Publicado em 7 de agosto de 2019 às 19:48
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) é destaque recorrente por suas declarações polêmicas, que vêm despertando reações de setores da sociedade e de líderes políticos. Em uma de suas falas mais recentes, Bolsonaro chegou a sugerir aos brasileiros "fazer cocô dia sim, dia não" para solucionar os problemas ambientais do país. Ele, que provocou o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) nacional, Felipe Santa Cruz, ao dizer que lhe diria a "verdade" sobre como seu pai desapareceu durante o regime limitar, voltou a exaltar o período ditatorial ao dizer que o coronel Brilhante Ustra (chefe do DOI-Codi) foi um "herói nacional".
Sem a recuperação econômica, os discursos podem ser prejudiciais à popularidade do governo, alertam especialistas. Durante um evento em São Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia afirmou ainda que a postura do presidente atrapalha a tramitação de projetos de interesse do governo. Os "bolsonaristas", por outro lado, consideram essa posição como uma confirmação das mudanças prometidas por Bolsonaro durante a campanha.
O Gazeta Online separou dez das frases mais marcantes ditas pelo presidente nos últimos 15 dias. Também ouvimos o professor de política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Adriano Oliveira que apontou as consequências das declarações. Confira as frases.
DIA 9 DE AGOSTO
- Fazer cocô
Jair Bolsonaro surpreendeu um grupo de repórteres que o aguardavam na entrada do Palácio da Alvorada, na última sexta-feira (9). Ele havia sido questionado se é possível fazer o país crescer com preservação, depois de destacar a necessidade de alimentar a população crescente e dizer que que a pressão internacional contra o desmatamento ocorre porque "eles querem a Amazônia. Após um dos jornalistas perguntar se era possível unir desenvolvimento e preservação ambiental, o presidente sugeriu que os brasileiros façam cocô em dias alternados.
- Cultura x Filhos
Na mesma entrevista, Bolsonaro também sugeriu que os brasileiros tenham mais cultura e menos filhos e disse, inclusive, que ele é uma exceção à esta regra, já que ele mesmo tem cinco filhos. Em seguida, afirmou que, segundo o Ministério da Defesa, 2 milhões de pessoas nascem no Brasil todos os anos, "e as pessoas têm que comer". "E como você tem que estimular o agronegócio, que é parte da economia que mais está dando certo no Brasil? Concorremos com Austrália, Estados Unidos e temos de colaborar com esse setor", acrescentou.
DIA 8 DE AGOSTO
- Brilhante Ustra
Na frase acima, Jair Bolsonaro se refere ao coronel Brilhante Ustra, que chefiou o DOI-CODI durante a ditadura militar, entre os anos de 1970 e 1974. A declaração foi dada na saída do Palácio da Alvorada, após ser questionado por jornalistas sobre um almoço que terá com a viúva do coronel, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra. Segundo ele, Joselita conta uma história sobre o marido diferente da que a esquerda conta.
Ustra foi o primeiro militar condenado por crimes cometidos durante a ditadura. Ele é acusado por testemunhas de comandar pessoalmente sessões de tortura.
DIA 5 DE AGOSTO
- Johnny Bravo
Jair Bolsonaro ficou irritado com jornalistas na segunda-feira (5) durante a cerimônia de inauguração da primeira etapa de uma usina solar em Sobradinho, na Bahia. O presidente afirmou que os jornalistas fazem um trabalho excelente, mas que precisam entender que as eleições terminaram e que ele venceu.
A frase foi dita depois que ele foi questionado sobre a nomeação do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), para a embaixada do Brasil em Washington, nos Estados Unidos.
O presidente se comparou a Johnny Bravo, personagem de um desenho animado exibido nos Estados Unidos que ficou conhecido durante a década de 90. O comportamento de Jhohnny é marcado por egocentrismo, vaidade e narcisismo. Bolsonaro ainda postou uma imagem do personagem em seu twitter na terça (6).
- Cuba no Nordeste
Ainda na segunda-feira (5), Bolsonaro voltou a criticar os governadores do Nordeste. Afirmou que não negará ajuda a nenhum Estado, desde que os governadores trabalhem em em parceria com a sua gestão. O presidente ainda classificou os chefes de Executivos estaduais como pessoas que querem transformar o Brasil em Cuba e classificou os representantes como pessoas que fazem parte de uma esquerda canalha, que deseja dividir o país.
Bolsonaro também negou que seja preconceituoso e afirmou que o politicamente correto o está impedindo de contar piadas: A gente não pode mais contar uma piada. Não posso nem contar piada de cabeçudo, de goiano, de gaúcho, de cearense cabra da peste, disse.
No último dia 19, o presidente foi flagrado enquanto chamava os governantes da Região Nordeste como paraíbas em conversa com o Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Sem que ele percebesse, a conversas foi captada e amplificada pelos microfones da TV Brasil, quando se preparava para o café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto.
- Números mentirosos
Também na segunda-feira (5), Bolsonaro fez um comentário com relação aos dados divulgados pelo Inpe, que apontaram para o aumento do desmatamento na região da Amazônia. No dia 19 de julho, Jair Bolsonaro já havia questionado os indicadores divulgados pelo Inpe.
Após as críticas do presidente, o então diretor do instituto, Ricardo Galvão, reiterou a veracidade dos dados do desmatamento. Na última semana, no entanto, Galvão anunciou que foi exonerado da direção do Instituto. O Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, afirmou, na segunda-feira, que pensa em nomear um oficial da aeronáutica para assumir o cargo.
DIA 4 DE AGOSTO
- Parentes em cargos públicos
Ao rebater uma reportagem do jornal "O Globo", que mostrou que Bolsonaro e seus filhos políticos empregaram 102 pessoas com laços familiares, o presidente defendeu a nomeação de parentes e destacou sua intenção de indicar Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para o cargo de embaixador brasileiro em Washington. Bolsonaro disse ter nomeado parentes seus apenas antes do Supremo Tribunal Federal (STF) proibir tais nomeações.
DIA 1º DE AGOSTO
- Proibição de pesca
Em uma live no Facebook, no dia 1º de agosto, o presidente defendeu que as leis que limitam pesca em território brasileiro sejam revistas. A justificativa é de que a diminuição das restrições irá favorecer o crescimento econômico.
No vídeo, ele aparece ao lado do secretário Nacional de Pesca e Agricultura, Jorge Seif Júnior, que o presenteou com ovas de tainha. O Tribunal Regional da 4ª Região chegou a suspender a pesca industrial da espécie neste ano após o Ministério Público Federal (MPF) divulgar que ela estaria ameaçada de extinção.
Em 2012, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) do Rio Janeiro multou Bolsonaro depois que ele foi flagrado pescando em um local irregular em Angra. Porém, a multa foi anulada em 2018 depois de um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU). O órgão compreendeu que o presidente não teve amplo direito de defesa e que a garantia de contraditório não foi assegurada.
DIA 30 DE JULHO
- Comissão da Verdade
No dia 30 de julho, Bolsonaro questionou a seriedade do trabalho da Comissão Nacional da Verdade (CNV) nas investigações de desrespeito aos direitos humanos durante a ditadura. Bolsonaro também disse que o pai do presidente da OAB teria sido morto por representantes da esquerda.
Ao ser informado sobre a documentação que comprova que Fernando Augusto Santa Cruz estava sob o poder do Estado no momento de sua morte, o presidente pôs em dúvida as intenções da comissão: Qual foi a composição da comissão da verdade? Foram sete pessoas indicadas por quem? Pela Dilma.
DIA 30 DE JULHO
- Mortos em presídio
Ao ser questionado por jornalistas, o presidente decidiu não se manifestar sobre o massacre no presídio em Altamira, no Pará. Uma rebelião no local deixou 57 mortos no último dia 29.
Quando saía do Palácio da Alvorada, no dia 30 de julho, disse que só se pronunciaria sobre o assunto depois que eles conversassem com as vítimas dos presos que foram mortos.
As mortes ocorreram no Centro de Recuperação Regional de Altamira. O tumulto teria sido causado por uma briga entre duas facções inimigas, que disputavam o controle da unidade prisional.
DIA 29 DE JULHO
- Morte na ditadura
Na última segunda-feira (29), Bolsonaro deu a entender que sabe o que teria acontecido com Fernando Augusto de Santo Cruz, que foi morto durante a ditadura militar. Fernando era pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz.
O comentário foi feito quando o presidente falava sobre o processo judicial que envolve Adélio Bispo, responsável por uma facada em Jair enquanto ela era candidato à presidência. Bolsonaro reclamava porque a entidade havia entrado com uma ação para impedir a quebra do sigilo telefônico de um dos advogados de réu.
ANÁLISE
Para o professor de Política da UFPE, Adriano Oliveira, os posicionamentos do presidente são prejudiciais para a popularidade do governo, inclusive entre as pessoas que votaram nele, mas não estão entre os eleitores mais fiéis.
"Esses eleitores podem não aceitar esse confronto à Constituição e reconhecer que Bolsonaro não entende a importância do cargo que ocupa", analisa.
Oliveira afirma que uma maneira de garantir o apoio da população e retirar o foco das polêmicas seria a recuperação econômica. De acordo com o professor, caso os brasileiros percebam que o país voltou a crescer, "fica mais fácil acreditar que o governo está de fato comprometido com o crescimento do Brasil".
Mas, por outro lado, as declarações surtem efeito contrário nos bolsonaristas mais ferrenhos, avalia o professor. Isso ocorre porque os apoiadores mais fiéis do governo já esperam por esse tipo de posicionamento. Como desejam mudanças profundas no Brasil, o ataque e descrença nas instituições e na imprensa são vistos como positivos por essa fatia do eleitorado.
(Com colaboração de Maíra Mendonça)
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