A Polícia Civil investiga áudios de recados enviados por traficantes para policiais. Nas mensagens, capturadas pelo radiocomunicador de um criminoso que havia acabado de ser preso, os bandidos pedem trégua à polícia, lamentam o salário que os PMs recebem e afirmam que as operações não resultam nas prisões dos líderes das organizações criminosas.
Embora os áudios tenham sido compartilhados nas redes sociais com a informação de que os criminosos invadiram a frequência dos rádios da polícia, o delegado Henrique Vidigal, da Divisão Especializada de Repressão aos Crimes Contra o Patrimônio, explicou que os recados foram enviados a um radiocomunicador apreendido durante a operação da última segunda-feira (13), no Complexo da Penha, em Vitória.
"Os policiais, ao realizarem uma prisão, apreenderam com o detido um radiocomunicador. Sempre que a gente apreende alguém com rádio, recolhemos o aparelho para acompanhar a frequência e a movimentação no morro. Eu só escutei os áudios agora pouco, mas pelo que ouvi, me pareceu que as mensagens que os criminosos enviaram eram destinadas à guarnição da PM", afirmou o delegado.
Vidigal explicou que é improvável que criminosos consigam invadir a frequência de rádio da polícia, que funciona de forma digital, através de ondas de rádio e com sistema criptografado. Já o radiocomunicador utilizado pelos criminosos é estilo walk talk, comercializado até mesmo como um brinquedo infantil.
Os três áudios que estão sendo compartilhados têm duração total de 3 minutos e 23 segundos. Vocês fica entrando na nossa frequência. Em momento algum nós vamos desrespeitar o espaço de vocês não, pô! Vocês que têm que respeitar o nosso espaço. Entrar na frequência, falando um monte de m..., tá ligado? Vocês sabem, pô! 'Nóis' sabe que vocês estão na nossa frequência. Só, escuta, pô! Faz o trabalho de vocês na moral, diz um dos trechos da gravação.
A reportagem fez a transcrição dos áudios. Os erros de gramática e as gírias foram mantidas.
"O SALÁRIO DE VOCÊS...MIXARIA"
"TESTANDO NOSSA FÉ"
"NÓIS METE BALA, NÓIS MATA"
* Não há registros recentes de mortes em confrontos com a polícia na região de São Benedito, conforme falado pelos criminosos no áudio acima
PARA POLÍCIA, ÁUDIOS MOSTRAM DESESPERO
Para o delegado Henrique Vidigal, da Divisão Especializada de Repressão aos Crimes Contra o Patrimônio, as mensagens mostram mais desespero do que ousadia. Indagado sobre as ameaças e frases em tom de ironia, como chamar o salário da polícia de "mixaria" e afirmar que os policiais não conseguem prender os grandes líderes das organizações criminosas, o delegado avaliou que as mensagens mostram o medo dos bandidos com a presença policial.
O delegado completou que é a primeira vez que tem conhecimento de ameaças enviadas à polícia através de radiocomunicadores.
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