Publicado em 29 de abril de 2018 às 18:41
No anexo 40 de sua delação premiada, o economista Carlos Miranda acusa o ex-secretário de Segurança José Mariano Beltrame de ter se beneficiado do esquema de corrupção de Sérgio Cabral. De acordo com o delator, de 2007 a 2014, Beltrame, que é delegado da Polícia Federal, recebeu um valor mensal de R$ 30 mil, recursos que teriam sido entregues à mulher dele, a professora de Educação Física Rita Paes. O ex-secretário e sua mulher negam as acusações. A delação de Miranda foi homologada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).>
O conteúdo da delação de Miranda já foi encaminhado ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal. Durante dez anos (oito no governo Cabral e dois no de Luiz Fernando Pezão), Beltrame liderou a guerra contra o crime no Estado do Rio e foi o responsável pela implantação da Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Até o momento, o delegado tinha passado incólume pelas investigações da Operação Calicute, versão da Lava-Jato no Rio, responsável pela prisão de Cabral em novembro de 2016.>
Preso desde novembro de 2016, Carlos Miranda é acusado de ser o principal operador de Cabral, responsável pela coleta e distribuição de propina do esquema. No anexo 40, ele contou que, antes de chegar às mãos dos Beltrame, o dinheiro seria repassado ao empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto. Na época, Paulo Fernando era dono do apartamento alugado pelo delegado. O imóvel, localizado em Ipanema, tinha um alto custo: aluguel de cerca de R$ 15 mil, condomínio de R$ 5 mil e IPTU em torno de R$ 7 mil, de acordo com reportagem publicada pelo jornal Extra em 2016.>
Outra reportagem, publicada pela revista Veja em janeiro do ano passado, revelou que os filhos do delegado Beltrame chegaram a postar fotos no Facebook a bordo da lancha Manhattan Rio, registrada em nome de Paulo Fernando, em passeio pelas ilhas de Angra dos Reis. As investigações da Calicute demonstraram, mais tarde, que a lancha pertencia, na verdade, a Sérgio Cabral.>
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Preso junto com Cabral em 2016, Paulo Fernando teve a prisão preventiva convertida em domiciliar em janeiro de 2017, após ter firmado um acordo de colaboração premiada com a força-tarefa da Lava-Jato. Quatro meses depois, em depoimento ao juiz Bretas, o empresário e ex-assessor de Cabral afirmou que vendeu metade da Manhattan, avaliada em R$ 5,3 milhões, ao ex-governador. O pagamento, de acordo com ele, foi feito em espécie.>
LARANJA DE CABRAL>
Paulo Fernando confirmou ainda que atuou como laranja do peemedebista, mantendo a titularidade da embarcação no próprio nome, além de pagar o aluguel de uma sala comercial usada pelo ex-governador, no Leblon, e bancar o salário de três funcionários que trabalhavam para Cabral. Paulo Fernando contou que, depois, as despesas eram reembolsadas, sempre em espécie o total, segundo ele, chegou a cerca de R$ 1 milhão.>
Com as revelações de Miranda, Paulo Fernando deverá ser chamado novamente pela força-tarefa da Calicute, para detalhar o esquema de pagamento a José Mariano Beltrame. Procurada cinco vezes entre a tarde e a noite de sexta-feira por O GLOBO, a defesa do empresário Paulo Fernando Magalhães, representada pela Paulo Freitas Ribeiro Advogados Associados, não se manifestou até o fechamento desta edição.>
COMBATE À CORRUPÇÃO>
Em 2007, duas semanas após tomar posse como secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame entregou ao então governador Sérgio Cabral sua declaração de bens, na qual constava uma casa financiada e um carro como patrimônio. E sempre associou sua imagem ao combate à corrupção, especialmente a policial.>
O delator de Beltrame fez um acordo com o Supremo Tribunal Federal que prevê o cumprimento de um total de sete anos de prisão, da seguinte forma: dois anos em regime fechado na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica; dois anos em regime fechado domiciliar; um ano e meio em regime semiaberto em casa; e outro ano e meio em regime aberto, também em casa. Sendo assim, Carlos Miranda sairá da cadeia em 16 de novembro deste ano.>
Enquanto cumpre o regime fechado, Miranda optou por permanecer em Benfica, onde também estão alguns dos delatados nos seus depoimento às autoridades. Além disso, o delator vai pagar uma multa de R$ 4 milhões e perderá todos os bens adquiridos após 2007, início do governo Cabral, incluindo a fazenda Três Irmãos, em Paraíba do Sul.>
OUTRO LADO>
O GLOBO mostrou na sexta-feira que o empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto também aparece como intermediário no pagamento de bônus ao governador Luiz Fernando Pezão, de acordo com a delação de Carlos Miranda, que incluiu em 2013 dois prêmios cada um no valor de R$ 1 milhão, que eram pagos, afirma, a integrantes da organização criminosa em algumas oportunidades. O primeiro bônus, segundo ele, foi repassado em quatro parcelas no escritório de Paulo Fernando, em Ipanema.>
A respeito das acusações de Carlos Miranda, o governador, por meio de nota, afirmou que repudia com veemência essas mentiras. Ele reafirma que jamais recebeu recursos ilícitos e já teve sua vida amplamente investigada pela Polícia Federal.>
Os advogados Daniel Andres Raizman e Fernanda Freixinho, que defendem o delator da Lava-Jato Carlos Miranda, não quiseram comentar as acusações feitas por seu cliente porque a investigação está em sigilo judicial.>
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