Publicado em 29 de julho de 2019 às 22:23
- Atualizado há 6 anos
O presidente Jair Bolsonaro cancelou de última hora uma agenda que manteria na tarde desta segunda-feira (29) com o ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian.>
Bolsonaro deveria receber Le Drian em audiência às 15h no Palácio do Planalto, numa agenda que deveria se estender até as 15h30.>
No entanto, minutos antes da reunião, o francês foi avisado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, de que Bolsonaro não teria mais horário disponível para o encontro.>
Poucos minutos depois do horário em que a reunião deveria acabar, por volta de 15h45, o presidente apareceu em uma live nas redes sociais cortando o cabelo.>
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Diante do cancelamento com o presidente, o vice-presidente Hamilton Mourão também modificou sua agenda e decidiu não se encontrar com o francês. A reunião estava prevista para as 16h.>
No momento da comunicação do cancelamento, os chanceleres da França e do Brasil estavam almoçando no Palácio do Itamaraty, em Brasília, após realizarem uma reunião de trabalho.>
Diplomatas consultados pela Folha disseram, sob condição de anonimato, que suspender um encontro de última hora com uma autoridade de alto nível de outro país é considerado um gesto no mínimo descortês. >
Eles lembraram ainda que a França é um dos principais parceiros do Brasil e mantém uma aliança estratégica com o país na área de defesa. >
De acordo com diplomatas, desmarcar uma reunião desse nível praticamente no último minuto muitas vezes é uma forma de demonstrar descontentamento com algum assunto da relação bilateral. >
Após o fim do almoço no Itamaraty, Araújo negou qualquer componente político no gesto e disse que o cancelamento da agenda ocorreu por "uma questão de agenda do presidente.">
Ao deixar o Palácio do Alvorada na manhã desta segunda, Bolsonaro disse que receberia o francês e que trataria da questão ambiental, mas que não aceitaria imposições de estrangeiros. >
"Hoje eu vou receber o premiê francês [sic], se não me engano, para tratar de assuntos como meio ambiente e ele não vai querer falar grosso comigo, ele vai ter que entender que mudou o governo do Brasil. Aquela subserviência que tínhamos no passado de outros chefes de Estado para com o primeiro mundo não existe mais. Se fosse outro governo qualquer, quando estava em Osaka, no G20, quando viesse para cá demarcaria mais 10, 15, 20 reservas indígenas", afirmou. >
A administração Bolsonaro e o governo francês -liderado pelo presidente Emmanuel Macron- trocaram farpas nas últimas semanas. >
No início do mês, em um café da manhã com a bancada ruralista, Bolsonaro criticou Macron e a líder do governo alemão, Angela Merkel, e disse que eles "não têm autoridade para discutir" a questão ambiental com o Brasil.>
O aumento dos índices de desmatamento no país tem sido um dos principais flancos de crítica do governo Bolsonaro na Europa. >
O tema é inclusive usado como argumento por agentes políticos e econômicos contrários ao acordo de livre comércio assinado entre a União Europeia e o Mercosul.>
Na Europa, a França é um dos principais focos de resistência ao tratado comercial. >
Em declaração a jornalistas nesta segunda, Le Drian tratou da questão. Ele disse que a França tomará "o tempo necessário" para avaliar o acordo UE-Mercosul.>
"Reconhecemos o enorme potencial econômico que esse acordo representa para as empresas. Ao mesmo tempo cabe-nos tomar o tempo necessário para realizar da nossa parte uma avaliação nacional que seja completa, independente e transparente deste acordo. Isso permitirá então determinar a posição das autoridades francesas", disse Le Drian.>
O ministro francês afirmou ainda que, em relação ao processo de discussão do acordo de livre comércio, a França observará três elementos: a implementação do Acordo de Paris (pacto global pela combate ao aquecimento global), a observação de normas ambientais e sanitárias e a proteção de segmentos agrícolas sensíveis. "São os três pontos que despertam vigilância da nossa parte", disse. >
Antes de visitar o Brasil, Le Drian esteve no Chile, onde foi recebido pelo presidente Sebastián Piñera. >
De Brasília, o chefe da diplomacia francesa segue para São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital paulista, Le Drian deve se encontrar com o governador João Doria (PSDB).>
O porta-voz da presidência da República, general Otávio Rêgo Barros, disse que a live em que Bolsonaro apareceu cortando o cabelo não tem relação com a suspensão da agenda com o francês. >
Segundo ele, como o chanceler francês já tinha se reunido com Araújo, a agenda com Bolsonaro foi cancelada. >
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