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Justiça começa a analisar caso de jovem baleado por PM em Vila Velha

Justiça começa a analisar caso de jovem baleado por PM em Vila Velha

PM afirma que houve um desentendimento no trânsito. Já estudante, que ficou paraplégico, afirma que foi baleado pelas costas sem qualquer motivação

Publicado em 21 de outubro de 2019 às 13:26

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Caio Rodriguez de Oliveira, baleado por policial na Rodovia do Sol. (Marcelo Prest)

Sete meses após o policial militar Alex Lopes Neves atirar no universitário Caio Rodriguez de Oliveira, de 24 anos, na Rodovia do Sol, em Vila Velha, teve início a audiência de instrução do caso, onde vítima, testemunhas e acusado foram ouvidos.  O policial afirma que houve um desentendimento no trânsito. Já o estudante, que ficou paraplégico, afirma que foi baleado pelas costas sem qualquer motivação. 

A AUDIÊNCIA

Na última quarta-feira (16) teve início a audiência de instrução. O advogado de Caio, João Gueini, explicou que testemunhas, vítima e acusados foram ouvidos. Nessa fase, o juiz analisa se o processo criminal passará pelo procedimento comum, quando o próprio juiz julga o caso, ou se irá para a decisão do juri popular.  

"Para que o crime seja julgado pelo tribunal de juri há um requisito: que o crime contra a vida seja doloso, com intenção de matar. A audiência de quarta-feira (16) foi para fornecer elementos e informações para que o juiz faça a decisão de pronuncia. Agora falta o Ministério Público apresentar as alegações finais, além da defesa acusado. Mas acredito que tudo está encaminhando para o tribunal de juri", acredita.

Já o advogado de Alex, Alexandre Cruz Hegner, afirmou que o policial militar não teve intenção de matar e está arrependido. O profissional fez um requerimento à Rodosol e ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-ES) para conseguir as imagens do dia do ocorrido. 

Aspas de citação

Estamos aguardando essas imagens para depois fazermos as alegações finais. Quero deixar bem claro que o Alex está muito arrependido. Em nenhum momento ele se vangloria do que fez. Ele sabe suas responsabilidades e quer ser jugado pelo crime que cometeu. Só não pode responder por algo que não fez. A gente entende que não houve crime de tentativa de homicídio e, sim, lesão corporal. O desejo do Alex é que Caio volte a andar

Alexandre Cruz Hegner
Advogado do PM
Aspas de citação

INDENIZAÇÃO

A defesa do universitário conta que pretende abrir um processo cível contra o Estado. O advogado João Gueini defende que houve omissão e negligência do Estado na fiscalização do estado mental e aptidão técnica do policial militar. 

"O próprio policial admitiu, no interrogatório feito na polícia e também na audiência, que enfrentou problemas psiquiátricos dentro da polícia, somado a problemas financeiros, tendo pedindo afastamento com médico psiquiátrico. Ele afirma categoricamente que o Estado não prestou assistência psiquiátrica a ele. Além disso, ele contou que tinha acabado de brigar com a esposa e estava indo pra casa da irmã dele, levando mudas de roupas, quando tudo aconteceu. O próprio Alex disse que agiu em um momento de euforia".

Mas o advogado do PM nega que o policial tenha apresentado problemas psiquiátricos enquanto estava na Polícia Militar. Alexandre Cruz Hegner afirma que o atestado em questão era ortopédico, devido uma dor nas costas.  

"Essas alegações são uma forma de conseguir ressarcimento cível. Meu cliente não tinha problemas psiquiátricos e problemas financeiros todo mundo tem. Não foi por conta disso que o crime ocorreu. Quando ele fala que estava eufórico, não era por conta da discussão com a esposa - que foi por um motivo bobo, uma briga normal, que não influenciou no crime. Ele estava eufórico pela situação de ter sido fechado pelo carro e achar que o motorista estava armado", alegou. 

O CASO

Em depoimento, a vítima contou à Polícia Civil que saiu da Praia da Costa, onde mora, dirigindo um Volkswagen Voyage no dia 30 de março deste ano. No veículo, estavam o jovem e o cachorro dele. O universitário seguia para a casa de um amigo no bairro Ponta da Fruta, no mesmo município. Ele contou, ainda, que parou no semáforo. Neste momento, o PM emparelhou uma moto vermelha com o carro dele e, sem falar nada, já apontou uma arma. O jovem informou que ficou assustado e acelerou com o carro. Nisso, o policial atirou.

Na época, o titular da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Alan de Andrade, informou que, de acordo com o PM, tudo começou quando o universitário deu uma fechada na moto em que o policial pilotava.

O tiro passou pela porta do veículo e atingiu as costas da vítima. O rapaz perdeu o controle da direção e foi parar dentro de um matagal no acostamento da pista, às margens da Rodovia do Sol. O autor do tiro fugiu do local. Até então, a polícia e a vítima não sabiam que se tratava de um PM.  A Polícia Civil só descobriu porque analisou imagens das câmeras do sistema de videomonitoramento, que fica na Rodovia do Sol.

"Após essa fechada, segundo o policial, ele foi seguindo normalmente quando parou no semáforo. Os dois começaram a discutir, um xingou o outro, o policial disse que a vítima falou: 'Você sabe com quem está falando?' E, neste momento, o PM diz que a vítima fez um movimento, dando a entender que pegaria algum objeto debaixo do banco. E foi neste momento que o PM fez o disparo", informou, na ocasião. 

Depois do disparo, Alex Lopes foi para a casa de familiares e lá ficou. Quando retornou para o Batalhão da PM no qual é lotado, no dia 3 de abril, foi dada a voz de prisão ao militar pelos próprios policiais da Corregedoria da corporação.

OUTRO LADO

Procurada para manifestar-se sobre a afirmação da defesa do universitário, que pretende abrir um processo cível contra o Estado por omissão e negligência na fiscalização do estado mental e aptidão técnica do policial militar antes do dia do crime, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou, por nota, que não houve omissão após o caso. Porém não respondeu sobre as acusações de omissão e descaso antes do fato.

"A Sesp lamenta o episódio ocorrido e ressalta que desde o momento em que um policial militar foi identificado como suspeito do crime não houve qualquer omissão por parte do Estado nas investigações. O inquérito já foi concluído e encaminhado ao Ministério Público. O militar se encontra preso, aguardando julgamento na Justiça comum, e ainda responde por procedimento administrativo. Respeitamos a dor da família e o direito de ingressar com ação judicial, para que todos os fatos sejam esclarecidos", informou a nota. 

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