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Médica que fez parto em grávida baleada lamenta morte de bebê

Médica que fez parto em grávida baleada lamenta morte de bebê

Para a profissional, é frustrante ver duas vidas ceifadas pela violência

Publicado em 16 de agosto de 2018 às 01:01

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Momento em que Laura era transferida de hospital após parto de emergência. (Fernando Madeira | GZ)

Um dia comum no plantão de emergência já é naturalmente turbulento para médica cirurgiã Diandria Margotto Bertollo, de 44 anos. Mas na última terça-feira (14) a emoção superou todas as expectativas. Ela foi uma das responsáveis por fazer o parto de urgência da jovem Pâmela Soares, de 23 anos, morta após ser vítima de bala perdida dentro de casa, em Gurigica, Vitória. O bebê chegou a ser retirado com vida, mas morreu na tarde desta quarta-feira (15), enquanto o corpo da mãe era enterrado. Para a profissional, é frustrante ver duas vidas ceifadas pela violência.

De acordo com Diandria —  que atua como médica cirurgiã há cerca de 20 anos no atendimento de emergência —  mesmo acostumada a presenciar todo tipo de urgência, foi um dos mais emocionantes  casos em que já atuou.

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Sempre atendemos casos extremos, mas não deixamos de ser humanos. Esse foi o parto de emergência mais emocionante da minha vida médica, pois nunca havia feito um parto de urgência em condições tão tristes. Choca ver uma moça tão jovem vítima da violência e ainda grávida. Quando chegou, houve uma grande mobilização de toda a equipe médica para salvá-la

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A MORTE

Pâmela não resistiu ao ferimento de bala e, para Diandria, ficou o sentimento de frustração, mesmo que tenha feito tudo que podia para salvar a vida da moça.

Pâmela Soares, grávida que morreu baleada dentro de casa, em Gurigica, Vitória. (Facebook)

A partir daí, surgiu o segundo desafio: checar se o bebê que a jovem esperava, a quem chamaria de Laura, tinha batimento cardíaco fetal.

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Assim que constatamos a morte da mãe, chamamos imediatamente os médicos de ultrassom e radiologia para averiguar as chances do bebê, que nesse contexto, era mínima. Ao constatarmos que ainda existia batimentos cardíacos, fizemos o parto de emergência. Não lembro o tempo, mas a cirurgia durou alguns minutos. Mas era um quadro grave. Quando tiramos o bebê, ele estava parado. Fizemos manobras de reanimação. Uma equipe inteira de médicos, enfermeiros e anestesistas, todos voltados para aquela missão. Foi muito emocionante vê-la reanimar

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Mas a médica explica que uma criança prematura requer muitos cuidados. No caso de Laura, que perdeu a mãe enquanto ainda estava na barriga, a situação era ainda mais grave. A menina teve duas paradas cardíacas.

EMOÇÃO

(Fernando Madeira | GZ)

A médica conta que naquele dia saiu do hospital com um misto de sentimentos: tristeza pela morte de Pâmela e felicidade em ver Laura ainda viva. Ela conta que mesmo após anos de estudos e preparação para enfrentar esse tipo de situação, é impossível não se emocionar. Ao entrar no carro para ir para casa, ela desabou e chorou sozinha.

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Estamos nos hospitais por 24 horas, sem feriados ou fins de semana para realizar um trabalho que é muito importante, mas é anônimo. Pouca gente sabe o quanto é difícil. Lutamos até o fim pela vida de qualquer ser humano, seja em casos graves ou não. Tenho certeza que todos os profissionais saíram dessa cirurgia com um grande aprendizado, como sempre. Com aquela sensação de lutamos até o fim e assim que tem que ser. Mas quando entrei no carro para ir embora eu não consegui conter a emoção e chorei ali mesmo. Eu nunca vou esquecer esse dia

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TRISTEZA

Ao saber nesta quarta-feira que a pequena Laura não resistiu, Diandria lamentou profundamente.

“Quando a gente faz medicina quer salvar vidas e dar bem estar. Infelizmente nem sempre a gente consegue. Fica uma frustração. A gente gostaria de ouvir que a criança sobreviveu, que ela seria a luz dessa família que já perdeu um ente querido. Ficamos tristes, lamentamos muito, mas eu digo de todo o meu coração que nós tentamos o que podíamos”, lamentou.

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É muito triste ver duas vidas ceifadas ao mesmo tempo pela violência. Principalmente tratando-se de um bebê que ainda estava na barriga da mãe

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“Choca ver um bebê ainda na barriga sendo vítima de violência. Não estamos habituados a esse tipo de situação. É uma perda de valores, famílias inteiras morando em áreas de risco, onde falta de tudo, inclusive segurança. A própria Pâmela já havia mostrado desejo de ir para um lugar mais seguro. Isso me deixa ainda mais arrasada", finalizou a médica. 

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