Publicado em 30 de julho de 2019 às 15:03
- Atualizado há 6 anos
Um dia depois de dizer que o jornalista Glenn Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil, cometeu crime, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) o chamou de "militante". >
Ele volta a insinuar que Greenwald teria cometido atos ilegais, mas não diz quais. "O primeiro crime é invasão. Foi por terceiros", disse>
Desde 9 de junho, o site The Intercept Brasil tem publicado reportagens com base em diálogos vazados do ministro Sergio Moro e de procuradores da força-tarefa da Lava Jato.>
Sem apontar um crime, Bolsonaro disse que Greenwald estava "dando repercussão ao crime" e que caberia a ele "desvendá-lo". >
>
"Quando você pega uma informação dessa -e se tivesse informação, nem sei se tem e nem sei se é verdade o que tiram lá de dentro- e começa a passar para frente, você está dando repercussão a um crime, pô. Você tem que ter a obrigação de desvendar aquele crime", disse.>
Os repórteres disseram que não cabe ao jornalista a apuração de um crime. >
"Aqui, o Greenwald é jornalista? Ah tá, o Greenwald é jornalista? Ele é jornalista? Ele é militante. Eles já acharam R$ 100 mil com gente deles lá, ta?", ironizou.>
Bolsonaro foi perguntado sobre onde obteve a informação sobre os R$ 100 mil e se ele teve acesso às investigações da Polícia Federal.>
"Isso ai é reservado", disse.>
A Polícia Federal apura o envolvimento de quatro suspeitos de terem hackeado as contas das autoridades. Até o momento não houve conclusão sobre motivações financeiras para invasão dos celulares. Greenwald não consta entre os investigados. >
Na segunda-feira (29), Bolsonaro disse que Greenwald cometeu crime. >
"Eu estou achando que, no meu entender, ele cometeu um crime porque em outro país ele estaria já numa outra situação. Espero que a Polícia Federal chegue, ligue realmente todos os pontos. No meu entender isso teve transações pecuniárias. E pelo que tudo indica a intenção é sempre atingir a Lava Jato, atingir o [ministro] Sergio Moro, a minha pessoa, tentar e desqualificar e desgastar. Invasão de telefone é crime, ponto final", afirmou.>
Dias antes, no sábado (27), ele afirmou que o jornalista "poderia pegar uma cana" no Brasil. >
Na ocasião, Bolsonaro disse que Greenwald e o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ) são "malandros" por terem se casado e adotado dois filhos no país. >
O presidente fazia referência a uma portaria publicada por Moro na sexta-feira (26), que estabelece um rito sumário de deportação de estrangeiros considerados "perigosos" ou que tenham praticado ato "contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal".>
"Ele [Glenn] não se encaixa na portaria. Até porque ele é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro, malandro, para evitar um problema desse, casa com outro malandro e adota criança no Brasil. Esse é o problema que nós temos. Ele não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não", afirmou.>
Quando as primeiras mensagens vieram à tona, em 9 de junho, o Intercept informou que obteve o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo. O pacote inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, no aplicativo Telegram, a partir de 2015.>
As mensagens obtidas pelo Intercept e divulgadas até este momento pelo site e por outros órgãos de imprensa, como a Folha de S.Paulo, revelam que o então juiz Moro atuou em parceria com os procuradores em diferentes processos, aparentemente sem a imparcialidade diante de acusação e defesa exigida a um magistrado segundo as regras do Judiciário.>
Caso haja entendimento de que Moro estava comprometido com a Procuradoria (ou seja, era suspeito), as sentenças proferidas por ele podem ser anuladas. Isso inclui o processo de Lula, que está sendo avaliado pelo STF e deve ser julgado no segundo semestre deste ano.>
Segundo o Código de Processo Penal, "o juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes" se "tiver aconselhado qualquer das partes". Afirma ainda que sentenças proferidas por juízes suspeitos podem ser anuladas.>
Já o Código de Ética da Magistratura afirma que "o magistrado imparcial" é aquele que mantém "ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito". >
Moro tem repetido que não reconhece a autenticidade das mensagens, mas que, se verdadeiras, não contém ilegalidades.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta