Publicado em 31 de maio de 2019 às 21:15
Assassino do ex-governador Gerson Camata, o economista Marcos Venicio Moreira Andrade afirmou, em interrogatório, na quinta-feira (30), que não premeditou o crime e que saber que tirou a vida do ex-chefe tem sido "uma tortura diária". >
"O presídio é muito duro, mas mais duro ainda é saber que tirei a vida dele", disse, de acordo com a transcrição das declarações prestadas por ele, à qual a reportagem do Gazeta Online teve acesso.>
O interrogatório foi conduzido pelo juiz Felipe Bertrand Sardenberg Moulin, da 1ª Vara Criminal de Vitória, responsável pelo caso. Foi a primeira vez que ele prestou depoimento em Juízo. >
>
Marcos Venicio, o Marquinho, deu um tiro em Gerson Camata no dia 26 de dezembro de 2018, perto de uma banca de revistas, na Praia do Canto, Vitória. O ex-governador morreu no local, aos 77 anos.>
Assessor de Camata por cerca de 20 anos, Marquinho foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPES) pelo crime de homicídio qualificado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima.>
Para a acusação, o assassinato foi premeditado. Marcos Venicio rechaçou essa tese, disse que o encontro com o ex-govenador, no dia do crime, foi inesperado.>
Em virtude de um processo judicial por danos morais movido por Camata, Marcos Venicio teve cerca de R$ 60 mil bloqueados pela Justiça. Foi esse tema que levou o acusado a abordar a vítima.>
Ambos estavam rompidos desde 2009, quando Marquinho fez uma série de denúncias contra Camata. Elas foram publicadas pelo jornal O Globo, em 19 de abril daquele ano.>
O ex-assessor relatava que funcionários eram obrigados a repassar parte dos salários ao, na época, senador. Também falava em recebimento de mesada de empreiteiras e notas fiscais falsas em campanha eleitoral.>
A VERSÃO DO RÉU>
Marquinho disse que estava armado porque pretendia regularizar o registro do armamento junto à Polícia Federal - apesar de a atualização do registro não exigir o transporte da arma.>
Antes de ir à polícia, decidiu resolver trâmites relacionados às lojas comerciais que possui, relacionados a aluguel e pintura. As atividades tomaram mais tempo do que gostaria. Por isso, mudou de ideia naquele dia.>
O réu contou que chegou a entrar em uma agência bancária na Reta da Penha. Ao lembrar que portava uma arma, deu meia volta e partiu para casa, a pé, pelas ruas Aleixo Netto e Chapot Presvot.>
Encontrou um conhecido em uma padaria da Praia do Canto e permaneceu com ele. Em seguida, Gerson Camata passou por ele e acenou com a cabeça.>
Marquinho contou que "correu" até Camata para conversar com ele. "Seria uma oportunidade única", destacou. Camata se negou. "A partir daí, o Marcos Venicio sacou a arma e efetuou um tiro aleatório", diz o documento.>
Como Camata não desabou no exato momento do disparo, caminhando antes disso por alguns metros, Marquinho disse que não sabia nem se o tiro havia atingido o ex-governador.>
Depois do crime, ele entrou no comércio de um conhecido, tomou um ansiolítico e permaneceu por lá até a chegada do deputado estadual Danilo Bahiense (PSL) - que ainda não havia tomado posse no cargo. Delegado, Bahiense conhecia o assassino e foi o responsável por levá-lo à delegacia e recolher a arma usada no crime.>
XINGAMENTOS>
Ainda segundo as informações que prestou à Justiça, Marquinho foi surpreendido com o bloqueio da conta no dia 25 de maio de 2018. A surpresa se deu porque o processo que tramitava no Espírito Santo, disse ele, já havia prescrito. O bloqueio se deu pela ação movida em Brasília.>
O advogado de Marquinho teve um AVC e acabou perdendo prazo de recursos. Outro advogado tentou reverter o bloqueio, sem sucesso.>
O assassino disse que nos quase dez anos em que os casos tramitaram na Justiça foi agredido verbalmente por Gerson Camata em alguns encontros casuais. "Vagabundo", "canalha" e "viadinho" teriam sido os termos usados. Os xingamentos o teriam levado a registrar ocorrência na polícia.>
MIL E UMA UTILIDADES>
A proximidade entre Marcos Venicio e Gerson Camata começou nos anos 1980. Ambos se conheceram nos Estados Unidos. Camata, na época governador do Espírito Santo, estava em viagem. Marquinho estudava no país e se preparava para voltar ao Brasil.>
Segundo o relato do próprio Marcos Venicio, ele passou a trabalhar na campanha de Camata ao Senado. Destacou-se no comitê e logo passou a ganhar a confiança do núcleo mais próximo ao político. Calcula que tenha coordenado sete campanhas de Gerson e Rita Camata, esposa do ex-governador.>
A relação era tão próxima que Marquinho era considerado alguém da família. Ele disse que tinha a chave da casa, na Ilha do Frade, e foi ele mesmo quem intermediou a compra do imóvel. Além disso, podia entrar e sair quando quisesse. Almoçava, jantava e passava Réveillon com os Camata.>
"Passei a me dedicar 24 horas a Camata. Almoçava e jantava na casa dele. Participava não só da vida profissional, mas da social. Dirigia, fazia compras, levava cachorro ao petshop, filho pra escola. Ganhei o apelido de 'bombril'", disse.>
O TRABALHO NO BANESTES>
O rompimento teria se dado após Marcos Venicio perder o cargo de diretor da Banestes Seguros. No depoimento, ele não disse que ganhou o cargo, no primeiro governo Paulo Hartung, por influência de Camata. Relatou que foi convidado por pessoas do próprio Executivo.>
Conforme a versão dele, não quis, uma vez no cargo, ser uma "rainha da Inglaterra" e começou a confrontar práticas antiéticas. Quis acabar com a influência de políticos na liberação de pagamentos de seguros e ser mais rigoroso com as oficinas mecânicas que prestavam serviço.>
Ele atribui a demissão ao comportamento ético. Permaneceu no cargo entre 2003 e 2005. Após o desligamento, pediu a intervenção de Camata para voltar ao cargo. Disse que, a partir de então, o ex-governador lhe fechou as portas.>
A partir disso, passou a enfrentar crises de depressão e ansiedade. Deixou Vitória por um ano e foi morar em Guarapari. >
"Eu cuidaria do Camata depois de mais velho, o acompanharia e dirigiria para ele", afirmou no depoimento.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta