Publicado em 22 de julho de 2019 às 13:25
- Atualizado há 6 anos
Principal aposta de Sérgio Moro como ministro da Justiça, o seu pacote anticrime apresentado em fevereiro pouco avançou na Câmara. O relator do projeto no grupo criado para analisar a proposta, deputado Capitão Augusto (PL-SP), tem o seu diagnóstico: há uma "má vontade" dos parlamentares com as medidas do ex-juiz da Lava Jato. "Sabemos que há pessoas publicamente contrárias ao Moro e à Lava Jato", afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo.>
Augusto, que coordena a Frente da Segurança Pública na Câmara, a chamada "bancada da bala", apresentou seu relatório de 200 páginas no mês passado sem mudar uma linha do que propõe Moro. Ao levar o texto ao grupo de trabalho que analisa a proposta, porém, enfrentou resistência dos colegas, que fatiaram o pacote em 16 temas. Na primeira votação, que tratava da prisão após condenação em segunda instância, foi derrotado.>
O plano inicial era que o grupo já tivesse um parecer sobre as propostas prontas no início de junho. Agora, a previsão é que a análise demore pelo menos mais dois meses. "Parece que é uma espécie de sabotagem. Eles (deputados) estão protelando. Sabotagem talvez não seja a palavra porque é um termo muito pesado, mas há de fato uma má vontade da comissão em avançar de maneira mais célere a questão", disse.>
Por que após mais de quatro meses o grupo de trabalho da Câmara ainda não votou o pacote anticrime?>
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A gente sabia que o tema era polêmico, complexo. Mas tínhamos a expectativa de terminar e cumprir o prazo dado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, de concluir em 90 dias a partir de fevereiro. Porém, já passaram os 90 dias, houve uma prorrogação de 30 dias e, na semana passada, houve mais um pedido de 30 dias, ficando para o dia 16 de agosto.>
Mas por que esse atraso?>
Foi feito um fatiamento do relatório e teve um pedido da oposição para analisar a proposta em 16 pontos ou temas. Concordei porque entendi, no primeiro momento, que retirando esses 16 pontos que vão desde a prisão após condenação em 2.ª instância ao excludente de ilicitude (que livraria de punição o policial que, em situações de confronto, reagir e matar alguém), o resto estaria automaticamente aprovado, havia consenso. E na última reunião vimos que não era nada disso. Eles querem discutir os 16 pontos e querem retomar ponto a ponto o restante inteiro da proposta.>
O sr. sente que há uma resistência em relação à proposta?>
O problema é a questão de tempo. Parece que é uma espécie de sabotagem. Eles estão protelando. Sabotagem talvez não seja a palavra porque é um termo muito pesado, mas há de fato uma má vontade da comissão em avançar de maneira mais célere a questão. A gente sabe que a questão jurídica é complexa e, aí, você agrega o componente político e jamais vamos conseguir chegar a qualquer tipo de acordo para apresentar esse relatório.>
E por qual motivo há essa má vontade?>
É difícil saber o que cada um pensa. Sabemos que há ali pessoas publicamente contrárias ao Moro e à Lava Jato. Há outros que são contra a alguns dos pontos do pacote. Somados, são maioria dentro do grupo.>
O sr. se sente isolado dentro do grupo de trabalho?>
Sinto que somos minoria em apoio ao pacote. Dentre os 16 membros, sinto que somos uma minoria em favor da proposta do ministro Sérgio Moro.>
O sr. acha que vai conseguir votar a proposta?>
O relatório está muito cru ainda. Não sei se dá tempo com a atual forma de condução da matéria. Não analisamos nem 5% de todo o conteúdo que foi apresentado e isso está nos causando uma imensa preocupação. Temos de estabelecer um critério claro de como vamos apresentar a relatoria. A proposta de analisarmos ponto a ponto não está funcionando. Pedi à coordenadora, deputada federal Margareth Coelho (PP-PI), que reveja essa decisão. Se não, vamos demorar ainda uns meses para finalizar a discussão da proposta.>
Quais seriam os pontos do pacote com maior resistência dentro do grupo de trabalho que, se retirados, poderiam desconfigurar a proposta de Moro?>
O principal era a questão da prisão em segunda instância, que já perdemos. Há outros que, se caírem, como o perdimento de bens após a condenação, desconfigurariam toda a ideia do combate à corrupção.>
O sr. acredita que pode reverter essas derrotas?>
Dificilmente. Estou preocupado. Não há uma segurança que ao término tenhamos um relatório consistente para levar à frente a discussão. O presidente da Câmara ainda não disse se vai colocar esse relatório para votar ou não. Se ele resolver criar uma comissão, pode demorar ainda mais tempo para aprovar essa proposta.>
Mas o grupo de trabalho não foi criado para dar celeridade a essa discussão?>
Eu tinha sugerido, quando foi criada essa comissão, que fizéssemos a proposta em 30 dias, mas fui derrotado.>
Qual vai ser sua estratégia?>
Agora é melhor levar direto ao plenário da Câmara. No plenário, o pacote tem ampla maioria. Temos maioria folgada e absoluta. Grande parte dos parlamentares foram eleitos por bandeiras que estão explicitadas no relatório, como o combate à corrupção e a questão de segurança pública.>
Então, o ministro pode ficar tranquilo em relação à votação no plenário?>
Não. Precisamos ter um relator no plenário alinhado com este pacote.>
Quem?>
Eu vou pleitear a relatoria também no plenário da Câmara.>
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