> >
Aldo Rebelo: 'A esquerda entrou em guerra e esqueceu o Brasil'

Aldo Rebelo: "A esquerda entrou em guerra e esqueceu o Brasil"

Recém saído do PCdoB, partido em que atuou por 40 anos, o ex-comunista conversou com o Gazeta Online, contou porque se afastou da esquerda.

Publicado em 14 de maio de 2018 às 19:51

Pré-candidato à Presidência da República pelo Solidariedade, o ex-ministro Aldo Rebelo esteve na manhã desta segunda-feira (14) em Vitória para conversar com sindicalistas.

Recém-saído do PCdoB, partido em que atuou por 40 anos, o ex-comunista, que teve também uma passagem-relâmpago pelo PSB, conversou com o Gazeta Online, contou porque se afastou da esquerda, mostrou que tem alguma admiração pela política econômica do presidente dos EUA, Donald Trump, e revelou que ainda tem muita gratidão pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ex-ministro e aliado das administrações petistas, Rebelo afirma que os partidos de esquerda "entraram em uma guerra política” ao defender bandeiras de gênero, de LGBTs e questões raciais, colocando em segundo plano os problemas nacionais, como o desemprego e a desigualdade social.

Há pouco mais de um mês no Solidariedade, Rebelo reconhece as diferenças, ignora a posição do partido no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), admite a articulação com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), e diz que pode ter o democrata como vice em sua chapa nas eleições.

O que levou o senhor a se colocar como candidato?

Esse projeto começou em 2016, quando o PCdoB me convidou para ser candidato. Mas achei que eu e o partido não tínhamos mais uma agenda compatível e me desfiliei. Entrei no PSB, mas havia uma inclinação para uma candidatura do ex-ministro Joaquim Barbosa. Recebi o convite do Solidariedade e me identifiquei com os planos do partido. Há muito debate político, uns querendo defender legado de alguém, outros querendo defender outro, mas ninguém preocupado com o desenvolvimento do país e as desigualdades sociais.

Por que, depois de 40 anos, deixou de se identificar com o PCdoB?

Hoje uma parte da esquerda abandonou a questão nacional. Arrumou uma agenda identitária e politicamente correta, que até defendo, mas que não é a prioritária. A agenda central é a defesa do desenvolvimento, da desigualdade, que está atingindo todo mundo, independentemente da orientação sexual, do gênero e da cor de pele.

O que o fez se afastar?

A segurança, por exemplo. A esquerda não gosta de debater segurança, não valoriza a segurança pública, acha que isso é coisa da ditadura militar, mesmo vivendo a violência que estamos vivendo. Minha agenda é com o país. O Brasil precisa reencontrar a rota do desenvolvimento, essa é a única chave para enfrentar o desemprego, que é a principal mazela social.

O senhor vê erros durante a administração petista, da qual fez parte?

Se o Lula e o PT estivesse bem, eu falaria sobre isso. Nas circunstâncias atuais, não acho correto tecer críticas, até porque teria que falar dos acertos também e foram muitos. O momento não é esse. A agenda é a eleição.

Mas o senhor gostaria do apoio dele (Lula)?

Não só eu, como muitos candidatos. Tenho muita gratidão a Lula.

Acha que foi injusta a prisão dele?

Não concordo com a prisão de Lula, mas quem tem que se preocupar com isso é a equipe jurídica dele. A Lava Jato, por exemplo, acho uma operação positiva. O que não é bom é ver juízes tomarem o lugar da política. Eles não querem combater a corrupção, querem substituir a política. Não existe saída fora da democracia. As forças armadas, com todo seu patriotismo, assumiram e não deu certo. O Ministério Público vai dar certo (na presidência)? Juiz de primeiro grau vai dar certo?

Incomoda seu partido ter apoiado o impeachment da ex-presidente Dilma?

Temos posições diferentes (sobre isso), mas não faço política olhando para trás. Olho para o futuro e vejo o Solidariedade compromissado com as questões que acredito.

Qual é sua avaliação do governo Temer?

O país está estagnado e isso não pode acontecer. Acho que o presidente Temer fracassou e a desigualdade voltou a crescer. Não tem solução mágica. Sem investimento público e privado, o país não volta a crescer. Estamos vendo o déficit fiscal aumentando e vai continuar a aumentar se o país não retomar o crescimento. De que adianta cortar? Vai cortar de onde já não tem? Quando o governo tem confiança, o investimento acontece. Vemos isso em grandes empresas, é só de trocar de executivo, que as ações disparam. No governo é a mesma coisa.

O que pensa em relação às reformas trabalhista e previdenciária?

Quem quer fazer reforma grande, não faz reforma nenhuma. Aprendi isso na presidência da Câmara. Temer apresentou a Reforma da Previdência, tirando direitos do trabalhador rural, e já não vai mais dar certo. Não se pode fazer reforma sem ouvir trabalhadores. A reforma trabalhista só ouviu empresários. Tirou todo o financiamento dos sindicatos, deixou todo financiamento dos empresários. O Sistema S está aí com bilhões e bilhões. O sindicato patronal inaugurando escolas, teatros e cinemas e não sei mais o que, enquanto o sindicato dos trabalhadores mal consegue se manter.

Como o país pode voltar a crescer?

Tem que trazer de volta os investimentos. Você observa os Estados Unidos, por exemplo. O presidente americano baixou os impostos para atrair as empresas americanas de volta, você troca tributos por emprego. Quando você tem emprego, aumenta o consumo e você tem tributos, é uma coisa inteligente. Quem tá empregado, tá consumindo, tá pagando imposto.

Nos bastidores, indicam que o senhor poderia ser vice em uma chapa encabeçada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Como avalia isso?

Tenho recebido convites de pessoas querendo ser nosso vice. Já falei com o Rodrigo Maia. A melhor chapa entre nós, é ele como meu vice. Sou mais velho e mais experiente, mas reconheço que isso não vai ser decidido agora. Ele vai consolidar a candidatura dele e eu vou consolidar a minha. Ninguém quer ser candidato a vice.

E no Espírito Santo, a direção nacional do Solidariedade tem alguma preferência na disputa para governador?

Tenho uma relação boa com a senadora Rose de Freitas (Podemos) e com o governador Paulo Hartung (PMDB). Fui colega de ambos durante a militância estudantil e no Congresso. Fui colega de partido de Casagrande (PSB) até pouco tempo. Acho que as lideranças locais têm autonomia e inteligência para fazer a melhor escolha.

 

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais