> >
Lula deixa sindicato a pé e entra em carro da Polícia Federal

Lula deixa sindicato a pé e entra em carro da Polícia Federal

Cercado por apoiadores, ele deixou o sindicato a pé, acompanhado do advogado, e entrou em uma das viaturas da Polícia Federal

Publicado em 7 de abril de 2018 às 21:52

Lula sai a pé do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e foi escoltado por seguranças e pela polícia federal, neste sábado (07/04) Crédito: HIAGO BERNARDES/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está oficialmente preso. Às 18h41 deste sábado (07), ele deixou o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, pela segunda vez, e caminhou em meio à militância. Depois, acessou um portão em frente à sede da entidade e entrou num carro da Polícia Federal. A detenção do ex-presidente foi concretizada quase 26 horas depois do prazo que o juiz Sergio Moro havia dado para ele se entregar voluntariamente. Houve confusão entre manifestantes que tentaram impedir novamente a saída de Lula, mas desta vez sem sucesso. Fogos de artifício foram ouvidos em alguns bairros de São Paulo após a prisão do petista.

O ex-presidente seguiu num comboio de oito veículos até a Superintendência da Polícia Federal, no bairro da Lapa, zona Oeste da cidade, onde chegou às 19h44. Militantes a favor e contra o ex-presidente estavam na porta da PF e a chegada foi confusa, com gritaria e empurrões. Lula passou por um exame de corpo de delito para verificar suas condições físicas.

Às 20h08, o petista entrou no helicóptero que o levou para o aeroporto de Congonhas. Lá, entrou em uma aeronave da Polícia Federal que partiu, às 20h40, para Curitiba, onde começará a cumprir a pena de 12 anos e um mês pelo caso do triplex do Guarujá.

O avião da Polícia Federal com o ex-presidente Lula pousou exatamente às 22h01 no aeroporto Afonso Pena, na região metropolitana de Curitiba.

Dali, o ex-presidente segue de helicóptero para a sede da Superintendência da Polícia Federal, na capital paranaense.

Lula teve que voltar para dentro da entidade Crédito: Reprodução/Globo News

A primeira tentativa do petista deixar o sindicato e se entregar ocorreu à tarde. Às 16h47, Lula entrou em um veículo com seu advogado, mas não conseguiu deixar o prédio. No entanto, a militância impediu a saída do ex-presidente. Centenas de pessoas cercaram o carro e o portão da garagem chegou a ser arrancado. O veículo então voltou para o prédio e Lula entrou novamente no sindicato.

O comando do PT pediu, pouco antes das 18h, que os militantes permitissem a saída do ex-presidente do sindicato. Segundo o ex-ministro Gilberto Carvalho, a saída do ex-presidente rumo a Curitiba era importante para evitar um possível pedido de prisão preventiva por parte do juiz Sergio Moro. Carvalho, Luiz Marinho, presidente estadual do PT, e o advogado de Lula, Cristiano Zanin, estavam preocupados com as consequências que Lula poderia sofrer por não se entregar à Polícia Federal.

Já sob custódia da Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula chegou à sede da PF em São Paulo Crédito: SUAMY BEYDOUN/AGIF/ESTADÃO CONTEÚDO

Do alto de um caminhão de som, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, reforçou a tese de que Lula poderia ser alvo de um pedido de prisão preventiva. Gleisi disse que Lula tinha meia hora pra cumprir a decisão. Líderes do PT chegaram a sugerir que houvesse uma votação entre os militantes para que decidissem como encerrar impasse, mas isso não aconteceu.

— Eu divido com vocês (militantes) essa responsabilidade (de deixar ou não Lula sair do sindicato). Mas não somos nós que vamos sofrer as consequências, é Lula quem vai sofrer a consequência — disse ela, enquanto parte da militância gritava que resistiria.

Em seguida, a petista fez um desabafo:

— Hoje fizemos uma resistência linda. A foto que eles queriam, com Lula preso e humilhado, não é a foto que vai rodar o mundo, de Lula carregado pelo povo.

APOIADORES TENTARAM IMPEDIR SAÍDA

Um grupo de sindicalistas, sem terra e apoiadores de Lula fazem um cordão de isolamento em frente a um dos portões da entidade Crédito: Reprodução/Globo News

Quase 48 horas horas depois de decretada sua prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula tentou deixar o prédio do Sindicato dos Metalúrgicos no carro em que estava ao lado dos advogados. Lula entrou no veículo às 16h57. O carro, no entanto, não conseguiu deixar o prédio, e Lula teve que voltar para dentro da entidade.

Centenas de militantes cercaram o carro e não deixaram que o veículo se movimentasse. O portão da garagem chegou a ser arrancado. Policiais federais à paisana cercavam o automóvel.

Lula teve que voltar para dentro da entidade Crédito: Reprodução/Globo News

Aos gritos de “cercar e não deixar bater”, os manifestantes estão de braços dados e pretendem evitar a movimentação de carros. Muitos também sentaram em frente ao portão para evitar a movimentação de carros.

"VOU CHEGAR DE CABEÇA ERGUIDA", DIZ LULA

Ao som de violão, de cima de um carro de som na porta do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o juiz Sergio Moro mentiu ao confirmar a acusação de que o triplex do Guarujá (SP) era dele. Lula foi condenado pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4) a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Em um discurso duro neste sábado (07), Lula disse que está pronto para atender à determinação da Justiça.

Ex-presidente Lula é carregado por militantes após discurso em ato em São Bernardo do Campo (SP) Crédito: Agência O Globo

"Eu vou atender ao mandado deles porque quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece é por minha causa, eu já fui condenado a três anos de cadeia porque um juiz de Manaus entendeu que eu não preciso de armas, mas eu tenho uma língua ferina. A morte de um combatente não para a revolução", disse Lula.

"Estou fazendo uma coisa muito consciente. Se dependesse da minha vontade, eu não iria. Eu vou porque não vão dizer amanhã que eu estou escondido, que eu estou foragido", afirmou.

No discurso que durou 55 minutos, ele ainda descreveu como se entregará. "Vou chegar de cabeça erguida, quero chegar lá (na PF de Curitiba) e falar para o delegado: 'estou à sua disposição'. Mas a história vai provar que quem cometeu o crime foi o delegado que acusou, o juiz que me condenou e o Ministério Público que foi leviano comigo. Sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente. Quero provar que eles é que cometeram o crime", brandou Lula, afirmando que sairá da prisão de "peito estufado".

CRÍTICAS À IMPRENSA

"Estou sendo processado, mas tenho dito claramente. Sou o único ser humano processado por um apartamento que não é meu. Que o (jornal) O Globo mentiu quando disse que era meu. A que a Lava Jato mentiu quando disse que era meu. Eu pensei que o o juiz Moro ia resolver e ele mentiu também", disse Lula.

O jornal "O Globo" foi o primeiro a revelar, em 2010, a ligação do ex-presidente com o triplex do Guarujá, no litoral de São Paulo, que acabou se tornando o pivô de sua condenação a 12 anos e 1 mês de prisão. Duas reportagens do jornal, em 2010 e 2014, mostraram que o imóvel pertencia a Lula e a sua mulher, Marisa Letícia.

JUSTIÇA

Diante da militância, ele atacou a forma como vem sendo tratado pela Justiça. "Não estou acima da Justiça. Se não acreditasse, eu tinha proposto uma revolução nesse país. Acredito numa Justiça justa que faz processo baseado nos autos, na prova concreta que tem a arma do crime", opinou.

O ex-presidente Lula em cima de carro de som em missa de homenagem a ex-primeira-dama Crédito: Reprodução/GloboNews

O discurso continuou com Lula lembrando a atuação do Ministério Público. "O que não posso admitir é um procurador que fez um powerpoint e foi pra TV dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil. E que o Lula, por ser a figura mais importante, e ele é o chefe. E se o Lula é o chefe não preciso de prova, eu tenho convicção. Guarde a convicção dele para os comparsas."

Pouco antes, ele retomou discurso de sindicalista antes da decretação de sua prisão, que deve acontecer ainda neste sábado. Procurando dar um tom histórico - Lula estava ao lado de padres da região, numa lembrança da época em que contou com a ajuda da Igreja Católica para tentar evitar sua prisão na década de 1980 – Lula pontuou o discurso rememorando sua trajetória.

"Na minha consciência, parte da conquista da democracia a gente deve a esse sindicato dos metalúrgicos, a partir de 1978. Aqui foi minha escola, aqui eu aprendi sociologia, economia, física, química e aprendi fazer muita política. No tempo que eu era presidente, as fabricas tinham 140 mil professores que ensinavam fazer as coisas."

SONHOS

"Sonhei que era possível governar esse país, envolvendo milhões de pobres na economia, nas universidades, criando milhões de empregos. Sonhei que era possível um metalúrgico sem diploma cuidar mais da educação que qualquer diplomado. Sonhei que era possível diminuir mortalidade infantil levando leite, feijão e arroz. Sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e levar para as melhores universidades para não ter só juízes e procuradores da elite. Daqui a pouco vamos ter juízes e procurados de Heliópolis. Esse crime eu cometi, que eles não querem que eu cometa mais."

SOFRIMENTO

"Não é fácil o que sofre minha família, como sofrem meus filhos, mas não é fácil o que sofreu dona Marisa. A antecipação da morte da Marisa foi provocada pela sacanagem e pela safadeza que o Ministério Público e a imprensa fizeram contra ela."

Logo depois das orações feitas por Dom Angélico – a militância chegou a rezar um pai Nosso - Lula fez questão de ressaltar sua trajetória à frente do sindicato. Lembrou a impropiciência das pessoas que trabalham no "chão da fábrica. "Eu nasci nesse sindicato. Quando cheguei aqui esse sindicato era um barraco."

Em seguida, disse que viveu os melhores momentos da vida naquele sindicato, em 1968, quando ingresso para o movimento sindicalista. O ex-presidente relembrou da greve de 1979, segundo ele uma "das graves mais extraordinárias desse país".

ACENO A DILMA

Durante o discurso, Lula fez homenagem à ex-presidente Dilma Rousseff. Lula disse que sempre dividirá seu sucesso na Presidência com ela: "Dilma foi possivelmente a mais injustiçada na política desse país."

Lula também fez uma deferência aos presidenciáveis Guilher Boulos (Psol) e Manuela D'Ávila (PCdoB)

"Boulos iniciou uma jornada pelo PSOL, é um companheiro da mais alta qualidade, tem que ser levado em conta. Você tem futuro, meu irmão." 

Em seguida, elogiou Manuela. "Ela está fazendo fazendo sua primeira experiência como candidata à Presidência. Eu acho um motivo de orgulho e uma perspectiva de esperança para esse país. Gente nova disposta a enfrentar a negação da política."

Lula permaneceu refugiado no Sindicato dos Metalúrgicos desde o inpicio da noite de quinta-feira, quando o juiz Sergio Moro decretou sua prisão e determinou que ele se entregasse naquele dia até 17h.

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais