> >
Itapemirim tenta regularizar 200 comissionados contratados sem previsão em lei

Itapemirim tenta regularizar 200 comissionados contratados sem previsão em lei

Servidores foram admitidos em 2020, na gestão do ex-prefeito Thiago Peçanha, que teve o mandato cassado neste ano, entre outros motivos, por ter feitos essas nomeações em ano eleitoral e sem previsão orçamentária

Publicado em 22 de julho de 2022 às 17:22

Ícone - Tempo de Leitura 4min de leitura
Prédio da Prefeitura de Itapemirim, no Sul do Estado do Espírito Santo. Foto de setembro de 2015
Prefeitura de Itapemirim, no Sul do Espírito Santo. (Carlos Alberto Silva)

O novo prefeito de Itapemirim, Antônio da Rocha Sales, que chegou ao cargo através de eleição suplementar em junho deste ano, busca resolver a situação de mais de 200 servidores comissionados que estão contratados de forma irregular desde 2020. Para isso, ele enviou à Câmara de Vereadores um projeto de lei que aumenta de 67 para 282 o número de assessores de gabinete comissionados em três níveis.

Todas essas pessoas já estão contratadas há dois anos, porém de forma precária, sem previsão em lei municipal. Para garantir a regularização dos servidores, Doutor Antônio (PP), como é conhecido o prefeito, precisa primeiramente alterar a legislação da cidade e assegurar que os gastos com pessoal estão dentro do limite permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

O novo prefeito assumiu a administração depois que Thiago Peçanha (Republicanos) teve o mandato cassado em março pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder político. A cassação se deu, entre outras razões, justamente pela nomeação de servidores em 2020, considerada irregular pela Justiça por ter sido realizada em ano eleitoral. Naquela ocasião, o número de comissionados cresceu 60%.

Peçanha, então prefeito e candidato à reeleição, sancionou uma Lei Complementar que aumentava em 200 o número de assessores de gabinete comissionados. A lei anterior (de 2009) apontava que só poderiam haver 67 pessoas ocupando os três níveis dessa posição. Com a aprovação da nova legislação, esse número subiu para 267.

Tribunal de Contas do Espírito Santo (TCES), de maneira cautelar (preventiva), determinou que o prefeito reduzisse o número de comissionados nesses cargos para a quantidade determinada na lei de 2009.

A corte argumentou que, além de não poder haver contratação daquele tipo em ano eleitoral, ainda estava em vigor a Lei Federal que proibia que houvesse aumento de despesa com pessoal nas prefeituras por conta da pandemia de Covid-19. A decisão do TCES aconteceu em outubro de 2021, de forma monocrática, e neste ano foi ratificada em decisão colegiada.

Porém, segundo informações do site da transparência do município, essas pessoas seguiram em seus cargos. O portal mostra que há 263 servidores ocupando os três níveis dessa posição, de acordo com a folha de junho deste ano.

Em fevereiro de 2022, ainda na gestão de Peçanha, a prefeitura sancionou uma nova lei, revogando a lei de 2020 (alvo de decisão do TCES) e aumentando o número de assessores de gabinete novamente para 267.

Segundo a nova administração do município, no entanto, essa lei também tem problemas: falta especificar o impacto orçamentário-financeiro, exigido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Para aumentar o gasto com pessoal, a prefeitura precisa explicitar quanto essa medida vai custar aos cofres públicos.

Dessa forma, para não atuar ilegalmente, restaria ao município voltar à lei de 2009 e reduzir o número de comissionados. Contudo, a prefeitura alega que, como a norma é muito antiga, a quantidade de assessores de gabinete previstos não atende mais às necessidades da administração municipal.

“O Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo, por tal motivo, encaminhou determinação para que o chefe do Poder Executivo se abstenha de nomear tal quantitativo (267) pelo vício de inconstitucionalidade da norma, ficando autorizado a nomear apenas a quantidade de vagas determinada pela Lei Complementar 071/2009. Tal fato não corresponde à realidade da demanda de serviços públicos, sendo o quantitativo maior operado ilegalmente até o início da presente gestão. Por esta razão, encaminhou-se o Projeto de Lei apenas para que se supra a exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal, não prejudicando os serviços”, diz nota enviada pela prefeitura.

O QUE CONSTA NO NOVO PROJETO DE LEI

O novo projeto de lei enviado pela prefeitura em 13 de julho à Câmara não só "formaliza" os 267 postos de assessores de gabinete que já estão contratados, como amplia em mais 15 o número de vagas nessa posição.

A prefeitura também propõe mudanças na remuneração. A Gazeta comparou os salários dos comissionados atuais com o que está previsto no projeto. Veja na tabela abaixo:

Na justificativa, a prefeitura argumenta que atualmente, o pagamento dos servidores comissionados para o cargo de assessor de gabinete custa R$ 12 milhões aos cofres municipais. Caso seja aprovada, mesmo com o acréscimo de 15 cargos, a administração afirma que manterá praticamente o mesmo volume de gastos.

Diz ainda que a cidade gasta com pessoal 36% do limite máximo permitido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O limite prudencial é de 51,3%. A nova lei, segundo cálculos da prefeitura, elevaria o gasto à 36,9% este ano.

Para 2023, esse percentual deve se elevar para 38,5% e permanecerá neste patamar até 2025, de acordo com cálculos da prefeitura.

Porém, na estimativa de impacto financeira, que está anexa ao projeto, a contadora-geral do município alerta que, caso o prefeito não reduza os gastos com pessoal, pode ter dificuldade em quitar a folha de pagamento já que uma grande parcela da receita do município, notadamente aquelas que vêm dos royalties do petróleo, não podem ser usadas para pagamento de pessoal.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais