Sete meses após o policial militar Alex Lopes Neves atirar no universitário Caio Rodriguez de Oliveira, de 24 anos, na Rodovia do Sol, em Vila Velha, teve início a audiência de instrução do caso, onde vítima, testemunhas e acusado foram ouvidos. O policial afirma que houve um desentendimento no trânsito. Já o estudante, que ficou paraplégico, afirma que foi baleado pelas costas sem qualquer motivação.
Na última quarta-feira (16) teve início a audiência de instrução. O advogado de Caio, João Gueini, explicou que testemunhas, vítima e acusados foram ouvidos. Nessa fase, o juiz analisa se o processo criminal passará pelo procedimento comum, quando o próprio juiz julga o caso, ou se irá para a decisão do juri popular.
"Para que o crime seja julgado pelo tribunal de juri há um requisito: que o crime contra a vida seja doloso, com intenção de matar. A audiência de quarta-feira (16) foi para fornecer elementos e informações para que o juiz faça a decisão de pronuncia. Agora falta o Ministério Público apresentar as alegações finais, além da defesa acusado. Mas acredito que tudo está encaminhando para o tribunal de juri", acredita.
Já o advogado de Alex, Alexandre Cruz Hegner, afirmou que o policial militar não teve intenção de matar e está arrependido. O profissional fez um requerimento à Rodosol e ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER-ES) para conseguir as imagens do dia do ocorrido.
A defesa do universitário conta que pretende abrir um processo cível contra o Estado. O advogado João Gueini defende que houve omissão e negligência do Estado na fiscalização do estado mental e aptidão técnica do policial militar.
"O próprio policial admitiu, no interrogatório feito na polícia e também na audiência, que enfrentou problemas psiquiátricos dentro da polícia, somado a problemas financeiros, tendo pedindo afastamento com médico psiquiátrico. Ele afirma categoricamente que o Estado não prestou assistência psiquiátrica a ele. Além disso, ele contou que tinha acabado de brigar com a esposa e estava indo pra casa da irmã dele, levando mudas de roupas, quando tudo aconteceu. O próprio Alex disse que agiu em um momento de euforia".
Mas o advogado do PM nega que o policial tenha apresentado problemas psiquiátricos enquanto estava na Polícia Militar. Alexandre Cruz Hegner afirma que o atestado em questão era ortopédico, devido uma dor nas costas.
"Essas alegações são uma forma de conseguir ressarcimento cível. Meu cliente não tinha problemas psiquiátricos e problemas financeiros todo mundo tem. Não foi por conta disso que o crime ocorreu. Quando ele fala que estava eufórico, não era por conta da discussão com a esposa - que foi por um motivo bobo, uma briga normal, que não influenciou no crime. Ele estava eufórico pela situação de ter sido fechado pelo carro e achar que o motorista estava armado", alegou.
Em depoimento, a vítima contou à Polícia Civil que saiu da Praia da Costa, onde mora, dirigindo um Volkswagen Voyage no dia 30 de março deste ano. No veículo, estavam o jovem e o cachorro dele. O universitário seguia para a casa de um amigo no bairro Ponta da Fruta, no mesmo município. Ele contou, ainda, que parou no semáforo. Neste momento, o PM emparelhou uma moto vermelha com o carro dele e, sem falar nada, já apontou uma arma. O jovem informou que ficou assustado e acelerou com o carro. Nisso, o policial atirou.
Na época, o titular da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Alan de Andrade, informou que, de acordo com o PM, tudo começou quando o universitário deu uma fechada na moto em que o policial pilotava.
O tiro passou pela porta do veículo e atingiu as costas da vítima. O rapaz perdeu o controle da direção e foi parar dentro de um matagal no acostamento da pista, às margens da Rodovia do Sol. O autor do tiro fugiu do local. Até então, a polícia e a vítima não sabiam que se tratava de um PM. A Polícia Civil só descobriu porque analisou imagens das câmeras do sistema de videomonitoramento, que fica na Rodovia do Sol.
"Após essa fechada, segundo o policial, ele foi seguindo normalmente quando parou no semáforo. Os dois começaram a discutir, um xingou o outro, o policial disse que a vítima falou: 'Você sabe com quem está falando?' E, neste momento, o PM diz que a vítima fez um movimento, dando a entender que pegaria algum objeto debaixo do banco. E foi neste momento que o PM fez o disparo", informou, na ocasião.
Depois do disparo, Alex Lopes foi para a casa de familiares e lá ficou. Quando retornou para o Batalhão da PM no qual é lotado, no dia 3 de abril, foi dada a voz de prisão ao militar pelos próprios policiais da Corregedoria da corporação.
Procurada para manifestar-se sobre a afirmação da defesa do universitário, que pretende abrir um processo cível contra o Estado por omissão e negligência na fiscalização do estado mental e aptidão técnica do policial militar antes do dia do crime, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou, por nota, que não houve omissão após o caso. Porém não respondeu sobre as acusações de omissão e descaso antes do fato.
"A Sesp lamenta o episódio ocorrido e ressalta que desde o momento em que um policial militar foi identificado como suspeito do crime não houve qualquer omissão por parte do Estado nas investigações. O inquérito já foi concluído e encaminhado ao Ministério Público. O militar se encontra preso, aguardando julgamento na Justiça comum, e ainda responde por procedimento administrativo. Respeitamos a dor da família e o direito de ingressar com ação judicial, para que todos os fatos sejam esclarecidos", informou a nota.
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