> >
Acusado de crime falava em matar Gerson Camata, dizem testemunhas

Acusado de crime falava em matar Gerson Camata, dizem testemunhas

O crime aconteceu no dia 26 de dezembro, na Praia do Canto. Para o Ministério Público Estadual, ao cometer o crime, Marcos Andrade estava "cumprindo a promessa"

Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 02:45

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Gerson Camata foi assassinado no dia 26 de dezembro, na Praia do Canto, em Vitória. (Vitor Jubini | GZ)

Antes de assassinar o ex-governador Gerson Camata (MDB), o ex-assessor dele Marcos Venicio Moreira Andrade, conhecido como Marquinhos, já havia manifestado a pessoas próximas ao político o desejo de matá-lo. É o que consta em depoimentos de duas pessoas ouvidas pela Polícia Civil. Ambas conheciam a vítima e o acusado. Para o Ministério Público Estadual, ao cometer o assassinato, o acusado estava "cumprindo a promessa".

O crime aconteceu no dia 26 de dezembro, na Praia do Canto, Vitória. Marcos Andrade foi preso no mesmo dia, a poucos metros do local do assassinato, e confessou à polícia ter sido o autor do disparo que transfixou o corpo de Camata. O ex-governador morreu antes da chegada do socorro.

Os dois depoimentos, aos quais a reportagem teve acesso, foram prestados no dia 2 de janeiro, na Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa, ao delegado Marcus Vinícius Rodrigues de Souza.

Um dos depoentes era amigo de Gerson Camata há cerca de 50 anos. Ele relatou que, "há mais ou menos seis meses", portanto bem antes do crime, encontrou Marcos Andrade no Centro da Praia Shopping e trocou algumas palavras com ele. Nesse encontro, Marcos teria dito o seguinte: "Você fala para o seu compadre que eu vou matá-lo".

O amigo de Camata, segundo o depoimento, repreendeu o ex-assessor e tentou convencê-lo a não fazer aquilo. Em depoimento, disse, ainda, ter conhecimento de que Marcos "também já teria dito a outras pessoas que mataria Gerson Camata".

O segundo depoimento é de um homem que conhecia o ex-governador há cerca de 30 anos. Ele relatou ao delegado que "sempre que se encontrava com Marcos, ele proferia ofensas contra o ex-governador". "Inclusive, chegou ao ponto de dizer que acabaria com Gerson Camata", disse a testemunha, sem especificar data ou local da conversa.

No depoimento, ele também contou ter levado o episódio ao conhecimento de Camata, que "não levou as ameaças a sério". "Ele estava falando aquilo por estar magoado pelo emprego perdido", teria respondido o ex-governador.

Ambas as testemunhas relataram que os problemas de Marcos com Camata começaram após o ex-assessor perder, em 2005, o cargo de diretor do Banestes Seguros, função que Camata havia articulado para o até então aliado em 2003.

A não intervenção do à época senador para manter Marcos na diretoria teria sido a motivação para que o ex-assessor fizesse uma série de denúncias contra Gerson Camata. Elas foram arquivadas tanto pela Corregedoria do Senado quanto pela Procuradoria-Geral da República.

Camata, então, processou Marcos Andrade por danos morais e, ainda em 2012, obteve uma decisão favorável no primeiro grau da Justiça do Distrito Federal. No ano passado, a Justiça bloqueou cerca de R$ 60 mil nas contas dele. A insatisfação com esse bloqueio teria motivado o crime, segundo a Secretaria estadual de Segurança Pública.

DENÚNCIA

Marcos foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPES) por homicídio qualificado por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, além de porte de arma de uso permitido.

Os dois depoimentos que sugerem um interesse anterior do acusado em tentar algo contra Gerson Camata são citados na denúncia pelo MPES. O órgão ministerial argumenta que o acusado fez a promessa de assassinar o político e a cumpriu.

ADITAMENTO

No último dia 9 de janeiro, o MPES fez um aditamento à denúncia e incluiu uma solicitação de indenização por danos morais e materiais à família da vítima. A reparação também foi pedida pela família de Gerson Camata à Justiça. No mesmo dia, o juiz Marcos Pereira Sanches pediu determinou o envio de ofício à Procuradoria-Geral da República e ao Senado para que encaminhem as decisões de arquivamento das denúncias feitas por Marcos Andrade contra Camata.

ENTENDA O CASO

Gerson Camata foi assassinado na Praia do Canto. (Marcelo Prest)

Gerson Camata

Político

Foi o primeiro governador do ES na redemocratização. Eleito em 1982, governou de 1983 a 1986. Também foi vereador, constituinte, deputado estadual e senador.

O crime

De dia

Camata morava na Ilha do Frade, Vitória, mas sempre ia à Praia do Canto. No dia 26 de dezembro, estava neste bairro e, pouco após deixar uma padaria que costumava frequentar, foi abordado por Marcos Venicio Moreira Andrade, que foi seu assessor por cerca de 20 anos.

Um único tiro

Marcos Andrade, o Marquinhos, comprou a arma legalmente. Tinha o registro de posse do equipamento, mas o documento estava vencido. Ele deu um tiro em Camata. O projétil entrou pelo ombro esquerdo e transfixou o corpo do ex-governador, que morreu antes da chegada do socorro.

Conversa

Segundo o MPES, Marcos cometeu o crime logo após a abordagem. Teria perguntado se o ex-chefe "pagaria o que estava devendo". O político teria dito apenas "procura meu advogado que isto eu não vou tratar com você". "Em dado momento, inesperadamente", o denunciado sacou a arma, efetuou o disparo e saiu do local dos fatos a pé", narra denúncia.

Processo

Indenização

Em meados dos anos 2000, Camata e Marquinhos romperam uma relação de confiança iniciada ainda no início da década de 1980. O ex-assessor fez denúncias contra Camata que acabaram arquivadas e, mais tarde, fizeram com que a Justiça obrigasse o ex-assessor a indenizar o político em R$ 50 mil.

O OUTRO LADO

Marcos Venicio Moreira Andrade, 66 anos, preso pela morte de Camata. (Divulgação | Polícia Civil)

A defesa Marcos Andrade, o Marquinhos, preferiu não comentar, nesta segunda-feira (14), os depoimentos obtidos pela reportagem. Em nota do dia 7 de janeiro, três dias após a prisão, os advogados externaram "tristeza e arrependimento" do acusado e pediram um "julgamento justo" e "sem sensacionalismo" para que sejam resguardados direitos e garantias constitucionais.

 

A defesa contou, também, que a demissão de Marquinhos do Banestes foi acompanhada da perda de um amigo que "considerava como irmão", em referência a Gerson Camata. "A dor profunda e o sentimento de abandono o abateram, dando início a um verdadeiro calvário. Marcos entrou em depressão profunda entre os anos de 2006-2009, quando fez as primeiras denúncias relacionadas a Camata", dizia a nota.

Este vídeo pode te interessar

Os advogados pediram compreensão sobre essa "linha histórica". "Para análise adequada do fato, é fundamental que se respeite e entenda a linha histórica dos fatos narrados. O que se clama agora é por um julgamento justo, por um inquérito decente, em que o sensacionalismo e o clamor popular não tenham espaço".

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais