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Humorista diz que se passou por Bolsonaro em áudios durante a campanha

Humorista diz que se passou por Bolsonaro em áudios durante a campanha

Para especialistas, iniciativa não configura nenhuma irregularidade eleitoral

Publicado em 29 de novembro de 2018 às 21:48

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André Marinho (Centro) imita Bolsonaro em vídeo com integrantes do MBL. (Reprodução)

O humorista André Marinho — filho do empresário Paulo Marinho, integrante do núcleo duro da campanha de Jair Bolsonaro — afirmou em uma entrevista que gravou "milhares de áudios " enviados para eleitores se passando pelo presidente eleito durante a campanha. A declaração foi dada aos coordenadores do Movimento Brasil Livre (MBL) Kim Kataguiri (DEM-SP), eleito deputado federal, e Arthur do Val (DEM-SP), que conquistou uma vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo. Embora nas redes sociais a prática tenha sido alvo de críticas, para especialistas em direito eleitoral ouvidos pelo GLOBO ela não confgura nenhum ilícito eleitoral.

O programa com a participação de Marinho foi publicado no Youtube no dia 18 de novembro, mas só ganhou repercussão nesta semana — no momento já tendo sido visto 150 mil vezes. Na entrevista, André Marinho faz imitações de Bolsonaro e destaca a convivência que teve com ele durante a campanha, já que a casa de seu pai, no Jardim Botânico, abrigou as gravações de programas eleitorais do presidente eleito. O jovem de 24 anos então afirma.

"Eu não sei se isso é crime eleitoral ou não, mas eu estava correndo esse risco. O mais emblemático de todos, e eu mandei milhares de áudios, não estou brincando. O mais emblemático para mim foi o dia em que um amigo em comum pediu para eu fazer um ádio para os garimpeiros da Serra Pelada, que é um reduto petista", revela, para depois complementar. "Eu devo ter virado uns 50 mil votos".

André Marinho minimizou a repercussão do vídeo. O humorista afirmou que não se preocupou em medir se a polêmica aumentou a repercussão de seu trabalho nas redes sociais.

"(Recebi) essa polêmica com indiferença. Esse assunto sempre foi irrelevante e insignificante", diz. "Estou passando por um período ascendente no meu trabalho, mas não saberia quantificar se o crescimento coincidiu com esse episódio. Não perco meu tempo medindo".

Marinho ainda garantiu que Jair Bolsonaro aprova as imitações, embora diga que não sabe se continuará retratando o presidente eleito durante seu mandato.

"Tanto curte (a imitação) que endossou meu canal e gravou um vídeo me apoiando durante a campanha", lembra.

Após a polêmica, André Marinho divulgou uma nota em sua página no Facebook. No texto, ele afirma que "os pedidos de áudio ao qual me referi em entrevista ao MBL foram advindos de amigos e não da estrutura de campanha do então candidato Jair Bolsonaro". O humorista destaca ainda que "apesar do tom leviano empregado na entrevista que cedi, não cometi, em momento algum, crime eleitoral com minhas imitações. Vale destacar que este áudio foi feito sem nenhum fim eleitoreiro, só atendi o pedido de um amigo que tomou a iniciativa de envia-lo para seu destinatário final".

PGR E ESPECIALISTAS NÃO VEEM IRREGULARIDADES

Além de ter cedido a casa para gravações e encontros políticos de Bolsonaro, Paulo Marinho também foi eleito primeiro suplente de Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) no Senado. Ele já acompanhou o presidente eleito em ida a Brasília durante a transição.

A Procuradoria-Geral Eleitoral, responsável por ações envolvendo candidaturas presidenciais, afirmou em nota que não tem nenhum procedimento em curso para apurar os fatos citados por André Marinho: "É necessária vinculação e participação direta de um candidato ou partido. No entanto, condutas de terceiros podem apuradas em outras esferas jurídicas", diz a nota.

Marilda Silveira, especialista em direito eleitoral e professora do IDP-São Paulo, crê que, embora possa haver uma análise mais detida sobre o caso concreto, a princípio não é possível caracterizar a conduta como irregularidade, uma vez que o único possível prejudicado pela imitação seria o próprio Bolsonaro.

"Como apoiador, André Monteiro está investindo esforços na campanha que ele apoia. Isso não é enganar o eleito. Não existe fraude a favor", afirma.

Na mesma linha, Vânia Aieta, professora de direito eleitoral da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), lembra ainda que a liberdade de atuação dos humoristas durante o processo eleitoral foi resguardada por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em junho.

"Hoje esse tipo de procedimento está assegurado em um acórdão do STF sobre humor, que pode ser de crítica ou de impulsionamento, quando é elogioso", lembra.

Vânia Aieta, porém, ressalva que uma possível irregularidade poderia existir no emprego da estrutura de campanha para divulgar os áudios ou na contratação, ainda que informal, de um humorista para imitar o candidato.

Essa não é a primeira polêmica na qual André Marinho se envolve durante a campanha eleitoral. Ao jovem também foi inicialmente atribuída a tradução da conversa telefônica entre Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , após o anúncio da vitória sobre Fernando Haddad (PT). A informação foi confirmada por seu pai, Paulo Marinho, e por Gustavo Bebianno, nomeado para a Secretaria-Geral da Presidência do futuro governo.

Posteriormente, o vereador Carlos Bolsonaro, filho de Jair e desafeto de Bebianno, usou seu perfil no Twitter para negar a informação. "Quem traduziu a conversa entre Bolsonaro e Trump jamais foi a pessoa mencionada, mas outra que fez de coração e quis somente ajudar. Conheço e agradecemos o voluntarismo puro deste ser humano!", disse na publicação.

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Além de humorista, André Marinho se apresenta nas redes sociais como empreendedor. Ele também é presidente do Lide Futuro — braço jovem da entidade fundada pelo governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB) — no Rio de Janeiro.

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