Publicado em 26 de maio de 2021 às 18:34
A Covid-19 surgiu na China há cerca de um ano e se espalhou por todo o mundo. Hoje, o novo coronavírus já é o maior desafio econômico e de saúde após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, se no começo já foi difícil, agora está mais do que evidente que o SUS não dispõe dos recursos necessários para dar assistência resolutiva, e em tempo oportuno, para os casos mais graves quando a curva de infectados sobe em um curto espaço de tempo. >
Abril foi um exemplo do que acontece quando o sistema de saúde entra em colapso. Foi o pior mês da pandemia, quando o contágio esteve altíssimo, as novas variantes começaram a chegar e os médicos foram “obrigados” a escolher quem iria viver e quem iria morrer. Nesse período, o sistema de saúde colapsou em todos os estados do Brasil, e a falta de insumos indispensáveis para o tratamento da Covid-19 nos hospitais também começou a faltar.>
Esse cenário, aliado à grande pressão em relação aos outros pontos do sistema de saúde, como Atenção Básica e Unidades de Pronto-Atendimento, que diante dessa situação também acabam entrando em colapso, exigindo o remanejamento dos pacientes, é o verdadeiro caos. Definitivamente, nessa situação, não temos onde colocar os doentes acometidos de outras enfermidades.>
Quando a curva de contágio cresce, uma das medidas adotadas pelos governos é o isolamento social, necessário, sem dúvida, mas que acaba causando uma devastação na economia. Mas como chegamos a esse ponto? Essa é a pergunta que todos os brasileiros estão se fazendo neste momento. Afinal, após um ano de pandemia, deveríamos estar com boa parte da população vacinada e com a doença minimamente controlada. Mas não.>
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É fácil perceber que faltou uma gestão unificada (união, estados e municípios). Ao contrário disso, o que se vê é uma briga política em todos os níveis. Percebe-se que não houve sequer um planejamento das ferramentas que deveriam ter sido acionadas conforme o desenrolar do quadro epidemiológico da doença, garantindo, assim, uma ação eficaz e em tempo hábil. E agora não adianta ter remorso. O Brasil teve 365 dias para se organizar.>
Para ilustrar esse cenário que estamos vivendo, trago para reflexão duas situações distintas que ocorreram durante a Segunda Guerra Mundial:>
Na Alemanha, o pastor Martin Niemoller, líder da Igreja Confessante, foi preso pelo regime nazista e colocado em prolongado confinamento em Sachsenhausen e Dachau. Ele sobreviveu a Hitler, mas, no pós-guerra, sempre sentiu um profundo remorso por não ter se manifestado com mais veemência a favor de todos os perseguidos. Tais sentimentos se expressaram de modo mais memorável e eloquente em sua declaração (agora considerada um poema) sobre a perseguição dos oponentes pela Gestapo (Polícia Secreta Nazista), intitulada “Primeiro eles vieram”: >
“Primeiro eles vieram buscar os socialistas, e eu não disse nada, pois não era socialista. >
Então vieram buscar os sindicalistas, e eu não disse nada, pois não era sindicalista.>
Depois vieram buscar os judeus, e eu não disse nada, pois não era judeu.>
Quando eles vieram me buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar.”>
A outra situação ocorreu na Inglaterra, em maio de 1940, época em que Winston Churchill foi alçado ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido. Quando ele estava no carro, a caminho do Palácio de Buckingham para uma audiência com o Rei George VI, observou que apesar da guerra já ter explodido na Europa, com a invasão nazista em vários países, o cidadão inglês vivia uma vida normal, não se dando conta de que estavam em um grande conflito. Só se deram conta, realmente, quando soldados ingleses começaram a morrer e a Luftwaffe (Força Aérea Alemã) começou a bombardear as cidades inglesas.>
Esses exemplos que trago são da maior guerra já vista pela humanidade, que matou milhões de pessoas e destruiu a economia mundial. As pessoas inicialmente não acreditavam no que estava por vir. A guerra agora é outra, é contra um vírus extremamente contagioso e invisível. E como podemos observar, mesmo com a quantidade de informações a que temos acesso, muitos de nós ainda não está acreditando no que pode acontecer se não respeitarmos as orientações dos especialistas.>
Será que vamos ter que esperar para ver mais pessoas morrendo sem atendimento, sem ter o direito a um respirador nos hospitais, para acreditar que precisamos nos cuidar, seguindo os protocolos, protegendo, assim, não só a nós mesmos, mas também o próximo? Não podemos deixar a ignorância imperar, precisamos nos unir e combater essa pandemia mundial.>
É advogado e presidente da Comissão de Acompanhamento Legislativo da OAB-ES
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