Publicado em 5 de agosto de 2019 às 00:24
O custo da folha de pagamento de um gabinete dos deputados estaduais chegou a alcançar R$ 110 mil, em um único mês, só com assessores parlamentares. Cada parlamentar da Assembleia Legislativa tem de 10 a 19 servidores, que são uma rede de pessoas que os ajudam a incrementar o apoio popular e a atender a população. O valor é referente a junho de 2019.>
Com muito dinheiro disponível para pagar assessores, a verba oferece um alto padrão de cargos ao deputado. O gasto de cada um dos 30 gabinetes é equivalente ao de uma empresa de pequeno porte do ramo de serviços ou comércio, segundo parâmetros do Sebrae e do IBGE.>
Considerando um valor médio, o custo da equipe de cada parlamentar foi de R$ 81,8 mil em junho. Ao todo, eles gastaram, juntos, R$ 2,45 milhões com os pagamentos de 505 pessoas.>
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A deputada Raquel Lessa (Pros) registrou a maior despesa, com R$ 110 mil, para seus 16 assessores, seguida pela deputada Janete de Sá (PMN), com R$ 107 mil para 18 assessores. Os que gastaram menos foram Lorenzo Pazolini (sem partido), com R$ 42,1 mil, e Sergio Majeski (PSB), com R$ 61,1 mil, ambos com 10 assessores.>
O levantamento foi feito pelo Gazeta Online com base nas informações disponíveis sobre cada servidor no Portal da Transparência da Assembleia. Nele, foi considerada a remuneração bruta de cada funcionário, ou seja, a soma do salário e dos benefícios, como auxílio-alimentação, que é de R$ 1.115, auxílio-saúde, gratificação por tempo de serviço e outras.>
Foram contabilizados servidores ativos e outras 22 pessoas que receberam pagamentos retroativos naquele mês, mas que já foram desligadas.>
Distribuição>
Ao contrário de outros Estados, na Assembleia do Espírito Santo os deputados não dispõem exatamente de um valor máximo para poder utilizar com o pagamento dos seus assessores diretos.>
A regra prevista na resolução atualmente vigente é que entre os sete tipos de cargos existentes, cada um conta com uma pontuação. Eles têm salários que variam de R$ 1,3 mil, no caso do adjunto, a R$ 9,6 mil, para o supervisor geral. Cada deputado pode fazer livremente sua combinação, até a soma dos pontos dos cargos chegar a 100.>
A única limitação é quanto ao cargo de supervisor geral de gabinete, que possui o maior salário, e que cada parlamentar só pode nomear um. Todos são cargos comissionados, ou seja, de livre indicação.>
Em junho, três deputados tinham 19 assessores, o número máximo permitido: Capitão Assumção (PSL), Euclério Sampaio (sem partido) e Iriny Lopes (PT). Outros cinco parlamentares chegam próximo ao máximo, com 18.>
Em alguns gabinetes, uma parte deles não está na sede da Casa porque uma norma alterada pelos próprios deputados possibilitou que os assessores cumpram expediente externo, nas bases eleitorais, e sem a obrigatoriedade de controlar a frequência ou atestar o cumprimento do serviço.>
O Portal da Transparência não discrimina quais assessores atuam nos gabinetes e quais são externos. A jornada de trabalho deles, estabelecida por um ato, é de 40 horas semanais.>
MÉDIA SALARIAL CHEGA A R$ 6,4 MIL POR MÊS>
Devido à possibilidade que cada deputado tem de definir quantos cargos de cada tipo vai compor seu gabinete, os parlamentares utilizam diferentes estratégias para as nomeações. Enquanto alguns usam a quantidade máxima de funções, empregando um maior número de servidores com salários menores, outros possuem menos funcionários, pagando salários maiores.>
O salário médio de um assessor parlamentar que atua nos gabinetes foi, em junho, de R$ 4.918,13.>
De acordo com o gabinete, a média pode ser maior. No da deputada Raquel Lessa (Pros), a média salarial em junho foi de R$ 6.414,98. A deputada possui um supervisor geral, três coordenadores, um subcoordenador, dois técnicos júnior, cinco assistentes e quatro adjuntos. A deputada foi procurada, mas não atendeu a reportagem.>
O segundo com a maior média foi o deputado Sergio Majeski (PSB), totalizando R$ 6.112,25. Segundo ele, o resultado é devido à qualificação que exigiu de seus assessores. Fiz processo seletivo para contratá-los. Todos têm curso superior, dois têm mestrado, e desenvolvem um bom trabalho. Não se consegue bons profissionais a baixo custo. E não utilizo o cargo mais caro, de R$ 9,6 mil, disse.>
ANÁLISE: PENSAMENTO DE EMPRESA>
Os gabinetes devem pensar como uma empresa que presta serviço para o deputado e para a sociedade, com equipe diversificada e otimizada. Deve haver especialização em inteligência de dados. Dependendo do perfil do deputado, isso pode ser voltado para finanças públicas, saúde, educação, qualquer área. E serve para qualquer perfil de político. O resultado é muito maior porque ele assume capital político que vai muito além da base dele. Muitos deputados acabam comprometendo funções de gabinete ao escalar só apoiadores, e não ganham diferenciação estratégica no seu processo de representação política.>
Wallace Millis, coordenador do MBA em gestão pública da UVV>
PARLAMENTARES DEFENDEM USO DOS RECURSOS>
Retornando hoje aos trabalhos na Assembleia após um recesso de 18 dias, os deputados estaduais defendem que o gasto com assessores é fundamental para que possam desenvolver as ações do mandato e estar em contato com a população do Estado todo.>
A deputada Raquel Lessa (Pros), que registrou o maior gasto com servidores entre os deputados, não atendeu o Gazeta Online para comentar. Após a publicação da reportagem, a deputada justificou que o mês de junho foi atípico, pois seis de seus servidores - entre eles o chefe de gabinete, que possui o maior salário -, receberam o 13º salário, o que elevou o valor total.>
Janete de Sá (PMN), que possui 18 assessores, teve a segunda maior despesa entre os deputados em junho. Ela argumenta que precisa desses servidores para auxiliá-la nos trabalhos dos colegiados com os quais está envolvida.>
Trabalho dentro da legalidade, com o que a Assembleia me oferece. Presido a CPI de Maus Tratos aos Animais, atuo na Comissão de Agricultura, que tem ações para o Estado todo, na Procuradoria Especial da Mulher, e com pautas grandes como essas, preciso de um gabinete estruturado. Meu mandato dá retorno para a sociedade, tanto é que estou no quinto. Você nunca vai encontrar meu gabinete vazio. Pelo contrário, falta equipamento, tive que adquirir cinco computadores por minha conta, explica a deputada.>
O deputado Hudson Leal (PRB) também defende que a análise sobre a quantidade de funcionários de gabinete deve ser relativizada.>
Tive votos em todos os municípios do Estado, tenho muita representatividade. Quem fica defendendo poucos assessores é porque tem pouco contato com a população. Não faço política em rede social, faço indo até os municípios. E em muitos deles preciso de ter pessoas minhas trabalhando, afirma.>
José Esmeraldo (MDB) acrescentou que é necessário ter assessores em locais estratégicos. Meus funcionários trabalham muito e preciso deles me auxiliando no Estado. Na política não tem férias, e não passo a mão na cabeça de ninguém. Meus assessores externos eu mando fazer um relatório por semana, com fotos, e que estejam presencialmente uma vez por semana no gabinete.>
Quantidade>
Os deputados que possuem menos assessores, Lorenzo Pazolini (sem partido) e Sergio Majeski (PSB), consideram o número de 10 funcionários suficiente para desenvolver os trabalhos.>
Pazolini afirma que trabalha com conceitos da iniciativa privada. Têm possibilitado dinamismo, fiscalizar o Executivo e atendimento ao cidadão. É um total que atende perfeitamente, com todo o respeito aos demais deputados. E temos uma redução de quadros, com redução efetiva de gastos.>
Majeski pontuou sobre a economia feita. É uma pena que a gente não possa destinar essa economia de recursos com pessoal para projetos do Estado, ela volta para o caixa da Assembleia, comenta.>
*Esta reportagem contou com a colaboração do residente André Aguiar>
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