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Confrontos entre bandidos e polícia aumentaram 33% em um ano no ES

Confrontos entre bandidos e polícia aumentaram 33% em um ano no ES

Foram 552 ocorrências em 2017, contra 416 em 2016. Comandante da PM diz que criminosos estão "mais ousados"

Publicado em 4 de abril de 2018 às 21:57

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Ação policial no bairro Central Carapina, na Serra, terminou com um morto e viaturas apedrejadas. (Fernando Madeira)

Cada vez mais frequentes, os confrontos armados de bandidos com a polícia e também entre grupos rivais têm deixado comunidades inteiras assustadas com o crescimento da violência e a incapacidade de exercer direitos básicos, como ir para a escola, ter a moradia respeitada e, especialmente, preservar sua vida. Um dia é Central Carapina, na Serra, em outro a Piedade, em Vitória e, no mais recente, a região entre Presidente Médici e Porto Novo, em Cariacica. De 2016 para 2017, houve um aumento de 33% nas ações de enfrentamento no Estado, foram 552 ocorrências no ano passado e 416 no anterior.

O próprio comandante da Polícia Militar, coronel Nylton Rodrigues, reconhece: “Os bandidos estão mais ousados.” No conflito da última segunda-feira, entre os bairros Porto Novo e Presidente Médici, a jovem Karolaine do Rosário Mattos, 18, foi vítima de bala perdida e morreu na tarde de terça, deixando um bebê de apenas um mês. Ontem, moradores da região ainda demonstravam medo, ônibus só voltaram a circular em determinadas áreas com escolta policial, escolas e parte do comércio mantiveram-se fechadas.

Para o comandante da PM, os confrontos com os bandidos têm sido comuns pelo fato de os policiais estarem mais atuantes.

“Estamos justamente nessas comunidades verificando situações suspeitas, fazendo abordagens, como aconteceu em Cariacica. Lá, nossos policiais se depararam com quatro motos, sem ninguém por perto. Eles desceram da viatura e foram fazer a averiguação a pé na região”, lembra.

Ao flagrar os bandidos no matagal, manuseando drogas, houve a troca de tiros. “A PM está dentro dos bairros, está abordando, fazendo pontos de bloqueio e, muitas vezes, nessa ação a gente surpreende o criminoso e ele reage”, acrescenta o comandante.

Mesmo se fazendo presente, o coronel afirma que a polícia vê os criminosos mais desafiadores. “Estamos percebendo, sim, uma ousadia, um enfrentamento, principalmente por parte dos menores de idade. Eles agem de forma inconsequente e enfrentam a polícia. A gente vem observando o aumento da agressividade em nossas ocorrências rotineiras.”

Na avaliação do comandante, há um grande problema na legislação porque os criminosos, muitos reincidentes, não ficam presos. “O porte ilegal de armas, por exemplo. O indivíduo já tem passagem, é preso com arma, a gente sabe que ele iria praticar crime, mas só vai ser autuado por porte. Paga uma fiança e está na rua. A legislação tem que endurecer para ter efeito prático de redução nos indicadores criminais e manter aquele indivíduo que é perigoso para a sociedade na cadeia.”

ANÁLISE

Ação de controle de território

"Quando policiais são recebidos a tiros, isso demonstra que há um controle territorial de grupos criminosos. Eles reagem para dar tempo de esconder drogas, armas e tentar escapar. Não tenho conhecimento preciso sobre a situação do Espírito Santo, mas esse tipo de ação está vinculada ao controle territorial. O Rio de Janeiro tem um cenário complexo e é difícil dar receitas para não se chegar a esse ponto. Mas podemos falar em programas de prevenção social para a juventude, controle de armamentos, melhorar as investigações policiais e a taxa de solução para os crimes. É um conjunto amplo de medidas que inclui também repensar as operações policiais. Chegar em um local para trocar tiros é um péssimo negócio, ainda mais se o criminoso domina a região. É preciso pensar em recuperar esse controle. No Rio, temos essa política de confronto que é ineficaz e gera vítimas dos dois lados. De forma geral, é muito mais importante o investimento em investigação do que a política da militarização.”

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Ignacio Cano sociólogo e coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj)

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