
Restaurante em São Mateus enaltece qualidade dos vinhos produzidos no Brasil. Crédito: Tasty Click
Até mais ou menos cinco anos atrás, era difícil encontrar vinhos brasileiros na carta de um restaurante - com sorte, dava para achar um ou dois espumantes.
Mas a produção nacional tem evoluído continuadamente, e rótulos elaborados no país vêm ganhando grande espaço no mercado. Parece uma tendência que chegou para ficar.
No embalo do que acontece na Europa há tempos, onde cartas valorizam suas respectivas regiões com a ideia do “beba local”, a cena brasileira começou a mudar. Por aqui, já existem restaurantes com propostas parecidas, e alguns nascem com a carta de vinhos 100% composta de rótulos nacionais.
No Espírito Santo, há chefs e empresários do ramo que fazem o Brasil brilhar em suas cartas de vinho, como no caso do Terrazo Espaço Bistrô, em Jardim da Penha, Vitória.
Após visitar diversas vinícolas no Rio Grande do Sul, o chef Luciano Faé pensou em montar seu restaurante só com vinhos nacionais na adega, um desafio por conta de um certo preconceito. “Nós explicávamos, contávamos toda a história do produtor e, ainda assim, sempre havia uma comparação de preço com o dos vinhos importados e também um questionamento em relação à qualidade", relata.
Luciano, então, optou por mesclar sua carta, incluindo rótulos de origens diversas juntos aos nacionais. Mesmo assim, o chef segue com um trabalho contínuo na divulgação dos vinhos brasileiros, que inclui até degustação às cegas. “Em nossos eventos, selecionamos os vinhos nacionais e os clientes não sabem inicialmente o que irão degustar. Ficam de olhos vendados e sempre se surpreendem com o vinho, principalmente quando revelamos que é brasileiro. Tem sido ótimo esse trabalho e já estamos colhendo bons resultados”, conta.
Entre os exemplares que Faé faz questão de ter em seu restaurante estão os do casal de enólogos capixabas Thais e Paulo Gáudio, que comandam a vinícola Gáudio, em Urupema, na serra catarinense.
Referência capixaba
No restaurante Katatas Gourmet, em Cachoeiro de Itapemirim, a carta é composta, desde 2019, por 90% de vinhos nacionais. Há cerca de 250 rótulos na adega, de diferentes regiões e estilos, somando um total de 60 vinícolas brasileiras.
O proprietário, Eduardo Gonçalves, conta que se apaixonou pelos vinhos do nosso país após frequentar um curso de sommelier. “Essa escolha está alinhada com o propósito do restaurante de valorizar a produção local, apresentando ao público a alta qualidade dos vinhos do Brasil. O país cresceu muito em termos de terroir, tecnologia e expertise, então, é uma forma de apoiar nossos produtores e fortalecer a cultura do vinho brasileiro”, explica.
Eduardo teve seu trabalho reconhecido pela revista Prazeres da Mesa por dois anos consecutivos com o prêmio Melhores do Vinho na categoria Grande Excelência. O restaurante é uma referência capixaba na curadoria de vinhos nacionais, e para se manter por dentro das novidades, o empresário visita vinícolas, participa de feiras e eventos sobre a bebida, buscando o melhor de cada região do país.
Produtos locais
Ter uma carta em consonância com a personalidade do estabelecimento é o que faz muitos empresários e chefs optarem por trabalhar com vinhos brasileiros. No restaurante Tatá Cozinha de Origem, em São Mateus, um dos pilares é justamente a utilização de produtos nacionais, e isso se estende também aos vinhos.
“Entendemos o quanto o Brasil é rico em diversidade e qualidade de produtos, e nós, donos de restaurantes, temos a responsabilidade de trazer essa valorização para o nosso país. Os vinhos brasileiros têm altíssima qualidade e sua identidade é reconhecida internacionalmente, com características únicas de cada região”, afirma Karoline Camata, sócia-proprietária da casa, onde é responsável pelo serviço de vinhos.
No Tatá, dos 33 rótulos da carta, 25 são brasileiros e, antes de ir para as taças dos clientes, cada vinho é provado e aprovado pela equipe.
É normal que boa parte do público ainda torça o nariz quando se depara com uma carta assim, cheia de nacionais. A princípio, o preconceito vem porque muitos ainda não se deram conta da qualidade entregue por algumas vinícolas do país. Mas isso não deixa de ser também uma excelente oportunidade para apresentá-los aos clientes e com isso criar uma experiência diferenciada.
Para abrir a mente
Apresentar a uva, a origem, o produtor e saber também quais sabores cada vinho oferece torna mais fácil a tarefa de sugerir um rótulo que fuja do convencional mas ainda assim faça sentido para quem senta à mesa.
É o que explica Kênia Dazzi, sócia do bistrô italiano Nonna Barberina, em Jardim da Penha: “Quando explicamos sobre os vinhos também vejo que há curiosidade e interesse em saber mais sobre ele. Quando os clientes abrem a mente percebem que é possível achar rótulos até superiores aos tradicionais importados, como um caminho sem volta”, detalha.
No Nonna Barberina, a carta de vinhos é mesclada, com rótulos italianos combinados à proposta gastronômica da casa. A adega contém 12 rótulos nacionais, alguns deles bem exclusivos, com apenas 500 garrafas fabricadas.
Por lá, a sugestão para quem deseja começar a desvendar ótimos vinhos brasileiros é o Laranjinha, da vinícola Cão Perdigueiro, na Serra Gaúcha. Elaborado com uvas Moscato Giallo, é o escolhido para harmonizar com o carbonara do bistrô.
Restaurantes pesquisados:
- Terrazzo Espaço Bistrô - Avenida Anísio Fernandes Coelho, 1660, Jardim da Penha, Vitória. (27) 98145-9494 e @terrazzoespacobistro.
- Katatas Gourmet - Avenida Beira Rio, 496, Guandú, Cachoeiro de Itapemirim. (28) 99963-8371 e @katatasgourmet.
- Tatá Cozinha de Origem - Rodovia Governador Mário Covas (BR-101), 426, Seac (em frente à Petrobras), São Mateus. (27) 99720-3767 e @tatacozinhadeorigem.
- Nonna Barberina - Rua Tupinambás, 623, loja 2, Jardim da Penha, Vitória. (27) 98117-1009 e @nonnabarberina.
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