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Publicado em 13 de maio de 2021 às 18:38
A Câmara da Serra aprovou, durante a sessão de quarta-feira (12), uma resolução que permite ao presidente e aos demais membros da Mesa Diretora ocupar e até presidir comissões permanentes na Casa. A alteração foi aprovada por 16 votos favoráveis e apenas cinco contra. >
O projeto de resolução foi apresentado pela Mesa Diretora e recebeu votos contrários dos vereadores Dr William Miranda (PL), Elcimara Loureiro (PP), Igor Elson (Podemos), Professor Rurdiney (PSB) e Rodrigo Caçulo (Republicanos). O vereador Pablo Muribeca (Patriota) não estava presente por motivos de saúde.>
As comissões temáticas são espaços de poder e visibilidade para os parlamentares e têm papel decisivo na tramitação de projetos. Todas as propostas que tramitam nas Casas Legislativas passam pelas comissões para ter a constitucionalidade e a viabilidade atestadas pelos colegiados, que unem parlamentares e assessores técnicos. >
Além disso, as comissões se tornam um espaço de debate com a sociedade e colocam parlamentares em evidência para nichos eleitorais. A Comissão de Segurança, por exemplo, mantém um diálogo direto com membros do segmento da segurança pública. >
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A medida não é ilegal, mas especialistas apontam que pode causar um "desequilíbrio no jogo interno", dando mais relevância e poder de decisão para alguns parlamentares em detrimento de outros. Na justificativa do projeto, a Mesa Diretora sustentou que havia "uma grande quantidade de comissões previstas" e uma "insuficiência" de vereadores para compô-las.>
A Casa tem 11 comissões permanentes, distribuídas entre 18 dos 23 parlamentares. Pelo regimento interno, cada vereador pode integrar até três colegiados. Apenas cinco dos 18 já atingiram o máximo de comissões permitidas.>
A votação da proposta durou poucos minutos e apenas o vereador Professor Rurdiney justificou seu voto. O parlamentar argumentou que ainda há vereadores que não estão em nenhuma comissão e que, em sua opinião, o texto deveria delimitar a participação em colegiados "para alguns membros da Mesa e não todos". >
"Tendo em vista que na Casa há vereadores que não estão em nenhuma comissão e não estão na Mesa, ou em apenas uma ou duas comissões, eu acredito que poderia ser melhor distribuído (os colegiados). Além disso, acredito que deveria ser apenas para alguns membros a participação em comissões e não para todos", argumentou.>
O presidente da Câmara, Rodrigo Caldeira (PRTB), nega que a alteração tenha como objetivo ampliar os poderes dos membros da Mesa. Ele sustenta que alteração visa permitir que o 2º vice-presidente e o 2º secretário possam integrar colegiados, uma vez que assumem um papel mais "figurativo" na Mesa.>
"Quando vai montar uma chapa para Mesa Diretora ninguém quer ser 2º vice presidente ou 2º secretário, porque ficam impedidos de integrar comissões. Mas presidente e secretário não vão assumir comissões jamais. Eu tenho zero interesse. Qual presidente vai querer participar de comissão? Isso nunca vai acontecer. Se o presidente quiser atrasar projetos ele não precisa de comissão", disse.>
A Câmara aprovou um novo regimento no ano passado, quando Caldeira já era presidente da Casa. O regimento anterior determinava que "os vice-presidentes e os secretários somente poderão participar de comissão permanente quando não seja de outra forma possível compô-la adequadamente, vedada a participação do presidente".>
Já o novo regimento, assinado em setembro de 2020, proibia a participação de todos os membros. Caldeira foi um dos cinco vereadores reeleitos no último pleito e, oito meses depois, a nova resolução foi proposta, permitindo que todos possam integrar colegiados sem qualquer limitação.>
Permitir que o presidente integre comissões é uma medida "sem sentido", para o cientista político João Gualberto Vasconcellos. Autoridade máxima da Câmara, o presidente já assume poderes e responsabilidades tanto na parte administrativa da Casa – nomeando cargos, assinando contratos, por exemplo – quanto na parte legislativa. É ele quem pauta os projetos que serão votados.>
"Desequilibra o jogo interno de poder. O Legislativo para funcionar bem tem que ter equilíbrio, porque na verdade seria o lugar de se representar diferentes correntes de pensamento da sociedade. Me parece que a motivação disso é manter o absoluto controle no que acontece na Câmara, o que vai contra as instituições democráticas", assinala.>
Além disso, relembra o cientista político Antônio Carlos Medeiros, o presidente precisa manter uma certa "imparcialidade" nas pautas legislativas, agir como "árbitro". Se integrar comissões, pode acabar tomando lados e defendendo certos interesses. "Não é recomendável do ponto de vista do funcionamento democrático dos Legislativos. É uma ambição política desnecessária", pontua.>
Devido a essa "lógica política", na Câmara dos Deputados, assim como nas Casas Legislativas de Vitória, Vila Velha e Cariacica, o presidente é proibido de integrar comissões. No caso da Câmara dos Deputados a proibição se estende aos demais membros da Mesa.>
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