo abacaxi.>
>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta