Publicado em 30 de maio de 2025 às 16:38
Quem está no ensino médio ou tem filhos, netos ou amigos vivendo essa fase já deve ter ouvido falar que as redações do Enem precisam ter repertório. Independentemente da situação, ter repertório é contar com um conjunto de conhecimentos, experiências e referências capazes de fundamentar e enriquecer um discurso, um texto ou uma argumentação. No Enem, isso se traduz, especialmente, por citações de pensadores, referências literárias, cinematográficas, musicais e artísticas.
Entretanto, a pergunta que inquieta muitos jovens e as famílias é como adquirir repertório, levando em conta as inúmeras possibilidades de tema para uma redação do Enem.
O professor de Redação da Escola Monteiro, Lúcio Manga – que, só no ano passado, teve mais de 80 alunos com nota acima de 900 no exame –, é quem dá pistas sobre a questão.
“A redação do Enem exige treinamento, dedicação e orientação docente. É essencial praticar a escrita, ler bastante, analisar criticamente a realidade. Cada vez mais, é preciso ter repertório, demonstrar conhecimento histórico e cultural, estar bem informado”, ressalta.
A aluna Julia dos Santos Freitas, hoje aluna da 3ª série do ensino médio da Monteiro, confirma. Ainda na 2ª série, ela decidiu fazer o Enem como “treineira” e obteve a nota 960 na redação.
“Desde pequena, tive facilidade com a escrita e era muito curiosa. Crescendo, isso aumentou e influenciou diretamente no meu gosto pela leitura. Na Monteiro, eu fui capaz de encontrar uma maneira de usar isso para potencializar a minha redação. Além disso, a contribuição de projetos como o clube de leitura e o cinema a céu aberto foi muito importante. Isso me ajudou imensamente, já que, apesar da parte gramatical ser importante para a redação do Enem, a bagagem sociocultural e a forma que você aplica isso no seu texto é o que fará a diferença.”
O coordenador do ensino médio da Monteiro, Élio Serrano, concorda que tudo isso se dá em frentes indissociáveis. Segundo ele, “a orientação de um bom professor de redação, o treinamento constante e o conhecimento que vem de uma base educacional bem construída, capaz de ampliar visões de mundo, estimular o pensamento crítico e se tornar repertório, servirão para a redação do Enem, mas não apenas. Essa formação será base para a vida, perpassando a trajetória profissional, a cidadania e as vivências pessoais”, considera.
Por isso, na Escola Monteiro, o trabalho começa cedo. “Temos como projeto pedagógico e como missão contribuir na formação desse ser humano que precisa de repertório para tomar as próprias decisões para se sair bem em uma prova, trilhar o caminho profissional e, nesse sentido, contamos com o que a arte, a filosofia, a música, o cinema e a literatura nos oferecem”, explica a diretora pedagógica da escola, Penha Tótola.
Os exemplos são muitos. Entre eles, está o Projeto de Letramento Literário, que envolve todas as turmas da escola, do 1º ano do ensino fundamental à 3ª série do ensino médio, tornando a literatura presente no dia a dia dos alunos, desde as séries iniciais.
São dois ou três livros por trimestre e a lista é diversificada. De autores capixabas a escritores brasileiros e estrangeiros como Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Manuel de Barros, Paulo Leminski, Mary Shelley e Manuel Bandeira, entre outros.
Outro projeto é o Clube do Livro, idealizado por Élio Serrano e pela bibliotecária da escola, Luma Almeida, aberto a alunos, professores, funcionários e a toda comunidade escolar. “Começamos no meio do ano passado e o clube se reúne duas vezes por mês. Até agora, já lemos seis livros e a escolha das obras é bem democrática. Todos os integrantes podem sugerir e apresentar propostas de livros, fazendo uma defesa, para uma posterior votação”, explica.
O primeiro livro escolhido foi Jantar Secreto, do autor brasileiro Raphael Montes, conhecido por sua literatura policial e de suspense. Além dele, nomes como Carla Madeira, Marcelo Rubens Paiva, Oscar Wilde e Paulo Coelho já foram lidos pelo grupo.
“O clube tem sido uma experiência muito rica e uma forma de incentivo à leitura, de ajudar a romper bloqueios e despertar o interesse genuíno pelo que a literatura nos oferece. Além disso, como temos participantes de diversas faixas etárias, a troca intergeracional é outro aspecto muito positivo, pois há diferentes pontos de vista sobre uma mesma obra. Os mais jovens apresentam novos gêneros, os mais velhos contribuem com sua experiência de mundo. E todos ganham”, considera Luma.
Participante do clube desde o início, a analista de comunicação, Marcela Gasparini, concorda. “Nesse mundo multicultural e dinâmico em que vivemos, valorizo muito essas trocas com os jovens que fazem parte do clube. Gosto também de poder indicar leituras que me interessam — obras que, muitas vezes, trazem reflexões mais maduras e que podem enriquecer ainda mais nossas conversas”, reforça.
Entre os livros já lidos no clube, ela cita a experiência de ler “Ainda estou aqui”, obra de Marcelo Rubens Paiva que, adaptado ao cinema, foi vencedor da categoria “Melhor Filme Internacional” no Oscar deste ano. “Fomos, inclusive, assistir ao filme juntos também. É uma experiência muito rica, de estímulo à leitura e partilha”, afirma.
O aluno Gabriel Rodrigues de Souza Veras é outro membro do Clube do Livro, que reconhece a importância da iniciativa. Ele entrou na Monteiro no início do ensino médio e cursa hoje a 3ª série.
“A escola tem um diferencial enorme que é valorizar a história, a cultura e as manifestações artísticas como um todo, contribuindo na formação mais ampla e na construção de um repertório que seguirá com os alunos”, diz.
Para ele, o clube é um bom exemplo disso. “Entrei esse ano e, antes da Monteiro, eu tinha lido poucos livros. A maioria como uma obrigação escolar. Penso em cursar licenciatura em História e sei o quanto a leitura terá que ser uma constante na minha trajetória. Estou gostando muito de participar do clube. Leio os livros indicados e conheci autores brasileiros contemporâneos maravilhosos como Carla Madeira e Raphael Montes. Descobri o quanto a leitura é uma experiência incrível. Tem hora que começo e não consigo parar”, conta.
Ele acrescenta que outro incentivo veio do projeto Cinema Comentado, que agora vai dar origem a um Cineclube na escola, com direito a carteirinha de participante. “É muito interessante ver um filme e depois ter a oportunidade de conversar com professores como o William Acosta (Filosofia) e Márcio Vaccari (História) sobre a temática, fazendo relação com passado, presente e futuro”, diz.
O projeto é resultado de uma parceria com o Combiousa – Cineclube Itinerante, que realiza sessões de cinema ao ar livre na área verde da nova sede do ensino médio da Monteiro, na Enseada do Suá, com uma tela inflável de cinema, cadeiras de praia e espaço para troca de ideias pós-exibição.
Na última edição, depois do filme “Ele está de volta”, Márcio Vaccari, William Acosta e Miguel Teixeira, professores de História, Filosofia e Sociologia, respectivamente, conduziram uma roda de conversa. Esta semana, será a vez de uma nova edição, com o filme “Matrix” e uma roda de conversa com professores de História, Matemática, Biologia, Filosofia e Física.
“São projetos muito especiais que fazem ainda mais sentido dentro uma proposta ampla de contribuir de fato nesta formação e nos bons resultados acadêmicos como aspectos que caminham juntos e se complementam”, finaliza Penha Tótola.
Para os pais
1. Comece cedo a estimular o contato com os livros e com a leitura. Se seu filho ainda não sabe ler, leia para ele e se faça realmente presente neste momento de interação. Histórias despertam curiosidade e estimulam a imaginação. Se ele já sabe ler, incentive. E dê o exemplo.
2. Acompanhe de perto a vida escolar do seu filho e busque na escola uma parceria para ajudar nessa formação. Saber o que ele está estudando, quais são suas áreas de interesse e curiosidades ajuda a pautar conversas enriquecedoras.
3. Estimule a construção de uma rotina de estudos, que permita à criança e ao adolescente ter tempo também para o lazer e a cultura, sem a correria de “estudar para prova na última hora”.
4. Estimule a curiosidade. Há muitos jogos e brincadeiras que cumprem esse papel com leveza.
5. Valorize o repertório que ele já tem. Mesmo criança, mesmo no início da escolaridade, seu filho tem em si vivências e experiências próprias. Respeitá-las e considerá-las estimula o crescimento e o respeito, inclusive para que ele tenha respeito ao repertório que os outros trazem consigo.
6. Ter experiências com a música e com arte, de forma geral, também enriquece a formação.
Para os alunos
1. Tenha uma rotina de estudos. As aulas de História, de Filosofia, de Português ou de qualquer disciplina fundamentam seu repertório em geral, e contém repertórios específicos a serem usados em uma redação.
2. Estude, treine, escreva bastante. Uma redação nota 900 ou 1000 não se faz de primeira. É preciso fazer e refazer, errar para acertar.
3. Conte com o seu professor de Redação. Ele tem experiência e conhecimento técnico para orientá-lo.
4. Leia, leia e leia. A leitura é o caminho para uma boa escrita, além de fornecer repertório. Acompanhe os temas cotados para a redação, os assuntos que estão em alta e procure pensar, ler e escrever sobre eles. O que você conhece na literatura, no cinema ou no pensamento filosófico que se relaciona ao tema? A arte é um universo enorme a ser explorado.
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